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Sinopse

Pina Bausch é considerada uma das mais influentes artistas da dança moderna. Aqui, a vida e a carreira dela são apresentadas em números por sua companhia.

Crítica

Wim Wenders é um dos maiores nomes do cinema alemão, com uma carreira de destaque tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Responsável por obras clássicas como O Amigo Americano (1977) e Asas do Desejo (1987), já trabalhou com astros como Dennis Hopper, Bruno Ganz, Nastassja Kinski, William Hurt, Willem Dafoe, Fanny Ardant, Mel Gibson e Jessica Lange, além de ser um dos cineastas favoritos do U2, tendo realizado vários videoclipes da banda (de músicas como “Stay” e “The Ground Beneath her Feat”). Mesmo assim, seu maior reconhecimento artístico e crítico se deu como documentarista, exercício que praticou regularmente no início da carreira e que volta e meia retoma, sempre com resultados impressionantes. Foi assim com Buena Vista Social Club (1999), pelo qual recebeu sua primeira indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Documentário. E o mesmo se repetiu agora, em 2012, com o arrebatador Pina, pelo qual foi mais uma vez indicado ao prêmio máximo do cinema mundial, novamente entre os melhores documentários do ano.

A ideia de registrar as fantásticas criações da bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch (1940 – 2009) é antiga e surgiu quando ela era ainda viva. Com a inesperada partida dela, Wenders se viu obrigado a alterar seus planos. Porém, ao invés de abandonar o projeto ou entregar uma mera cinebiografia, foi além, abusando da ousadia e da criatividade. E o que temos em Pina é mais do que um filme homenagem, e sim um trabalho de singular beleza, com um visual estonteante e um ritmo contagiante. É praticamente impossível passar por uma sessão inteira sem ficar com vontade de sair dançando tal qual os dançarinos da companhia, como se a gravidade não fosse mais do que uma teoria esperando pela exceção. A sincronia dos movimentos, a graciosidade dos gestos, a firmeza das coreografias, a tensão dos músculos, o estudo das ações, a certeza de cada passo: tudo parece colocado no lugar certo, pronto para adquirir outras proporções, como se o único objetivo fosse encantar além de qualquer expectativa.

Mas se Pina fosse apenas isso, nada mais seria do que uma versão filmada do que é mostrado há décadas nos palcos mais conceituados ao redor do mundo  – a Companhia Pina Bausch já esteve várias vezes no Brasil, a última em 2011, já sem sua criadora – e também em nas raras incursões anteriores pelo cinema, como no belo Fale com Ela (2002), de Pedro Almodóvar. Felizmente temos, no entanto, algo que vai além do registro, do reconhecimento, da honraria. Ficamos a par também do impacto que esta mulher provocou na vida de alguns dos talentos que cresceram e se desenvolveram ao seu lado, assim como temos a oportunidade de conhecer um pouco dos ambientes e cenários que lhe serviram de inspiração para essas elaboradas e geniais invenções artísticas. Wenders oferece um espaço ideal sem se impor, apenas dando vazão ao que Bausch tantas vezes fez no palco, agora através de um meio que irá torná-la ainda mais – se é que isso é possível – imortal.

Outro ponto de importante impacto ao que vemos em Pina é a sábia utilização dos efeitos 3D. Tão vulgarmente aproveitados em filmes de aventura e animações, a ponto de estarem até desgastados, aqui a própria tecnologia ganha novos ares e contribui decisivamente para provocar no espectador a sensação de sermos transportados a esse mundo de dança e leveza, como se estivéssemos ao lado deles, dançando. Ou melhor ainda, como se compartilhássemos, mesmo que por raros instantes, do mesmo prazer e energia revolucionária de uma artista que soube sempre se posicionar acima de qualquer conceito pré-estabelecido. É um longa-metragem, e para fins de classificação pode ser posicionado entre documentários. Mas a melhor definição para o que se vê é experiência, daquelas de raro encantamento, do tipo que transforma tanto os espectadores quantos os realizadores, fazendo que todos os envolvidos cresçam e se transformem.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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