Crítica
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Sinopse
Uma jovem guerreira está desesperada para proteger a Nação Comanche no início de 1700. Quando finalmente está diante do inimigo, ela percebe que precisa lutar contra um alienígena impiedoso e altamente evoluído.
Crítica
A saga Predador tem sido bastante maltratada por Hollywood – e, mesmo assim, tem demonstrado um impressionante fôlego e uma insuspeita capacidade de renovação. Desde o primeiro longa, O Predador (1987), o que se percebe é uma mudança de status – nesse, o alienígena assassino era não mais do que um coadjuvante, enquanto que a estrela era o brutamontes Arnold Schwarzenegger, no auge da fama – e uma desesperada busca por um oponente à altura dessa ameaça, seja um policial negro (O Predador 2: A Caçada Continua, 1990), guerreiros de elite (Predadores, 2010), outros extraterrestres (o díptico Alien vs. Predador, lançados em 2004 e 2007) ou até mesmo uma criança (O Predador, 2018). Faltava, como se é possível observar a partir dessa lista, incluir uma mulher na relação. Mas O Predador: A Caçada, felizmente, faz mais do que isso, empreendendo uma volta às origens para oferecer ao espectador uma história de caça e caçador, na qual, a despeito do óbvio desnível de forças a se enfrentarem, o embate acaba sendo envolvente e tenso na medida desejada, sem exageros ou grandes malabarismos.
É curioso que, com exceção do filme de estreia – que arrecadou nas bilheterias mais de seis vezes o valor do seu orçamento – nenhum dos seguintes pode ser apontado como um ‘sucesso de público’ (a maioria, aliás, só conseguiu fechar as contas graças ao mercado internacional, pois o público norte-americano tem demonstrado cada vez menor interesse pelo personagem). Diante desse retrospecto, não surpreende o fato de O Predador: A Caçada ter sido lançado diretamente nas plataformas de streaming, sem passar pela tela grande. Uma decisão, no entanto, a se lamentar, pois o resultado merecia uma apreciação mais detalhada. O diretor e roteirista Dan Trachtenberg (cujo único trabalho no formato anterior foi o intrigante Rua Cloverfield, 10, 2016), ao invés de propor um remake, continuação ou spin-off, opta por outro caminho: uma prequel. Ou seja, a ação se passa há 3 séculos, muito antes dos eventos explorados pelos outros filmes. Essa decisão abre portas inquietantes, que vão desde a frequência com que tais visitantes frequentam a Terra como também a possível influência deles no desenvolvimento humano. Questões levantadas, mas não respondidas.
Naru (Amber Midthunder, de Missão Resgate, 2021) é uma jovem comanche determinada a mostrar seu valor junto à tribo em que vive. Nos anos 1700, a luta pela sobrevivência era constante e dependia da habilidade do indivíduo em viver em grupo, um apoiando o outro, e na capacidade de cada um em lidar com as adversidades que a qualquer momento poderiam se impor de modo preponderante. Numa sociedade acostumada a ver apenas os homens partindo para a luta, treinando suas técnicas de combate, às mulheres era relegada uma posição coadjuvante, de organização, preparo dos alimentos e manutenção da ordem familiar. Naru, no entanto, não está satisfeita com esse espaço que lhe é destinado. Essa obstinação se torna urgente quando é a única a identificar um outro tipo de perigo ao redor deles, algo mais selvagem e mortífero. Não se trata de um leão-das-montanhas ou de um urso pardo. O que terão pela frente é diferente de qualquer coisa que já tenham encontrado. E quanto antes se prepararem para o inesperado, melhor para eles.
Porém, quem estará disposto a ouvir o que uma garota tem a dizer, ainda mais no que se refere às habilidades de campo? Taabe (o novato Dakota Beavers), seu irmão mais velho, tem apreço por ela, ao mesmo tempo em que precisa demonstrar liderança junto aos demais rapazes que, como ele, começam a ambicionar maior destaque e reconhecimento. Essa atenção que o homem, o líder natural daquele grupo, concede a uma moça, por mais que essa lhe seja familiar, torna o discurso feminista natural, não impositivo, orgânico dentro da estrutura narrativa desenhada pelo diretor. O retorno ao básico, portanto, não se dá apenas dentro de uma cronologia temporal, mas também no modo como encarar o personagem-título: o Predador, assim como décadas atrás, é mais uma vez uma não-presença (acentuada pela sua invisibilidade), algo ao qual se volta a todo instante, porém pouco se sabe de suas intenções ou estratégias. O que permanece em segredo é capaz de motivar plateias justamente pelo mistério que cultiva, permitindo uma construção coletiva da trama, fortalecendo a ponte com a audiência, que passa a fazer parte do enredo a partir das suas próprias leituras.
Mais uma história de aventura e menos uma obra de terror ou mesmo ficção científica, O Predador: A Caçada se apoia nessa figura de imenso potencial imagético e no perceptível carisma de uma menina disposta a motivar torcidas e reviravoltas para fazer valer seu lugar naquela realidade – por mais fantástica ou absurda que essa possa se mostrar. Sem grandes arroubos visuais – até mesmo os efeitos especiais são comedidos – ou ousadias no discurso – a inserção do homem branco e sua postura igualmente predatória não passa de um comentário discreto – Trachtenberg se permite trabalhar com o talento de seu elenco – formado majoritariamente por não-brancos de ascendência indígena – e com a dinâmica que surge a partir das interações com esse ser vindo sabe-se lá de onde, em busca de não se tem bem certeza do que. Mesmo com toda a tecnologia que um dispõe e o suposto aspecto primitivo do outro, o que se verá é um enfrentamento de instintos, e o quanto se estará disposto a confiar nesses neste confronto de vida ou morte. Pode parecer pouco, mas quando as distrações são deixadas de lado, é justamente o simples que precisa ser capaz de convencer. Tal qual o que por aqui se verifica.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
Chico Fireman | 6 |
Ticiano Osorio | 8 |
Marcelo Müller | 7 |
Alex Gonçalves | 7 |
MÉDIA | 7.2 |
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