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Sinopse

Ex-agente federal mexicano, Machete é contratado para matar um político norte-americano. Todavia, ele acaba se tornando alvo de outro matador. O que parecia uma execução ganha ares de conspiração contra o povo mexicano.

Crítica

O fato de ser um dos trailers falsos mais bacanas da sessão dupla Grindhouse (2007), idealizada e dirigida por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, não fazia de Machete uma aposta certeira de um bom filme. No máximo, uma sessão descompromissada e divertida, cheia de violência, nudez gratuita e um protagonista feio como um raio. Com isso em mente, Rodriguez transformou o que era uma brincadeira em um longa-metragem que basicamente cumpre o que promete. Tudo isso com um elenco invejável, diga-se.

Reza a lenda que o roteiro de Machete foi escrito por Rodriguez na época de A Balada do Pistoleiro (1995), mas só foi levado às telonas pela boa aceitação do então falso trailer dentro da sessão de Grindhouse. A direção é dividida entre Robert Rodriguez e seu usual parceiro Ethan Maniquis, editor de Planeta Terror (2007), que aqui estréia como diretor, e o roteiro é igualmente um trabalho conjunto, co-assinado com seu primo Álvaro Rodríguez.

Na trama, Machete (Danny Trejo) é um policial que tem sua mulher e filha mortas pelo perigoso traficante Torrez (Steven Seagal). Difícil de matar, Machete acaba escapando da morte certa e se refugia nos Estados Unidos, onde é contratado por um misterioso homem, Michael Booth (Jeff Fahey), para executar o senador norte-americano John McLaughlin (Robert De Niro). O político deseja colocar em prática uma controversa lei de tolerância zero contra imigrantes, e sua recandidatura é obviamente vista com maus olhos pelos mexicanos. Ao realizar o trabalho, Machete descobre que foi usado como bode expiatório e agora precisará livrar seu nome enquanto se vinga dos inimigos – e fica com belas mulheres, claro.

Para começo de conversa, para curtir Machete em toda a sua glória de trash exploitation é necessário estar no clima. Apesar de ter aqui e ali algumas críticas quanto a intolerância dos estadunidenses para com os imigrantes mexicanos, pouca coisa deve ser levado a sério desta sessão de cinema. A violência é bastante crua e exagerada – sangue jorra e o vermelho chega a saturar a tela, a nudez é totalmente gratuita (e forjada também, diga-se) e o roteiro é apenas uma mera desculpa para que Machete possa passear pela tela matando seus inimigos e transando com suas aliadas. Portanto, pode ser um filme divertidíssimo para alguns e uma verdadeira perda de tempo para outros.

É hilário observar Machete se livrando de todos os inimigos com golpes de facão que deixariam Jason Vorhees com inveja (e a cena envolvendo as tripas de um sujeito é terrivelmente criativa). É engraçadíssimo perceber que depois de ter eliminado dezenas de brucutus, o prêmio do mexicano é encontrar uma bela mulher nua na cama. E como não achar graça ao ver o elenco feminino inteiro caindo aos pés de um dos atores menos atraentes que Hollywood já colocou nas telonas?

Danny Trejo entende a grande chance que ganhou de Robert Rodriguez. Pela primeira vez como protagonista, o ator está acertadamente assustador como Machete. Atuando como uma força violenta incontrolável, mas sem nunca esquecer da boa educação com seus amigos, Machete é o clássico personagem que não deve ser incomodado. Não à toa, o slogan do filme trabalha esta característica (“They fucked with the wrong mexican”). Machete acaba sendo criado como o legítimo protagonista de filmes B. Neste caso, um filme B de luxo, que conta com nomes conhecidos do grande público como Lindsay Lohan, Jessica Alba, Michelle Rodriguez e Cheech Marin – além dos supracitados Jeff Fahey, Steven Seagal e Robert De Niro.

O elenco, como um todo, está bastante correto. De Niro força um sotaque sulista fajuto para encarnar o asqueroso senador texano que não tem pudor nenhum em eliminar qualquer imigrante ilegal que tenta cruzar a fronteira. O ator utiliza sua conhecida persona para brincar de vilão. Jeff Fahey se diverte como o pai apaixonado pela filha perua, Cheech Marin está impagável como um padre pouco usual e Michelle Rodriguez dá sua usual característica robusta à sexy Luz. Já Steven Seagal está tão inexpressivo como sempre, enquanto Jessica Alba é uma belíssima nulidade na atuação.

É interessante notar que muitas das cenas vistas no corte final de Machete já se encontravam no falso trailer lançado em Grindhouse. Portanto, em uma daquelas reviravoltas que só existem em Hollywood, um preview de brincadeira acabou virando um legítimo material de divulgação do filme. Obviamente, algumas cenas foram mudadas, mas o climão do longa-metragem já estava todo naquele trailer.

Com frases de efeito soltas pelo elenco de cinco em cinco minutos, Machete só não é altamente recomendável por ter uma história fraca demais. É óbvio que paga tributo aos filmes B antigos – que tinham tramas tão trash quanto suas produções – e tem no seu enredo furado uma de suas principais características. Quem entra na brincadeira pode se divertir horrores.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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