Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo
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André Marouço
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Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo
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2019
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Paulo de Tarso, considerado um dos principais apóstolos, era conhecido como Saulo antes de seguir o Cristianismo. Chamado posteriormente de Apóstolo dos Gentios, ele fundou comunidades cristãs em grande parte da Ásia Menor e da Europa durante o primeiro século da era Cristã.
Crítica
Antes conhecido como Saulo, o apóstolo Paulo de Tarso é considerado uma das pedras fundamentais do cristianismo, pois a ele é imputada a autoria de capítulos significativos do Novo Testamento. Sua perambulação doutrinária por diversos territórios, o subsequente registro dela, bem como a gnose supostamente derivada da ligação estreita com Jesus Cristo estão na base da maior religião da contemporaneidade (em número de adeptos) e de suas derivações. Em Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo o diretor André Marouço estabelece como esqueleto narrativo um tripé composto de imagens documentais emolduradas por uma soporífera narração em off, o testemunho de homens (de fé) que representam áreas do conhecimento e a dramatização de passagens consideradas importantes. Portanto, tais dinâmicas são, em tese, complementares do ponto de vista informativo, uma vez que, para além da pregação aos convertidos, é clara a vontade de revestir convenientemente o dogma com contornos factuais.
Dissecando um dos componentes desse dispositivo ineficaz, para dizer o mínimo, as imagens de viagens pontuadas pela voz monocórdica, nota-se uma oscilação amadorística entre as texturas e as intenções imagéticas, fruto do vasto acervo garimpado na internet, não registrado, é bom dizer – a julgar pela extensa lista de excertos licenciados nos créditos finais. A falta de um itinerário estético-narrativo que faça sentido passa pela simplória ilustração dos relatos bíblicos com vislumbres extenuantes e aparentemente aleatórios de afrescos, mosaicos, ruínas e toda sorte de frutos da produção artístico-arquitetônica em que é possível perceber o registro da ancestralidade do cristianismo. Há uma asfixiante sensação de que pouca coisa faz sentido nessa associação gratuita, servil ao antes mencionado propósito canhestro de atrelar aos eventos relatados na bíblia uma pretensa veracidade histórica que valide a crença. Assim, milagres atribuídos ao apóstolo são equivalidos às tradições das civilizações atravessadas pela gênese do catolicismo.
Os depoimentos de teólogos, psicólogos e especialistas são muletas inseridas banalmente para tapar determinados buracos e sublinhar a ausência de um projeto cinematográfico verdadeiramente consistente. Um dos homens (friso no gênero, pois não há mulheres entre aos ouvidos) é visto a partir de três perspectivas distintas, algo que ajuda a mostrar a bagunça que passa igualmente pelo roteiro confuso e disperso. Fica realmente difícil, em Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo, entender as distâncias, as dificuldades e mesmo o percurso do protagonista em sua jornada de evangelização. Perseguições, infortúnios e o gradativo ganho de terreno, inclusive em países absolutamente politeístas, são apresentados sem intensidade, o que acentua a debilidade decorrente da falta de jeito gritante/sufocante. André Marouço obviamente tem dificuldades para costurar múltiplos elementos e decide por estabelecer um percurso tão óbvio quanto infértil a fim de defender as suas teses questionáveis.
Mas o principal sinal da precariedade de Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo é a encenação. As interpretações estão abaixo da média, inclusive a de Caio Blat, ator de renome que aparece pouco, o suficiente para desapontar, provavelmente, até seus fãs mais ardorosos. Alexandre Galves, como Paulo de Tarso, tem mais tempo de tela para exibir um trabalho que beira o caricatural, repleto de caras, bocas e trejeitos apontando ao artificialismo projetado numa direção de arte paupérrima. Tudo fica pior ao se perceber a precariedade da pós-produção, especialmente quanto ao contorno tosco dos intérpretes atuando contra o fundo de chroma key. A debilidade do conjunto é tanta que a torna risível, mesmo quando as questões mostradas teriam de exalar dramaticidade. Pobre dos pontos de vista produtivo e da linguagem, o filme é uma quimera desconjuntada que caminha trôpega, intermitentemente, em direção ao fracasso retumbante.
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