Predador: Terras Selvagens

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Sinopse

Predador: Terras Selvagens se passa em um futuro distante, num planeta remoto, onde vive o jovem Dek. Ele foi banido de seu clã pelo próprio pai, após a morte do irmão mais velho. Agora, busca provar seu valor. Nesse caminho, encontra uma inesperada aliada: Thia, uma andróide sem pernas, porém muito esperta. Ao lado dela, embarca em uma perigosa jornada em busca de um adversário à sua altura. Ação/Ficção científica.

Crítica

E teve gente que achou que Shane Black, roteirista da saga Máquina Mortífera e diretor do bilionário Homem de Ferro 3 (2013) seria o responsável por resgatar a franquia iniciada ainda nos anos 1980 com O Predador (1987). Quanto engano. Afinal, O Predador (2018) dirigido por Black não apenas fracassou nas bilheterias, como detém ainda a pior avaliação de todos os longas da série junto à crítica. Mas eis que não tá morto quem peleja. E veio de outro espectro, dos longas de terror de baixo orçamento, o nome daquele que iria salvar esse universo de uma vez por todas: Dan Trachtenberg. Diretor do inesperado Rua Cloverfield 10 (2016), após passar por programas como Black Mirror (Playtest, T03 E02, 2016) e The Boys (2019) ele chamou atenção com o discreto O Predador: A Caçada (2022), lançado diretamente em streaming. Na mesma pegada, e num modelo de produção ainda mais alternativo – trata-se de um projeto de animação – veio a sequência Predador: Assassino dos Assassinos (2025), ambos superando quaisquer expectativas. Estava pronto o caminho para Predador: Terras Selvagens, filme que, se não se mostra à altura destes dois anteriores, ao menos entrega um espetáculo digno da tela grande para a qual foi concebido.

Em nada menos do que nove filmes com o personagem criado pelos irmãos Jim e John Thomas (roteiristas do longa original), esta é a primeira vez em que o monstro assassino extraterrestre assume, enfim, o posto de protagonista. Sim, pois em todas as demais aparições ele é visto como o vilão, sem características particulares, invariavelmente como um problema a ser superado, seja por Arnold Schwarzenegger, por Danny Glover, por Adrien Brody ou até mesmo pela brasileira Alice Braga. Os títulos que mais se aproximaram de um protagonismo foram os do duo Alien vs. Predador, mas esses foram tão catastróficos que ninguém faz questão de lembrar. Trachtenberg, após experimentar uma representante dos povos originários norte-americanos e até se aventurar por diferentes guerreiros ao longo dos séculos terráqueos, propõe agora uma história aparentemente desprovida de personagens humanos – o que não deixa de ser surpreendente. A decisão é ousada, e se por um lado revela coragem, por outro aponta para sua maior fragilidade. Afinal, os seres humanos continuam fazendo parte da equação, nem que seja no lado de cá da tela, enquanto audiência. E com quem esses irão se identificar a ponto de se importar com os acontecimentos em cena?

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Felizmente, a inovação se estende até certo ponto. Sim, pois há de se respeitar certos códigos, e esses afirmam que a humanização do tipo à frente da trama é fundamental para o envolvimento do espectador com o que se sucede. Chega-se, assim, ao ponto ao qual ninguém esperava: a transformação do predador intergaláctico não apenas em indivíduo, mas em um ser provido de emoções, sentimentos e anseios. Dek é o seu nome, e trata-se de um herdeiro legítimo de um clã de impiedosos assassinos. No entanto, sua baixa estatura – se comparado aos demais – e demorado amadurecimento – trata-se do caçula – o legou a uma incômoda posição de figura mais fraca, e num ambiente como este, tal colocação pode significar a diferença entre a vida e a morte. Não causa espanto quando o próprio pai decide condená-lo à morte, cansado de vê-lo como um “peso morto”. O irmão mais velho, no entanto, se recusa a cumprir a ordem, e acaba morrendo em seu lugar. Em fuga para preservar a própria vida, Dek opta por ir atrás do maior inimigo vivo dos predadores, um monstro que até o mais valente dos seus prefere não encontrar pela frente. Pensa que, se conseguir superar tamanha ameaça, poderá retornar, não mais como um pária, mas dessa vez sendo recebido como herói

É neste outro planeta onde Dek encontra Thia (Elle Fanning, visivelmente à vontade em um ambiente artificial), uma androide que busca recuperar metade do corpo. Mais adiante, a dupla será salva por um animal carismático de pele endurecida e gestos acolhedores. Este também tem algo que lhe faz falta, e a eles se une, por vezes como um pet inesperado, por outras como um alívio cômico de última hora. Como se percebe, não era bem numa versão monstruosa de O Mágico de Oz que a maior parte das apostas recaíam sobre o futuro deste Predador: Terras Selvagens, mas é exatamente o que acontece. Há até uma briga entre irmãs que uma vez já estiveram unidas – seriam as bruxas Boa do Norte e Má do Oeste? – e um mal inominável a ser superado – aqui caberia uma alusão a O Senhor dos Anéis. Por décadas acostumados a se deparar com uma criatura selvagem, quase invencível e com apetite por sangue e por desmembrar qualquer adversário que se coloque em seu caminho, causa estranheza estar agora diante de um guerreiro em busca de honra familiar, almejando acolhimento paterno e perdão entre colegas de armas. E se tal leitura por vezes soa por demais forçada – ou mesmo desconfortável – o fato é que a embalagem agrada pela grandiosidade visual, por confrontos aos quais se mostra quase impossível desviar os olhos e um desfecho que, se está longe de oferecer um ponto final para esse universo, ao menos agrega energia bastante para próximos e excitantes capítulos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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