Crítica
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Sinopse
Crítica
Na maioria das vezes, a qualidade dos filmes de suspense não é necessariamente medida pelas consequências do clímax, mas pela habilidade de renovar/manter o nosso interesse antes da chegada dele. Por exemplo, o desfecho de O Sexto Sentido (1999) nem seria tão impactante sem a pavimentação habilidosa de um caminho instigante. De modo parecido, a surpresa surge nos minutos finais de Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) para arrematar a tensão que vinha sendo lenta e criativamente “cozinhada”. Por esse prisma, as respostas são valiosas, mas menos importantes do que a maneira como as perguntas são feitas e articuladas numa jornada de preparação. Em Sujeito Oculto, Leo Falcão cria um ambiente propício para instigar o espectador, partindo de uma premissa bastante conhecida e muito utilizada em outras obras. Na trama, Max (Gustavo Falcão) é um romancista em busca de uma propriedade isolada para tentar vencer um bloqueio criativo (sobre o qual pouco se fala). Ele é levado pelo editor a conhecer uma casa que parece ideal à sua necessidade. Ao chegar nesse lugar, o protagonista se depara com os rastros do morador anterior, o que engatilha uma curiosidade que tende a se transformar em obsessão. O cinema está repleto de personagens que ficam obcecados por quem morou antes em suas casas. Portanto, a partir da constatação, podemos pressupor apreço pela tradição.
E esse apreço pela tradição aparece também na forma como a curiosidade é alimentada. Max ouve barulhos no casarão, encontra resquícios da existência do homem a quem os vizinhos longínquos chamam de “Professor”, começa a sentir presenças que não deveriam estar lá e, por fim, a ter o seu trabalho intrometido por alguém. Por conta desse conjunto, pode-se imaginar que Sujeito Oculto não é fundamentalmente um filme de suspense, mas de terror, haja vista os indícios da alma penada vagando por ali. Mas, como será revelado apenas no encerramento, as coisas são um pouco mais complicadas (e surpreendentes) do que isso. Também responsável pelo roteiro, Leo Falcão conduz a experiência mesclando estradas conhecidas e caminhos obscuros. Enquanto na clausura é sugerido algo parecido com casarões assombrados, no contato com os moradores da vila os contornos são diferentes, não menos inquietantes. É pela abertura a outras possibilidades de estranhamento que o longa-metragem diversifica a convivência com o imponderável. Além do “espírito” da residência, fatos inexplicáveis são revelados como se fizessem parte da naturalidade. Diante da briga dos amigos de jogo, o protagonista é prontamente alertado pelo vizinho: “logo o senhor se acostuma”, o que deixa espaço ao subentendido.
O alerta que parece banal possui camadas. Pois, Max precisa se adaptar a circunstâncias bem mais suspeitas do que marmanjos se estapeando. Leo Falcão desvia bem das armadilhas desse tipo de jogo narrativo, oscilando com perícia entre manter territórios sinistros e iluminar alguns para evitar o breu completo. Principalmente aos bons entendedores, logo fica evidente que há muito mais naquela localidade do que a suspeita de um fantasma permanecendo no casarão. A cena de Max conversando com uma menina no único posto de correio e telégrafos (escrito com “ph”) dá o tom desse estranhamento com vários elementos. A eloquência da garota, o fato de ela trabalhar numa posição necessariamente adulta e, por fim, a chegada da moradora que parece ser uma versão futura dela. A forma como a câmera retrata a separação entre essas duas mulheres em cena é um indício de que a realidade deve ser questionada. Assim, o cineasta ganha pontos porque nem sempre coloca na boca dos personagens (sobretudo na do forasteiro) a constatação de que há perturbações na percepção da verdade. Por vezes, a soma de determinados dados e a intromissão de detalhes que rompem o tecido da normalidade tornam densa essa atmosfera. Objetos do passado e do presente se entremeiam.
Um dos pontos fortes de Sujeito Oculto é a disposição bem-sucedida (não apenas cumulativa) de coadjuvantes insólitos: as anciãs enxergadas como jovens; o misterioso dono do antiquário que parece ter conhecimentos privilegiados; o antigo marinheiro que tem um filho lerdo durante o dia, mas sábio à noite; a enfermeira casada com um coveiro dado a pensamentos existencialistas. Não vale à pena revelar a natureza de tudo isso, afinal de contas, o filme de Leo Falcão pode até não valer (como um bom suspense) apenas pelo abalo provocado pelo desfecho imprevisível, mas faz desse momento um fator valioso. Profissional experiente no cinema e na televisão, especialmente na seara documental, Leo Falcão faz com esta a sua estreia nos longas-metragens ficcionais, o que talvez explique a dificuldade para ocasionalmente imprimir intensidade na trama. A reiteração de dinâmicas acentua a sensação eventual de cozimento em banho-maria, o que não é bem direcionado à angústia do protagonista. Fosse um pouco mais vigoroso e o filme teria alcançado patamares ainda maiores e ambiciosos. De toda forma, se trata de uma estreia promissora nos longas de ficção essa a de Leo Falcão, pois nela demonstra que, mesmo às vezes perdendo energia, possui a capacidade de nos manter em suspense e colocar para dialogar certas tradições do cinema de gênero num filme de atmosfera carregada.
Filme visto em abril de 2022, durante o 18º Fantaspoa.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Chico Fireman | 5 |
Chico Fireman | 5 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 5 |
Assisti, gostei, mas não entendi nada. Alguém pode me explicar?