Crítica


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Sinopse

Pedro Coelho é um animal rebelde que apronta todas no quintal e até dentro da casa do Mr. McGregor. Os dois irão travar uma dura batalha pelo carinho da amante de animais Bea.

Crítica

Um ótimo indicativo da artesania fina presente na construção narrativa de Pedro Coelho é a maneira como o diretor Will Gluck apresenta o ímpeto aventureiro do protagonista, traço decisivo de sua personalidade. Ao invés de verbalizar a prevalência dessa característica, ele nos faz vivenciar um pouco a inclinação de Pedro à adrenalina, exatamente por meio da habilidosa movimentação de câmera que registra o primeiro embate desse pequeno astuto com o senhor Severino (Sam Neil), idoso proprietário da horta interditada ao acesso dos animais do entorno. Essa disposição a ter um espetáculo criativo pode ser percebida, também, no roteiro que amarra as intrigas da trama com bom humor e bastante espirituosidade. Baseado no livro As Aventuras de Pedro Coelho, da renomada Beatrix Potter – cuja história foi retratada em Miss Potter (2006) –, este filme se insere com propriedade no filão “para toda família”, porém sem com isso banalizar o percurso das figuras ou empurrar mensagens tortas de tão idealizadas.

Pedro é o líder de uma família de coelhos, desde a morte de seus genitores. Embora incorpore notavelmente um espírito heroico, ele possui falhas que o levam a cometer deslizes, inclusive por privilegiar a si em detrimento do conjunto. Seu antagonista morre inesperadamente, prestes a derrota-lo, o que libera, literalmente, a festa dos bichos. É nesse regabofe que conhecemos melhor os coadjuvantes carismáticos, do porco com jeitão esnobe, que se diz de dieta para logo depois chafurdar nas iguarias alheias, à senhorinha porco-espinho que adiante é central num momento cômico envolvendo choques elétricos e algo pontiagudo. Pedro Coelho é marcado por uma pegada que mescla objetividade e engenhosidade, especialmente no que tange ao delineamento dos personagens, partindo de uma lógica cartunesca, curiosamente notada mais nos humanos, contrastando expressivamente com a antropomorfização da fauna local. São bonitos, também, os excertos animados tradicionais, homenagens à autora.

Bea (Rose Byrne), projeção carinhosa da própria Beatrix, pois com ela divide o apelido e o hobby de desenhar coelhos silvestres, protege os animais. Já Tomas (Domhnall Gleeson), herdeiro do antigo proprietário da casa cujo quintal é o favorito dos leporídeos, é um sujeito com fortes tendências obsessivas, que preenche a lacuna de “vilão” tão logo se mude da Londres que desprezou seu empenho profissional ao interior bucólico. É previsível a paixão súbita dos vizinhos e que Pedro, antes o xodó da humana, desenvolva uma antipatia particular com relação ao homo sapiens que restitui cercas e barreiras ao seu alimento. Pedro Coelho é marcado por uma ingenuidade nostálgica que vai bem ao encontro das criações de Beatrix. Isso, todavia, não inibe o arranjo de camadas para além do superficial, com estofo suficiente para afastar as pessoas (e os bichos) da simplificação tão comum nessas produções infantis. O contexto justifica bem a disputa dos rivais pelo coração puro da mocinha simpática.

Os chegados de Pedro são um capítulo à parte, todos utilizados com precisão para nutrir o conjunto. Destaque às trigêmeas, irmãs do protagonista, sendo duas delas postulantes ao título de “chefe do trio”, com a recorrência da piada em torno dos 16 segundos que conferem “autoridade”, e a outra, uma moleca espevitada que frequentemente salta de alturas consideráveis, especialmente quando descobre suas várias costelas, que sofrem a traquinagem. Pedro Coelho tem um ótimo timming de encadeamento de gags, como a do galo que acorda o condado com seu espanto pelo alvorecer de mais um dia. Já Benjamin é um fiel escudeiro, sempre pronto a acompanhar Pedro, herói estabanado que exibe disparates, mas ímpeto para redimir seus erros, após a assimilação de valiosas lições, em semelhante medida. Rose Byrne e Domhnall Gleeson dominam o núcleo humano dessa fábula esperta, com um pé no passado e outro no agora. O acúmulo de soluções visuais inventivas, como Pedro servindo de vara de equilíbrio em determinado instante, liberta o filme da onipotência da palavra, permitindo-lhe ser uma jornada mais completa e divertida.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
8
Robledo Milani
7
MÉDIA
7.5

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