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Sinopse

A história de Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos. De sua infância na cidade mineira de Três Corações até a consagração ao ganhar a Copa do Mundo de 1958 pelo Brasil, com apenas 17 anos.

Crítica

Que Pelé merecia um filme sobre sua trajetória, isso ninguém questiona. Um de alcance internacional? Melhor ainda. Poucos atletas tiveram carreira tão estelar quanto o brasileiro Edson Arantes do Nascimento, verdadeiro exemplo de história de superação, alicerçada no seu talento inato para o esporte. Sua vida era um filme implorando para ser feito. Infelizmente, a espera por um título à altura do biografado não foi recompensada. Pelé: O Nascimento de Uma Lenda não foge das armadilhas de cinebiografias corriqueiras, caindo em outras ainda mais complicadas, como o apagamento massivo de características da nacionalidade do retratado. Como se, para conceber uma obra que falasse com um número maior de pessoas, a brasilidade da história tivesse de ser suprimida.

Com direção de Jeff e Michael Zimbalist, o longa-metragem se atém à vida de Pelé desde sua infância pobre em São Paulo, passando pela oportunidade de jogar nas categorias de base do Santos, até seu estrelato como o mais jovem atleta a disputar uma Copa do Mundo – a de 1958. São dois jovens atores que ganharam a incumbência de viver Edson Arantes no cinema: Kevin de Paula e Leonardo Lima Carvalho (ambos competentes). Do elenco, o principal destaque é Seu Jorge como Dondinho, o pai de Pelé. Jogador de futebol no passado, ele teve de abandonar o esporte por um problema no joelho, mas parece ter passado seu talento para o filho. É ele quem dá força para Pelé suplantar obstáculos – e não foram poucos. Pobreza, preconceito, morte, insegurança. O astro do futebol precisou driblar adversários muito maiores do que seus oponentes nas quatro linhas para chegar onde chegou.

Incomoda que um filme sobre um dos maiores heróis do nosso esporte tenha sido filmado em inglês. Sabemos que não é nada raro o cinema norte-americano se apropriar de material estrangeiro e dar a sua própria roupagem. Mas em pleno 2017, com o cinema brasileiro mais potente do que nunca, é muito claro que a tarefa de transportar essa história para a telona deveria ter sido de alguém daqui. Não bastasse a língua inglesa ter sido utilizada, a trilha sonora de A.R. Rahman (o mesmo de Quem Quer Ser um Milionário, 2008) tenta mimetizar a música brasileira, mas não passa exatamente disso, de uma cópia.

Por falar em Quem Quer Ser um Milionário, esse filme parece ter sido o material no qual os Zimbalists se inspiraram para diversas cenas de Pelé: O Nascimento de Uma Lenda, principalmente o primeiro ato, estrelado pelas crianças. Os jogos rápidos de câmera, a ação desenfreada em meio a um cenário de pobreza e a música de Rahman – tudo remete àquela produção de Danny Boyle que, por sua vez, bebia totalmente na fonte de Cidade de Deus (2002). Curiosamente, Seu Jorge é uma das poucas pontes entre aquela produção nacional e este filme sobre Pelé.

Quanto à trama, existem muitas invencionices que irritarão quem conhece a história do biografado e que enganarão quem tenta conhecer mais a fundo a trajetória de Pelé. Talvez uma das mais estapafúrdias seja a afirmação de que Pelé só ficou conhecido por esse apelido depois da final da Copa de 1958. Ele já havia adotado o apelido muito antes. Outros jogadores da época também aparecem no filme, mas suas contribuições para a seleção acabam parecendo bastante opacas perante o protagonista. O melhor exemplo disso é Garrincha (Felipe Simas), coadjuvante de luxo nessa versão. E o que dizer da Ginga, o estilo de jogo bonito de Pelé? Ela surge quase como a Força de Star Wars. Algo que o protagonista precisa aprender a utilizar para virar o grande herói.

Um aviso para os fãs de Rodrigo Santoro: em alguns materiais de divulgação, o nome do ator aparece em destaque como um dos nomes do elenco. Ele é, na verdade, produtor associado do filme e surge durante menos de 10 segundos. Colm Meaney tem uma pequena participação como o treinador da Suécia, enquanto Vincent D’Onofrio interpreta o técnico da seleção brasileira Vicente Feola – e não se dá muito bem quando precisa soltar alguma das poucas palavras em português do roteiro.

Se é verdade que Pelé merecia um filme melhor sobre sua vida, não deixa de ser curioso que o próprio assine como produtor e, obviamente, tenha aprovado a versão ali mostrada. O rei do futebol aparece numa pequena ponta e finaliza o longa com uma curta narração. Além de algumas performances do elenco e da recriação de jogos da Copa de 58 com a bela fotografia de Matthew Libatique, o que Pelé: O Nascimento de Uma Lenda tem de positivo é o inteligente recorte usado para contar aquela história. Faltou apenas saber contá-la.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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