
Sneaks: De Pisante Novo
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Rob Edwards, Christopher Jenkins
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Sneaks
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2025
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EUA / Índia / Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Sneaks: De Pisante Novo, Téo e Beca são tênis de grife que vivem protegidos em suas caixas até que Edson, um jovem humilde com o sonho de se tornar jogador de basquete, os ganha em um sorteio. Os pisantes são roubados por um colecionador, separados um do outro, e o desejo de Edson é ameaçado. Determinado a reencontrar seu par, Téo se vê perdido nas ruas de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Animação.
Crítica
Influenciada por basquete e hip-hop, nasceu nos anos 1980 a chamada cultura sneakerhead, movimento que celebra o tênis como peça fundamental da expressão de um estilo de vida. Esse pensamento importado dos Estados Unidos (claro) rapidamente adquiriu contornos de mercado altamente lucrativo, com peças especiais valendo alguns milhares de dólares e colecionadores movimentando um montante incalculável de dinheiro em aquisições de modelos exclusivos. Sneaks: De Pisante Novo chega aos cinemas contando uma história de tênis falantes e adoradores de pisantes. O protagonista humano é um menino que acaba de tirar a sorte grande e ganhar o par exclusivo de tênis capaz de, segundo palavras próprias, lhe dar “um futuro brilhante”. Seu antagonista é um homenzarrão chamado simplesmente de Colecionador, alguém que arremata itens raros e os acumula em sua casa que mais parece um cofre hiper tecnológico. Mas há também o protagonista tênis, neste caso Téo (voz de Jottapê), um dos membros do tão famoso par que pode significar tudo para o menino sonhador. Ele é um pisante arrogante, mimado, que treme de medo ao pensar ter alguma marca de desgaste. Ao contrário de sua irmã aventureira, ele está muito satisfeito em ser um objeto de adoração. E, na tentativa de encontrar seu caminho, ele se depara com o solitário e arruinado calçado Beto (voz de Christian Malheiros).
A partir do momento em que Téo cai nas ruas em busca da irmã e de um propósito, Sneaks: De Pisante Novo praticamente deixa de lado o protagonista humano, mostrando-o esporadicamente como se o roteiro estivesse nos dizendo “ainda não me esqueci dele”. O garoto é recuperado no encerramento quando tem de servir de modelo para o antagonista que havia tomado um caminho errado simplesmente porque não conseguiu suportar o fardo de um trauma. Voltando aos calçados, eles transitam por Nova Iorque encontrando outros pares descolados que ganham vida quando as pessoas não estão olhando. E tudo, absolutamente tudo, no filme tem a ver com aprendizados de lições de moral. Téo precisa amadurecer ao compreender que, mesmo como tênis cobiçado, foi feito para ser desgastado e que se esconder no topo de uma prateleira seria a demonstração da covardia que o impediria de atender ao propósito. Beto também tem uma coisa a assimilar: a de que importante são os amigos, não a aparência. As lições de moral como potes de ouro no fim do arco-íris também dizem respeito ao Colecionador, sujeito que precisa ser transformado num cara bonzinho novamente quando encontrar alguém que lhe devolva as sensações do passado. Tudo é previsível nesse filme com problemas de conceito e execução. O roteiro assinado por Rob Edwards, Erica Harrell, Dylan Hartman e Desiree Proctor é muito fraco.
Sneaks: De Pisante Novo fica preso às associações simplistas entre causa e consequência, nunca conseguindo ir além da superfície quando coloca em jogo os dilemas morais dos personagens e seus simbolismos dentro da cultura sneakerhead. Por exemplo, o Colecionador parece imediatamente ser o vilão, mas não é, pois está mais para antagonista. O que não fica muito claro é se o filme o enxerga criticamente por desvirtuar o propósito dos tênis (numa posição que iria ao encontro da jornada de Téo) ou se evita o quanto pode apontar o dedo para esse colecionismo que ganha ares cada vez mais de ambição desmedida. O grande nêmesis da animação é o indivíduo chamado simplesmente de Falsificador, alguém que, como o nome dá e entender, está mais preocupado em se apossar das novidades para criar réplicas a partir delas. Como em nenhum momento o Falsificador fala qualquer coisa contrária à cultura sneakerhead, muito pelo contrário, pois se beneficia do furor dela para lucrar cada vez mais, nos resta imaginar que o discurso do filme tem um viés capitalista alinhado ao protecionismo. Pode parecer um disparate falar disso numa animação voltada ao público infantil, mas vamos tentar extrair algo disso. O vilão é alguém negativo simplesmente porque copia os tênis, ou seja, o que atesta a sua ruindade é afrontar a indústria. Mas, o menino pobre do filme teria como comprar tênis caros?
Com uma animação que tecnicamente deixa muito a desejar, especialmente no que diz respeito à pouca fluidez dos movimentos, Sneaks: De Pisante Novo parte de um lugar muito interessante: a antropomorfização dos tênis e a exploração dos meandros da cultura sneakerhead. No entanto, em vez de elaborar melhor a importância da peça para o sentimento de pertencimento do menino a um ambiente no qual baquete e hip-hop são componentes sociais fundamentais, os cineastas Rob Edwards e Christopher Jenkins preferem apostar em missões paralelas que evidentemente vão convergir ao mesmo ponto de redenção e vitória dos justos. O design dos personagens e cenários não é um fator de destaque positivo – a não ser o visual do Falsificador, esse muito interessante com seus instrumentos de precisão servindo para esconder a identidade humana e dar uma aura de monstruosidade ao vilão. No fim das contas, o roteiro também utiliza uma série de conveniências para chegar ao clímax mais conciliador possível, camuflando essa natureza providencial com as tintas de um melodrama bem ralinho. Desse modo, os bons e justos sempre sairão vencedores, há um espaço para os arrependidos resgatarem a essência perdida há muito tempo e os malvados certamente serão alvos de punições. Nem mesmo a diversidade (a animação é protagonizada por pessoas negras) salva essa produção de ser abaixo da média.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Robledo Milani | 6 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4 |
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