Crítica


5

Leitores


1 voto 6

Onde Assistir

Sinopse

Um poderoso fazendeiro quer tomar as terras do irmão para si, mas é impedido por um justiceiro chamado Robin Hood. Entretanto, o herói é ferido e substituído pelo grupo rebelde por um desconhecido Zé Grilo, um peão atrapalhado sem muito jeito pra coragem e bravura.

Crítica

A lenda de Robin Hood, o ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres, é antropofagizada pelo diretor J.B. Tanko neste filme lançado em 1973. Mário Cardoso interpreta o líder do bando que se opõe ao fazendeiro João Crimério (Jorge Cherques), homem que manda e desmanda na propriedade do irmão recém-falecido como se fosse sua. Ele pretende dar um golpe e falsificar o testamento que, na verdade, beneficia sua sobrinha Catarina (Monique Lafond). Em meio às cenas de perseguição a cavalo e de luta corporal, responsáveis por denotar o clima aventuresco do longa-metragem, Robin Hood é ferido gravemente e dado como desaparecido. Cabe ao imediato Zé Grilo (Renato Aragão) manter viva sua imagem, a do corajoso que enfrenta os opressores, assumindo assim, com a ajuda do amigo Willian (Dedé Santana), a dianteira dos planos para frustrar as intenções gananciosas do latifundiário. O humor corre solto, sobretudo depois que Aragão toma para si, de fato, o protagonismo.

Robin Hood: O Trapalhão da Floresta possui compromisso somente com a comédia ligeira, visando entreter o público, a essa altura, já familiarizado com as peripécias de Didi e de Dedé. Robin Hood é um coadjuvante de luxo, presença figurativa que apenas auxilia a trama a caminhar, mas sem determinar seus rumos, a não ser na condição de símbolo. Não falta a mocinha indefesa, aqui vivida pela bela Monique Lafond, que logo se apaixona pelo bandido caçado a todo custo por seu tio. Sem um roteiro consistente, vide os saltos temporais e algumas incongruências no desenvolvimento, o filme se sustenta completamente na persona cômica de Renato Aragão, no carisma do ator/humorista que cativa pela simplicidade, ingenuidade e as sacadas rápidas. Dedé Santana também tem grandes méritos, porque desempenha exemplarmente a função de “escada” ao companheiro mais destacado.

Zé Grilo faz troça da autoridade do fazendeiro, passando-se por Hood, angariando admiração e paixões. Robin Hood: O Trapalhão da Floresta é uma salada de frutas no que diz respeito aos elementos periféricos, já que nele temos a história de origem bretã, o típico homem simples brasileiro confrontando a tradição coronelista, índios que mostram como vencer o mal, uma idílica festa cigana e, ainda por cima, a presença de um trio de chineses especialistas em kung-fu. As mágicas varinha e pena que Zé recebe em meio aos conselhos do velho cacique garantem momentos engraçados, como, por exemplo, quando um capanga é transformado em cachorro durante a peleja, ou mesmo Dedé se transmutando em galo para livrar-se da cadeia. A simplicidade da produção é um convite à criatividade do diretor J.B.Tanko, condutor eficiente que faz da precariedade parte da graça, haja vista a coreografia das brigas.

Monique Lafond faz às vezes da mulher em perigo. Contudo, após apaixonar-se por Robin Hood, de quem cuida em segredo, ela parte à ação, ajudada pela prima interpretada por Olívia Pineschi, que mais adiante se revela combatente de mão cheia, garantindo dessa maneira o caráter insólito da participação feminina. Robin Hood: O Trapalhão da Floresta não é uma das que colocamos no topo ao ranquear as realizações estreladas pelos Trapalhões, em parte porque nele não estão presentes Mussum e Zacarias, dois atores/comediantes essenciais ao sucesso da trupe, mas, principalmente pela fragilidade do conjunto, já que se privilegia a fração em detrimento do todo. Mesmo assim, é um filme divertido, no qual acompanhamos as aventuras de Zé Grilo e de seus amigos para perpetuar o ideal de Robin Hood, enquanto este se recupera para, mais adiante, garantir a justiça.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *