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Sinopse

Dez anos após a morte de seu marido, Anna finalmente conseguiu reconstruir sua vida, estando prestes a se casar novamente. Repentinamente surge em sua vida um garoto de 10 anos, que se apaixona por Anna e diz ser a reencarnação de seu marido. Anna inicialmente considera a história totalmente absurda, mas alguns detalhes de situações ocorridas entre ela e seu falecido marido, contados pelo garoto, fazem com que ela fique intrigada. Aos poucos Anna começa a relembrar fatos de seu passado e começa a questionar as escolhas que fez na vida, o que faz com que seu noivo, a família dele e sua melhor amiga fiquem preocupados.

Crítica

Se há uma razão para se assistir a Reencarnação, é a presença de Nicole Kidman. A atriz, durante a primeira década dos anos 2000, com uma série de trabalhos arriscados e comprometidos, se firmou como uma das melhores intérpretes femininas da época. Aqui ela aparece com um corte de cabelo curto, que propositalmente remete à Mia Farrow em O Bebê de Rosemary (1968), no papel de Anna, uma jovem viúva, que, mesmo dez anos após a morte do esposo, ainda sente sua falta. Quando finalmente decide ceder aos apelos da família e aceita se casar novamente, um misterioso garoto aparece na sua sala de jantar afirmando ser o marido falecido, que teria reencarnado no menino. A notícia, a princípio encarada com surpresa e riso, logo vai se transformando na mente dela, até o ponto de começar a duvidar dos seus próprios interesses românticos.

Muito se falou de Reencarnação após suas primeiras exibições por causa da polêmica que o filme teria levantado ao colocar Kidman nua numa banheira tomando banho junto com uma criança. Isso, somado ao beijo na boca que ambos trocam algumas cenas depois, teriam sido suficiente para acusa-lo de defender a bandeira da pedofilia. Pura bobagem, como a nossa brasileiríssima Xuxa bem sabe. Tais imagens poderiam ser evitadas, mas não pelo que eventualmente representam diante julgamentos conservadores, e sim pela distração quanto ao tema principal que geraram. A discussão proposta é sobre este intrincado e confuso tema que o título nacional escancara com obviedade (o original, Birth – ou Nascimento – é muito mais simbólico), da possibilidade de existência após à morte e do espiritismo. É possível uma pessoa, uma alma, voltar à vida sob a forma de outra?

O problema do longa dirigido por Jonathan Glazer – o mesmo do recente Sob a Pele (2013), outro filme com mais pontos fracos do que fortes que gerou uma maior repercussão pelas cenas de nudez da protagonista (Scarlett Johansson) do que por sua temática – é justamente levantar dúvidas como as aqui apontadas sem muita segurança nem firmeza. As indagações pipocam na tela, mas nada ali colabora com o raciocínio do espectador, que ao invés de sair da sessão reflexivo e questionador, acaba caindo no bocejo simples e esquecível. O ritmo lento com que a trama é conduzida, o tom monocromático dos cenários e a pouca ação – nada se resolve, tudo fica suspenso, sem que nem ao menos uma ideia seja discutida ou proposta – auxiliam para criar o clima de insatisfação com a obra. Os personagens, sempre em cima do muro, com uma apatia que afasta ao invés de aproximar, emanam constantemente um tédio incômodo que deveria ter dado espaço a um distanciamento filosófico. A conclusão, rápida e inesperada, só colabora com o clima de decepção.

Nicole Kidman, indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama por este trabalho, é o ponto de destaque positivo de Reencarnação. Bela, intensa e compenetrada, ela, em poucos olhares, consegue transmitir com competência o intrincado turbilhão de emoções com os quais precisa lidar. O jovem Cameron Bright compõe uma figura interessante, alternando bem seus dois momentos, enquanto que Anne Heche e Lauren Bacall são presenças interessantes, apesar do pouco tempo em cena de ambas. No final, o que resta mesmo é a mão pesada do diretor, que não soube conduzir com maior maleabilidade e dinamismo um tema tão passível de diferentes interpretações.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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