Havaí
Crítica
Leitores
Sinopse
Eugenio passa o verão cuidando da casa de campo dos tios – que já pertenceu a ele – em busca de inspiração para um roteiro que está escrevendo. Já Martín está desempregado, e por isso se candidata a cuidar da casa e a consertar tudo que for necessário. Ambos foram grandes amigos na infância, mas não se veem desde então. A relação é restabelecida na base da omissão: Martín não revela que está sem lugar para morar, e Eugenio de início disfarça seu interesse no amigo. Entre muitas conversas sobre o passado e o futuro, rolam flertes furtivos e abraços emocionados.
Crítica
Existe algo de extraordinário no novo filme de Marco Berger, Havaí, que o difere dos demais dramas românticos realizados na Argentina ou em qualquer outro país no cinema recente. Não é o fato de se tratar de uma história de amor entre dois homens ou até mesmo de uma história de amor original; a qualidade singular de Havaí está no retrato do surgimento do amor a partir de uma perspectiva calma, tocante e até mesmo pueril.
Havaí explora num longo prólogo sem diálogos a situação na qual que se encontram seus dois protagonistas, que guiarão o filme até o fim. Martín procura um trabalho de verão enquanto esconde o fato de não ter um teto para morar. Eugênio escreve um romance enquanto cuida da casa dos tios e aproveita momentos de lazer e introspecção. O encontro dos dois revela uma amizade que havia ficado na infância, algumas pequenas afinidades e um mútuo interesse tão enigmático quanto irresistível.
O silêncio permeia todo o desenvolvimento de Havaí. Seus protagonistas trocam palavras de pouca relevância, porém a inquietude de ambos revela tudo o que é suprimido pela ausência de diálogos. Assim, muita da responsabilidade do êxito dos personagens recai sobre os ótimos atores Manuel Vignau e Mateo Chiarino, que em simples gestos e olhares transbordam em tensão sexual. Compassados por uma câmera lenta e voyeurística, Martín e Eugênio trocam toques furtivos e, numa admiração complacente, parecem não entender o que nasce entre eles.
A amizade crescente e as brincadeiras de infância redescobertas dão espaço para jogos mais íntimos. Determinados momentos simbólicos, como Eugênio escondido observando a nudez de Martín e este último sentindo o coração acelerado de Eugênio após uma corrida, possuem uma significância grandiosa, se considerarmos a relação velada de ambos. Marco Berger, roteirista, diretor e montador do filme, desenvolve calmamente os diferentes sentimentos que pontuam a conexão entre seus protagonistas. Ao evitar a rapidez e superficialidade que marca o início de muitas relações contemporâneas, Berger cativa seu espectador e o tenciona a torcer pelo inevitável romance entre Martín e Eugênio.
Berger possui reverenciado domínio na representação de relações amorosas, sejam elas inusitadas, como em Plano B (2009), ou impossíveis, como em Ausente (2011) – filme vencedor do prestigiado Teddy, no Festival de Berlim. Também é recorrente ao cineasta o registro da masculinidade em planos reveladores; sua fascinação por corpos masculinos é explicitada em enquadramentos de músculos, pelos, contornos e volumes. A sinceridade com que Berger se utiliza de tais recursos, totalmente justificados nas histórias que ele propõe, demonstram o talento de um realizador ímpar. Pelas características supracitadas e outras tantas, Havaí possivelmente se tornará referência não apenas entre os filmes que retratam histórias de amor homossexuais, mas também entre os filmes que retratam histórias de amor.
Últimos artigos deConrado Heoli (Ver Tudo)
- Leste Oeste - 8 de junho de 2019
- Cromossomo 21 - 24 de novembro de 2017
- The Wounded Angel - 12 de março de 2017
filme sutil, delicado e intenso. Excelente.
Muito bom esse filme! Recomendo!