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Sinopse

Rick e Fred recebem de suas esposas um passe livre para fazer o que quiserem durante uma semana. Em princípio, eles pensam em farrear e curtir a vida adoidado nesses sete dias, mas a realidade será bem menos empolgante.

Crítica

Como seria para um homem casado ganhar uma semana de folga do casamento, com a anuência da esposa? Ele voltaria a agir como solteiro, livre e desimpedido, ou seria um desastre entre a inadequação provocada pela idade e pela falta de prática e o peso na consciência? É nessa linha que a comédia Passe Livre se situa. A assinatura dos irmãos Peter e Bobby Farrelly e a presença de Owen Wilson e de Jason Sudeikis como protagonistas até levam o espectador a acreditar que estaremos diante de um besteirol descompromissado, mas falta coragem aos realizadores para irem totalmente neste caminho, e se há momentos ousados e grosseiros, há também outros ternos e repletos de carinho e sentimentalismo. Ou seja, vai agradar aos homens, mas também deixarão suas mulheres com um sorriso no rosto. E se por esse lado é satisfatório, por outro compromete suas intenções originais.

Passe Livre nada mais é do que um filme de uma piada só, repetida à exaustão por mais de 100 minutos. E se não é mais cansativo, isso se deve ao carisma do elenco, todos muito à vontade, e aos episódios mais desmiolados do enredo, que deixam o público literalmente de boca aberta. Cenas como a da sauna – com dois improváveis nus frontais masculinos – e a do espirro na banheira – com uma conclusão estarrecedora – são inéditas, e somente cineastas sem compromisso algum com o politicamente correto seriam capazes de torná-las realidade. Por isso mesmo que é estranho presenciar sequências como essas ao lado de outras mais ternas, como a do marido que não consegue trair a esposa, apesar da loira nua escultural que está se oferecendo em um quarto vazio, ou do tarado que prefere ficar lembrando da mulher ausente do que ir para a cama com a tia gostosona da babá. Isso sem mencionar outras piadas de gosto duvidoso, que nada acrescentam, como todo o episódio no campo de golfe ou a repetitiva confusão na massagista.

Para quem ainda busca um entendimento na trama, aí vai: Rick (Wilson) e Fred (Sudeikis) são casados com Maggie (Jenna Fischer) e Grace (Christina Applegate) há muitos anos. São todos felizes, mas eles não se cansam de ficar cuidando das outras mulheres pelas quais passam – como se suas esposas não percebessem. Elas, por sua vez, cansadas dessa pseudo-infidelidade, resolvem conceder um passe livre de uma semana, para que eles aprontem o que quiserem e, depois, voltem para casa. A psicologia por trás é que acreditam que os maridos irão se dar mal em suas experiências extraconjugais, percebendo que o melhor que possuem está em casa. E elas não estão de todo erradas. O que não previam, no entanto, é que elas acabariam se saindo melhor do que eles nesse processo. E agora, depois de tudo, será que os casais irão permanecer juntos?

Os irmãos Farrelly há muito já viveram seus melhores momentos, e seus últimos filmes tiveram resultados discutíveis – o último grande sucesso da dupla foi O Amor é Cego (2001), com Jack Black e Gwyneth Paltrow, em 2001. Certamente não será com Passe Livre que eles irão retomar o posto de reis da comédia masculina, mas ao menos serve para se manterem no jogo. E como não dá pra esperar muito de uma produção como essa, o melhor é curtir despreocupadamente e rir das bobagens de deslizam pela tela, sem se importar com o resultado final. Até, porque, depois de tanto filme sério na temporada do Oscar, algo leve assim pode encontrar seu espaço sem grandes prejuízos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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