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Sinopse

Neste romance musical, Ben é o único cara na sua escola no Texas que está fora do armário. O bullying o impede de perseguir seu sonho de ser cantor. Então ele conhece Tim, atleta com seus próprios segredos. Esta é a história de amor verdadeiro contada ao longo de alguns anos, da estranha adolescência até a dolorosa idade adulta.

Crítica

Amor de verão todo mundo já viveu. Sabe que é intenso, envolvente, porém dura somente até o fim da estação. Porém, se essa é a expectativa gerada a partir do título aqui anunciado, é bom estar avisado: Something Like Summer (que poderia ser traduzido como Algo como o Verão, por exemplo) é justamente o oposto. Afinal, o longa de estreia de David Berry até começa como uma crônica sobre uma paixão adolescente, mas sem uma mão firme no comando logo se vê explorando outros caminhos, muitos deles sem muito tato ou afinidade. E do drama carregado ao melodrama barato, o filme perde a oportunidade de estabelecer um comentário relevante sobre um momento da vida de qualquer jovem gay em processo de descoberta para revelar uma ambição desconectada com seu potencial, perdendo-se em escolhas equivocadas e elementos que, isoladamente, até parecem funcionar, mas desandam diante de uma combinação feita aparentemente às pressas e sem muito equilíbrio.

Baseado no romance de Jay Bell, Something Like Summer tem como protagonista Ben Bentley (Grant Davis), o único garoto assumidamente gay da escola. Motivo de chacota da maioria dos colegas, ele suspira todos os dias por Tim Wyman (o brasileiro Davi Santos, do seriado Power Rangers Dino Charge, 2015-2016), o bonitão atleta que namora a menina mais bonita do colégio. Um encontrão entre eles derruba aquele que nem sonha ser objeto de desejo do outro, obrigando este a tomar conta dele. A convivência forçada, ainda que idealizada por um deles, termina por despertar sentimentos inesperados no acidentado. Sem muito cuidado, os dois logo estão namorando. Porém, há um problema: Tim não deseja sair do armário, tem medo das reações dos pais e demais colegas, e só irá continuar se encontrando com Ben se a relação deles permanecer em segredo.

O que esperar de um cenário como esse? É claro que alguém acabará descobrindo e, cedo ou tarde, tudo será posto a perder. Entre uma cena desajeitada de apresentação aos pais do enrustido e um clipe improvisado cuja função é mostrar o quanto a vida do eterno apaixonado pode ser exatamente como ele sonhou, o filme sofrerá uma brusca mudança de rumo com a separação dos dois. É quando entra em cena, meses depois, o atendente aéreo Jace Holden (Ben Baur, da série Hunting Season, 2012-2015), que ao encontrar Ben em um voo, logo deixa claro seu interesse por ele. Em questão de dias, os dois estarão juntos e, quando percebem, até dividindo a mesma casa. Jace é mais velho, mais apaixonado, mais comprometido. E Ben parece disposto a fazer essa história dar certo. Isso, é claro, até Tim reaparecer com força, já assumido e de bem com sua sexualidade, determinado a reaver a primeira paixão. Tem-se, enfim, formado o clássico triângulo amoroso. De forma bastante previsível, aliás.

Por instantes, chega a ser difícil ao espectador mais envolvido com a temática LGBT descobrir para qual lado torcer. Tim errou, mas foi por medo – e ele cresceu, amadureceu e está de volta, pronto para ser o namorado dos sonhos com o qual Ben sempre sonhou. Jace, por outro lado, é fiel, querido e apaixonante, porém ciente dos sacrifícios exigidos por uma relação como a dos dois, entre tantas idas e vindas – não é um tolo iludido pelo primeiro amor, portanto. A indecisão entre os pretendentes não está apenas na tela ou na audiência, mas também nos bastidores. Sem saber o que fazer, o diretor apela para uma solução ex machina, como um coelho tirado do chapéu. Uma aposta incômoda que trai e desrespeita o envolvimento do público, ao mesmo tempo em que vai contra o pesar dos acontecimentos entre os personagens.

O maior problema de Something Like Summer, no entanto, é a falta de carisma de Grant Davis, que torna seu Ben uma figura irritante e nada simpática. É difícil compreender o que ele teria para despertar o interesse de dois rapazes muito mais completos e bem estruturados do que ele. Tem-se a impressão de que ele só foi escolhido para o papel graças ao seu talento vocal – sim, a trama volta e meia é interrompida por interlúdios musicais, de concepção visual brega e que mais atrapalham do que colaboram com o desenrolar da narrativa – pois, ao menos nisso, ele é bom: o garoto sabe cantar. Mas isso é pouco diante do que aqui lhe é exigido. Resta, por fim, uma estrutura episódica longe de um seriado de tv fechada, mas próxima daquelas novelas vespertinas que parecem não ter fim. Um novelo de situações desencontradas que não levam a lugar nenhum, apesar da boa vontade da maior parte dos envolvidos. Bonitinho, mas (bem) ordinário.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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