Crítica
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Sinopse
Mais conhecido como Pelé, Edson Arantes do Nascimento foi considerado o atleta do século 20 e o maior jogador de futebol da história do esporte. Um homem que ajudou a tornar o Brasil célebre mundialmente.
Crítica
Diante de um personagem como Edson Arantes do Nascimento, é recomendado estabelecer as diferenças entre a lenda e o homem. Entretanto, Pelé se interessa mais pelo mito, embora não se faça de rogado ao observar aspectos da vida pessoal do homem considerado o atleta do século 20. Nesse sentido, o jogador do Santos Futebol Clube perde espaço diante do protagonismo dele na seleção brasileira. Os cineastas Ben Nicholas e David Tryhorn partem da gênese, remontando aos tempos de menino em que Edson se espelhava no pai, também jogador, para perseguir um sonho que lhe deu adiante o status de realeza. Há um vasto material de arquivo à disposição, sendo certas imagens belíssimas e sintomáticas, como as das concentrações, a descontração nos bastidores das copas, as do primeiro casamento do sujeito que, ao ser questionado, confessa a dificuldade de ser fiel à jovem esposa. É bem-sucedido o alinhave dessas tramas tendo como linha os depoimentos de ex-colegas, tais como o não menos genial Pepe, testemunha privilegiada do surgimento de um moleque que se tornaria muito mais do que um esportista renomado, pois uma espécie de embaixador do Brasil no exterior. A atuação dele é entendida como essencial para dirimir o nosso complexo de vira-lata.
A estrutura de Pelé é simples. Os eventos considerados essenciais são as quatro copas do mundo jogadas pelo Rei. Na primeira, em 1958, assumiu o protagonismo com apenas 17 anos, levando o país a levantar a taça Jules Rimet, na Suécia. Na segunda, em 1962, machucou-se no começo do certame e não pôde fazer parte da campanha vitoriosa. Aliás, nessa parte do documentário, curioso que não haja qualquer alusão ao torneio maravilhoso que Garrincha fez. Considerado uma peça fundamental para o escrete canarinho vencer seu segundo mundial, o gênio das pernas tortas sequer é mencionado. Tudo gira em torno de Pelé, do infortúnio que o tirou de combate. Depois da terceira, a fatídica de 1966, na qual fomos eliminados na fase inicial, o camisa 10 jurou aposentar-se da amarelinha, mesmo que tivesse somente 26 anos. Grandes personalidades da crônica esportiva, como José Trajano e Juca Kfouri, dão testemunhos sobre esses reveses, ajudando a construir uma ideia consistente do sujeito que tinha de conciliar as quatro linhas e uma intensa vida comercial. Pena que o filme não mergulhe nessa natureza tumultuada do cotidiano de Pelé. Mas, como dito antes, o foco é o mito, o símbolo que arregimentava multidões, tornado um grande embaixador do país sul-americano.
A política Benedita da Silva e o cantor/compositor Gilberto Gil surgem esporadicamente para manifestar o que significava, do ponto de vista da afirmação racial do negro brasileiro, que Pelé fosse unanimidade, um emblema aceito e reverenciado em vários estratos. Porém, são pontuações insuficientes para transformar esse viés em algo relevante. Ao se aproximarem da copa de 1970, Ben Nicholas e David Tryhorn fazem o movimento interessante de utilizar o futebol e, por conseguinte, a figura universal de Pelé para entender melhor o conturbado cenário do país sob o jugo da ditadura militar. Ao ser questionado sobre as visitas aos golpistas, o protagonista reafirma sua indisposição com assuntos dessa seara. Juca Kfouri, amigo do Rei, abranda uma possível crítica à alienação de alguém que poderia fazer a diferença naquele momento, assinando embaixo que era preciso, primeiro, cuidar da própria integridade física. Não há um aprofundamento nessa questão, mas pelo menos ela está lá, disponibilizada, assim como as pressões sofridas por Pelé para entrar em campo no campeonato do México. Ele confirma que foi intimidado (mas não entra em detalhes) para repensar a aposentadoria. Imagens de arquivo contrapõem o enorme êxito nos estádios e a diária truculência do Estado.
O painel que Pelé desenha é amplo. Em determinados segmentos, falta vontade de investigar meandros e nuances. Porém, tal fragilidade é parcialmente compensada pelo conteúdo dos depoimentos colhidos e, principalmente, pela beleza do material de arquivo. Essa operação faz com que o longa-metragem consiga demonstrar a abrangência da relevância de Pelé, não apenas no cenário futebolístico, mas como estandarte de uma nação que aparecia com ambições de ser considerada a terra do futuro. Os principais gols do Rei ganham reprise, também os lances que o tornaram famoso. Certas polêmicas são trazidas à baila, já outras são citadas rápida e burocraticamente. O Pelé de hoje é um homem fisicamente debilitado, alguém que busca na memória prodigiosa os fatos dos tempos áureos. Locomovendo-se com o auxílio da cadeira de rodas, ele é atualmente um idoso frágil, mas ainda de fala firme e dotado de bastante vivacidade. Especialmente aos fãs do esporte bretão, o longa-metragem remete a tempo romântico do jogo e tenta garantir que, no afã de classificar outros atletas como geniais, nunca esqueçamos que Edson Arantes do Nascimento foi um futebolista sem igual. As controvérsias sobre paternidades não reconhecidas e a fins inexistem. O vital aqui é mesmo o ícone Pelé.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Lucas Salgado | 6 |
Wallace Andrioli | 5 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 5.8 |
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