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Sinopse

Em meio a grande selva da África, turistas caçadores alemães e austríacos estão de férias no local. Em meio aos antílopes, zebras e gnus que pastam pela selva, eles ficam na espreita, esperando suas presas. Eles atiram, pulam de emoção e posam para uma foto com o animal abatido. Um documentário sobre a natureza humana e a morte.

Crítica

Entre ficções, como Import Export (2007), e registros documentais, como o anterior In The Basement (2014), o cinema do austríaco Ulrich Seidl é marcado por uma carga de fetichismo que preenche, quase sempre extrapolando, sua carapaça niilista. Em Safári, o cineasta segue sem abdicar de tais características ao acompanhar o cotidiano real de um grupo de abastados turistas alemães e austríacos que passam férias na Namíbia caçando animais selvagens. É na discutível prática, permitida no país africano, assim como em diversos outros, que Seidl encontra as camadas fetichistas que tanto lhe interessam: a excitação dos caçadores ao verem a presa através das miras de seus rifles, o ato de posar para a foto ao lado do animal abatido, o modo como descrevem os “troféus” mais desejados ou como discutem sobre o tipo de arma ideal para cada caçada.

Afirmando almejar a neutralidade para tratar do polêmico tema, Seidl opta por trazer apenas a visão dos praticantes da caça – que vão de um casal de idosos, passando por um homem solitário, até uma família completa. Uma escolha que, a princípio, pode soar como validação do pensamento e das ações dessas figuras, mas que, na maior parte do tempo, gera justamente o efeito contrário. Pois, ao dar a palavra aos turistas, os próprios acabam por expor as contradições presentes em suas concepções. Caso da mulher que rejeita o termo “matar”, substituindo-o por “capturar”, ou do dono do resort, que de imediato brada não ter motivo algum para justificar seus atos, mas passa o resto da projeção fazendo exatamente isso – em determinado momento, o homem chega ainda a fazer uma espécie deturpada, e pouco lógica, de mea-culpa, dizendo não ver motivos para defender espécies da extinção, pois o homem, única espécie realmente descartável, já acabou com a natureza.

Seidl se aproveita desses relatos para construir alguns contrapontos imagéticos interessantes, e irônicos, como quando traz a fala do jovem descrevendo a caça como um ato benevolente, de ajuda na propagação das espécies – já que os animais escolhidos como alvo seriam, em sua maioria, velhos e doentes – para, momentos mais tarde, captar a imagem de um caçador de idade avançada que mal consegue descer do jipe e caminhar. Sequências desse tipo vêm emolduradas pelo rigor estético – os planos estáticos e os enquadramentos simétricos – e pelos maneirismos típicos do cineasta, buscando em certas passagens imprimir um senso de humor incômodo, extraído do insólito/ridículo de situações específicas, caso da cena em que o casal idoso lista o valor de mercado de diversos animais enquanto passam protetor solar em seus corpos.

Como de costume, também, Seidl estabelece uma atmosfera aparentemente seca e crua – a ausência de trilha sonora, exceção feita à sequência de abertura e à de créditos finais, em que homens tocam instrumentos de sopro em meio à paisagem da savana africana, faz parte dessa construção – com o intuito de intensificar o senso de mal-estar generalizado. Tal abordagem só faz aflorar o lado fetichista do próprio diretor, especialmente no modo como registra as longas sequências das caçadas, que, pela repetição, pouco acrescentam ao que já fora previamente estabelecido sobre a personalidade ou o pensamento dos turistas. O mesmo sentimento se manifesta nas gráficas e detalhadas cenas que revelam o processo de desmembramento dos animais para a retirada da pele e dos chifres, soando apenas como tentativas de chocar e provocar a repulsa do espectador.

Essa estratégia de choque não é inválida, muito menos incomum, no intento de conscientização acerca da crueldade sofrida pelos animais. Contudo, nas mãos de Seidl, o desejo pela mera provocação parece prevalecer, pesando, inclusive, sobre outras questões relevantes que se apresentavam naturalmente, como as de cunho social – a interferência europeia nos processos político-econômicos do continente africano – e racial – a relação entre os turistas brancos e os negros nativos. Algo já satisfatoriamente transmitido por declarações dos entrevistados ou no simples fato de os negros nunca terem voz no longa, cabendo-lhes a responsabilidade do trabalho pesado, sujo. Mesmo assim, Seidl não resiste ao impulso de perturbar, criando planos que definitivamente não primam pela sutileza simbólica, como os que mostram os habitantes locais devorando o que aparentam ser restos dos animais caçados ou enquadrando-os em meio às cabeças empalhadas penduradas na parede. Todo esse acúmulo provocativo sufoca o espaço que Safári poderia abrir para a reflexão, resultando muito mais num veículo para as obsessões particulares de seu realizador do que num pretenso retrato aprofundado da natureza humana.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Leonardo Ribeiro
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Edu Fernandes
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MÉDIA
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