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Sinopse

De férias com seus amigos numa bela casa de campo nos arredores de Buenos Aires, Fernando embarca na onda confessional dos amigos que estão esperando apenas uma oportunidade para se abrir.

Crítica

Taekwondo é uma arte marcial coreana de contato, resistência e força. Estas características também definem o drama codirigido pelos argentinos Marco Berger e Martín Farina, nomeado a partir do esporte mesmo sem apresentar uma relação direta com ele. O contato aparece constante entre os códigos que definem a relação dos vários amigos que dividem uma casa de campo durante suas férias de verão. A resistência é exercida por pelo menos um deles, Germán (Gabriel Epstein), que reprime um interesse romântico e sexual pelo amigo Fernando (Lucas Papa), uma vez que não sabe se seria correspondido. A força está no todo: eis um drama contemporâneo essencialmente masculino, erótico e envolvente como poucos de seus congêneres.

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Germán e Fernando caminham lentamente para a casa na qual dividirão seus próximos dias com Leo, Lucho, Maxi, Fede, Tomás, Juan e Diego. Antes um SPA, o lugar agora serve de refúgio para este grupo de jovens adultos, todos viris e musculares, que desfilam sempre sem camisa, calças e, algumas vezes, até mesmo sem roupas de baixo. Entre jogos na quadra de futebol e tênis, incursões pela piscina ou sauna, os rapazes bebem, fumam e falam muito, geralmente sobre esporte, festas, mulheres e sexo.

Berger e Farina fazem um cinema de texturas masculinas, com tantos enquadramentos que são constante e exclusivamente compostos por pele, músculos, pelos e testosterona. Não há pudor em seu retrato, repleto de homoerotismo enquanto exploram a cada um dos corpos de seus atores – estes em total conivência com o jogo proposto entre cineastas e espectadores, que podem ficar excitados ou enfastiados, porém jamais indiferentes ao que se vê em tela. Berger já havia demonstrado tais domínios em Havaí (2013) e Ausente (2011), e Farina foi até premiado pelo documentário de temática semelhante Fulboy (2015), sua estreia na condução de longas-metragens. O encontro dos realizadores não poderia ser mais louvável, suas pretensões e questionamentos são semelhantes na busca de ambos pela desconstrução dos códigos e valores das relações entre homens – sejam estas quais forem.

Neste microcosmo do universo masculino heterossexual, tão repleto de machismo e superficialidades, Taekwondo retrata a amizade entre estereótipos do hétero branco, cis e de classe mais abastada e subverte esta relação ao inserir este elemento “estranho”, Germán, que aos poucos transforma a atmosfera inabalável do grupo. Até que isso aconteça, no entanto, sua presença é retratada sempre com tensão: seus olhares furtivos desnudam aqueles ao seu redor, sua excitação é palpável cada vez que ele compartilha uma chuveirada ou cama com o objeto de seu afeto, Fernando.

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Talvez Taekwondo se prolongue um pouco mais do que deveria, tornando-se por vezes cíclico e cansativo, porém ele se renova enquanto se aproxima do inevitável encerramento. Fassbinder, Pasolini e Claire Denis assistiriam ao novo filme de Marco Berger e Martín Farina excitadíssimos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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Conrado Heoli
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