Superman

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Sinopse

Em Superman, o alienígena Kal-El, batizado na Terra como Clark Kent, se reconcilia com sua herança a partir da sua educação humana. Ele é a personificação da verdade, da justiça e de um futuro melhor em um mundo que vê a bondade como algo antiquado. HQs.

Crítica

Ainda que a DC Comics tenha saído na frente (Superman: O Filme, de Richard Donner, é de 1978; Batman, de Tim Burton, é de 1989), foi o estúdio concorrente – a Marvel – que melhor desenvolveu a ideia de universo cinematográfico compartilhado. Essa iniciativa começou com Homem de Ferro (2008), e lançou mais de duas (ou três, ou quatro) dezenas de projetos semelhantes nas décadas seguintes. E como a grama do vizinho é sempre mais verde, a editora responsável pelo Homem de Aço, Homem-Morcego, Mulher Maravilha e afins resolveu correr atrás. A primeira tentativa foi capitaneada por Zack Snyder e batizada de Universo Estendido DC. Contou ao todo com 16 longas para o cinema e uma série para a televisão, acumulando mais de US$ 7 bilhões nas bilheterias de todo o mundo (é a oitava franquia mais bem sucedida de todos os tempos). Mesmo assim, os executivos da Warner – o braço cinematográfico responsável pela empreitada – não estavam satisfeitos. E resolveram recomeçar do zero (ou quase isso. O primeiro passo dessa nova abordagem é esse Superman, um filme que se propõe como algo muito diferente de tudo que veio antes, mas basta um análise mais fria e menos emocional para perceber que sua falta de identidade permanece: é tanta vontade de perseguir distintos caminhos ao mesmo tempo, que acaba chegando em lugar algum.

Sétimo longa solo do azulão alado nos cinemas, o Superman de James Gunn tem mais pontos em comum com a frustrante versão do diretor para O Esquadrão Suicida (2021) – aventura do universo anterior, mas que dialoga com essa nova proposta – do que com a trilogia Guardiões da Galáxia, que o cineasta realizou para a concorrência antes de ser chamado para capitanear as ideias por aqui. O roteiro, escrito pelo próprio Gunn e baseado em um mosaico de diferentes sagas das histórias em quadrinhos – em especial Birthright, minissérie publicada entre 2003 e 2004 – não deixa de ter boas sacadas. Primeiro, há um evidente comentário ao cenário sócio-político atual. Logo no começo da trama, Superman impede que uma nação invada militarmente um país vizinho. O paralelo mais evidente é a situação Rússia x Ucrânia, mas poderia ser Israel x Palestina ou qualquer outro conflito militar ao redor do planeta. A interferência do herói gera controvérsia, e o debate cai no âmbito popular, ficando sujeito aos humores das redes sociais. A facilidade de se manipular a opinião pública, o uso de bots e da tecnologia em geral para gerar reações esperadas e a função dos haters dentro desse cenário não escapam ao realizador, que propõe essa reflexão ao espectador. Ponto para ele.

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Mas é pouco perto ao quão raso Gunn se mostra disposto a deixar tal diálogo. A impressão é de haver uma evidente vontade em não permitir espaço para dúvida. Para tanto, tudo – dos mais pequenos gestos aos grandes feitos – é explicado à exaustão, nos mínimos detalhes. Lex Luthor, o eterno inimigo, quer acabar com o herói, a quem chama de “o extraterrestre”. Lois Lane, a namorada jornalista, parece mais preocupada com os rumos da relação do que com seu trabalho como repórter. E Superman – muito pouco se vê de Clark Kent, um disfarce quase inexistente nessa história – apenas reage, sem propor, refletir ou idealizar soluções. Ele está o tempo todo dando um jeito de se livrar das armadilhas que lhes são preparadas, dos furos que deixa pelo caminho, dos perigos que aqueles próximos a ele se veem sujeitos. Não há muito de “super” nele. Não há peso em suas ações. Nada por aqui é épico o suficiente. Esse é um filme que diz mais sobre Lex, o empresário invejoso e consumido por esse sentimento que se mostra capaz de tudo para eliminar aquilo que lhe diminui, do que sobre o personagem-título, uma figura sem jornada transformadora, que chega ao término destes eventos exatamente como começou, sem nada para oferecer ou agregar ao debate.

Se David Corenswet em nenhum momento consegue se mostrar à altura do emblema que carrega no peito, Rachel Brosnahan é uma excelente escolha para o papel de Lois – atraente, esperta, ligeira. Ainda que os dois não tenham muita química juntos, não chega a ser um desastre como era a dupla Henry Cavil (que funcionava melhor sozinho) e Amy Adams. Brosnahan tem um quê de Margot Kidder, e essa nostalgia funciona bem ao conjunto. Por outro lado, Nicholas Hoult ameaça roubar a cena a cada aparição, ainda que sua escalação repita o equívoco de apresentar um Lex Luthor jovem demais (como era Jesse Eisenberg). Hoult não chega a estar no nível de Gene Hackman ou Kevin Spacey, mas é um ator de nuances, capaz de gerar simpatia na mesma medida de destila ódio pelos olhos. Ruim mesmo são os diálogos expositivos que se vê obrigado a defender, eliminando qualquer mistério a seu respeito. E assim, em meio a uma dinâmica de videogames (o exército a serviço de Luthor está à frente de joysticks em uma sala de comando bem distante da ação), com participações tão especiais quanto irrelevantes (Lanterna Verde? Supergirl?) e um cachorro que beira o insuportável, esse Superman é o prenúncio do que está por vir: muitas cores, diversão imediata e repercussão fugaz, que se dissipa na mesma velocidade que um risco no céu dentre nuvens em movimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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