Crítica


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Sinopse

Jovem interiorana que estuda letras na universidade da capital da Lituânia, Aleksandra trabalha como garota de programa atraindo seus clientes por meio de um anúncio de jornal. Sua vida muda quando morre um cliente.

Crítica

Ao aproximar a realidade das pessoas de forma única, o mundo contemporâneo nos permite que, apesar das circunstâncias particulares e das diferentes posições geográficas, compartilhemos desejos e angústias. Isto é o que nos une. Aleksandra (Nina Ivanisin) sente os limites de sua Krsko, pequena cidade no interior da Eslovênia, se estreitarem. A separação não amistosa dos pais, a vida pacata e a vontade de continuar os estudos em uma universidade apontam para o caminho de tantos outros iguais a ela: mudar-se. O destino é a capital do país, Liubliana.

Se a Eslovênia é um país recente, o seu território, porém, fez parte de uma infinidade de Estados, dentre eles, mais recentemente, o da República Socialista Federativa da Iugoslávia. Neste contexto, não se torna difícil imaginar o valor e a seriedade com que as noções de liberdade e independência são entendidas pelos seus cidadãos. Filha dessa nova Europa que se constitui, a protagonista de Slovenian Girl procura construir uma vida que possa realmente chamar de sua. No entanto, percebe em pouco tempo que as dificuldades não se limitam às provas de literatura inglesa na universidade ou às preocupações de morar sozinha. Nesse estranho e novo mundo regido pelo capital, o conforto custa caro. A solução de Aleksandra, é antiga. Com a facilidade do anonimato, candidata-se como garota de programa em um classificado local.

Embora viva com simplicidade, Aleksandra não se enquadra no estereótipo de garota marginalizada pela sociedade. Assim, a atitude se apresenta como um recurso ou uma escolha – condenável ou não, mas a discussão leva a outro ponto – de conciliar o impasse entre as ambições de uma jovem diante das possibilidades infinitas e o orgulho de mostrar-se independente para os pais e amigos.  Não cabe aqui, portanto, a perspectiva costumaz de que o filme aponta para uma crítica velada ao capitalismo. Se em algum momento o diretor Damjan Kozole - mais conhecido por Spare Parts (Rezervni deli, 2003) – teve tal intenção, então esta foi completamente mal-sucedida.

A aventura de garota de programa seduz inicialmente. O dinheiro rápido encaminha a compra de um apartamento em uma boa localização da cidade e aparenta solucionar a dependência familiar. Com o decorrer do tempo, Aleksandra ingressa em uma vida tripla. Apresenta-se para o pai, em Krsko, de uma forma; para os colegas de universidade de outra; e torna-se uma estranha para si. O peso das mentiras seria suportável se a situação não se complicasse diante de um problema com a polícia e de dois homens que querem a todo custo agenciá-la.

Escrito em conjunto por Matevz Luzar, Ognjen Svilicic e Damjan Kozole – este o único com experiência no meio do cinema – o roteiro sofre por não alcançar o aprofundamento psicológico exigido por um filme fortemente centrado na protagonista. Mesmo a boa atuação de Nina Ivanisin, cuja filmografia tem em Slovenian Girl o seu segundo filme, não basta para inspirar um ritmo mais refinado entre as cenas. Filmado basicamente com a câmera na mão, ao estilo baixo orçamento, e composto em tom sombrio, digno dos problemas e dificuldades presentes na trajetória de Aleksandra, falta ao conjunto do filme um enredo mais consistente. Talvez por economia, mas provavelmente por dispersão, a complexidade da situação da protagonista perde-se aos poucos em cada personagem a que somos apresentados e, em seguida, vemos relegados. O terceiro ato melhora o filme de forma considerável. Há nele uma energia de conflito e a suspensão da decisão que mereciam ter acompanhado a narrativa desde o início. O final inquietante provoca o tempo necessário para a reflexão. Pena que para o todo, é tarde demais.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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CríticoNota
Willian Silveira
5
Alex Gonçalves
3
MÉDIA
4

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