Pequenos Grandes Heróis

LIVRE 89 minutos
Direção:
Título original: We Can Be Heroes
Gênero: Ação, Aventura, Comédia
Ano: 1225
País de origem: EUA

Crítica

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Sinopse

Após uma invasão alienígena, os super-heróis da Terra foram raptados. Uma jovem com super poderes decide formar um esquadrão para garantir a paz no planeta e salvar os veteranos das garras do perigo.

Crítica

O cineasta mexicano Robert Rodriguez tem duas linhas bem distintas no seu cinema: ou são dramas super violentos e estilizados – como Planeta Terror (2007) e Machete (2010) – ou aventuras infantis – como Pequenos Espiões (2001) e As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl (2005). Pois este Pequenos Grandes Heróis nada mais é do que uma continuação tardia deste último. Ou talvez fosse mais apropriado considerá-lo um spin-off, afinal não se trata de uma sequência direta, e mais um derivado da mesma trama. Os personagens que deram título ao longa anterior até aparecem em cena, mas quem está à frente do elenco dessa vez não são eles, e, sim, seus filhos. Afinal, mais de 15 anos se passaram, e se antes o menino-tubarão e a garota-lava estavam no centro da ação, agora as crianças são outras. E da mesma forma como nesse intervalo de mais de uma década tudo parece ter se tornado mais conservador e infantil, o mesmo se reflete na postura do diretor – também roteirista – ao entregar uma história que provavelmente nem mesmo ele teria paciência para aguentar até o fim quando na idade a qual agora se dirige.

Como é moda atualmente – de os Vingadores à Liga da Justiça – aqui também temos uma equipe de super-heróis, que conta com astros como Homem-Milagre (Boyd Holbrook) e Tech-No (Christian Slater) – além, é claro, de Sharkboy (J.J. Dashnaw, que costuma trabalhar como dublê e é velho parceiro do diretor, substituindo Taylor Lautner) e Taylor Dooley (a Lavagirl original, reprisando a personagem). Porém, um ataque extraterrestre bem-sucedido consegue dar um jeito de aprisionar estes poderosos, deixando a Terra indefesa. Nesta realidade, estes agentes do bem são comandados por uma poderosa organização (mais ou menos como visto na série The Boys, 2019-2021), que entre outras responsabilidades deveria cuidar dos filhos das suas maiores estrelas quando essas estão em ação. Porém, a incompetência corre solta, e se não houve habilidade para vencer os inimigos num primeiro momento, essa tarefa irá cair nas mãos justamente daqueles menos preparados para tal.

Quem logo assume a liderança dessa “turminha” é Missy (YaYa Gosselin, vista em séries como 13 Reasons Why, 2019-2020, e FBI, 2019-2020). O que logo fica claro é que os superpoderes são uma herança genética, e os descendentes dos heróis manifestam habilidades especiais cada um ao seu tempo – com exceção da protagonista, é claro. Missy é a filha única de Marcus (Pedro Pascal, melhor aqui fazendo nada do que no constrangedor Mulher-Maravilha 1984, 2020), que costumava ser o líder dos seres mais poderosos do planeta – ao menos até se aposentar. Chamado na última hora para salvar os antigos amigos em perigo, também acaba preso. E é nessa condição que sua herdeira descobre seu maior valor: não sendo capaz de esticar braços e pernas, prever o futuro ou mesmo voar, mas em comandar seus colegas num esforço conjunto, dando-lhes confiança e segurança para alcançarem o máximo dos seus potenciais.

Nesse momento, entre uma participação especial de Adriana Barraza (a “Fernanda Montenegro do México”, atriz que concorreu ao Oscar por seu desempenho em Babel, 2006) e uma série de desfiles afetados de Priyanka Chopra (num registro oposto ao visto no quase simultâneo O Tigre Branco, 2021), Rodriguez deixa claro estar se divertindo mais do que o espectador com o conjunto por ele orquestrado. A primeira é a velha instrutora, que dirá frases repletas de sabedoria ao mesmo tempo em que se esforça para parecer tão descolada quanto qualquer uma das crianças, enquanto que a outra surge como a chefe ranzinza que fará tudo para que se tenha uma determinada impressão a seu respeito, apenas para que mais adiante se revele ser o oposto disso. Nada surpreendente, ou muito pelo contrário – bastante óbvio, até.

E enquanto os pequenos passam a maior parte do tempo correndo por fundos verdes em cenários compostos quase que exclusivamente por efeitos visuais finalizados em pós-produção – outra etapa do trabalho que Rodriguez se ocupa solitariamente, realizando tudo em casa – o que resta para a audiência é uma turma de jovens atores todos muito parecidos entre si, sem nenhum que consiga se destacar dos demais. Essa mediocridade – e é exatamente essa a palavra, pois é tudo mediano, não necessariamente ruim, mas longe de ser memorável – é reflexo das motivações por trás do enredo e também do seu desfecho, feito de modo quase abrupto e anticlimático. O mais triste, no entanto, é descobrir, depois de toda essa tortura, que esta é apenas a segunda parte de uma já anunciada trilogia – quem sabe no próximo capítulo escolhem protagonistas de fato capazes de entreter os mais curiosos?

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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