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Sinopse

Jack Davis é um escritor vencedor do Pulitzer que lida com uma doença mental. Durante a década de 1980, porém, ele tenta, apesar das adversidades, criar sua filha Katie, que mais tarde relembra esse passado conturbado sob os cuidados do pai, e as cicatrizes que isso deixou na sua personalidade.

Crítica

Alçado a condição de revelação com o emocionante O Último Beijo (2001), o italiano Gabriele Muccino não demorou para ir tentar a sorte em Hollywood, conseguindo de imediato uma performance elogiada na condução de À Procura da Felicidade (2006), drama que rendeu a Will Smith uma indicação ao Oscar. O diretor, no entanto, não conseguiu repetir a boa sorte em seus trabalhos seguintes – seja novamente ao lado de Smith em Sete Vidas (2008), na continuação irregular do seu maior sucesso em sua terra natal Beije-me Outra Vez (2010), ou no genérico Um Bom Partido (2012). Por isso, é interessante vê-lo novamente diante de um elenco internacional neste Pais e Filhas, título menos ambicioso e mais focado nos personagens, que no entanto não deixa de lado a principal marca característica do realizador: uma forte carga emocional.

Ao contrário do que se poderia supor pelo nome do filme, Pais e Filhas não é uma obra coral aos moldes do que Garry Marshall fez a respeito do Dia das Mães no recente O Maior Amor do Mundo (2016). Ou seja, ao invés de vários exemplos superficiais de pais tendo que lidar com suas filhas, o que encontramos é a relação conturbada entre um homem, o escritor Jake Davis (Russell Crowe, em composição dedicada), e sua filha, Katie (vivida pela revelação Kylie Rogers, de Milagres do Paraíso, 2016, na infância, e por Amanda Seyfried, quando adulta). Após um acidente de trânsito, ele perde a esposa, e a menina, a mãe. Sozinhos, os dois precisam descobrir como seguirem adiante. O problema é que ele desenvolve uma condição pós-traumática, que o leva a se internar durante sete meses em uma clínica de recuperação – e, mesmo assim, os efeitos dessa nova condição irão repercutir por toda a sua vida.

Durante este tempo, a menina fica aos cuidados dos tios, vividos por Diane Kruger e Bruce Greenwood (ele, particularmente, em atuação mais discreta e convincente do que a dela). O que acontece é que, ao perceberem o estado do pai da sobrinha, decidem entrar na justiça contra ele, exigindo a guarda da garota. Enquanto essa batalha familiar se desenvolve, acompanhamos , mais de vinte anos no futuro, o dia a dia de Katie, uma mulher solitária e problemática. Ainda que esteja prestes a se formar em psicologia, não consegue entender a si mesma, entregando-se a um comportamento autodestrutivo de sexo com estranhos e bebedeiras. Suas únicas pontes com uma vida um pouco mais normal começam a se desenvolver a partir de dois encontros: com Cameron (Aaron Paul, talvez o melhor do elenco), um homem que vê nela o potencial de ser o seu grande amor, e a pequena Lucy (Quvenzhané Wallis), uma órfã vítima de um lar desfeito que se recusa a falar desde a morte da mãe.

Outro fator importante a ser levado em consideração na trama de Pais e Filhas é que o protagonista defendido por Crowe é um renomado escritor, vencedor do Prêmio Pulitzer por um dos seus primeiros trabalhos. Sua decadência, portanto, não se restringe apenas ao aspecto íntimo e pessoal, mas acaba refletindo também na sua popularidade e na recepção de sua nova obra, um livro que termina por ser incompreendido e massacrado pelo público e crítica. Isso contribui tanto na deterioração de sua estrutura psicológica como também em aumentar sua dedicação ao romance seguinte, que promete mudar de forma definitiva a realidade em que se encontram. A questão é que nem todos os aspectos de uma determinação como essa são, numa análise mais fria e detalhada, positiva. E serão as consequências destes atos que Katie terá que carregar consigo.

Muccino não é um diretor particularmente discreto em suas emoções, e qualquer um que já tenha visto algum dos seus filmes anteriores sabe da importância que ele costuma dar às relações humanas. Em Pais e Filhas a situação não é diferente. Esta abordagem um tanto exagerada pode afastar espectadores mais reticentes, porém não resulta em um longa descartável. É uma visão sincera que defende, sobre a influência que os pais podem ter no futuro de seus filhos, e como muitas vezes o melhor nem sempre significa o mais fácil a ser feito. Por outro lado, é com tristeza que percebemos as oscarizadas Jane Fonda (como a agente literária de Davis) e Octavia Spencer (como a chefe de Katie) serem desperdiçadas em participações menores e sem muita relevância. Assim, entre altos e baixos, tem-se aqui um discurso assumidamente emocional, que não tem vergonha de se assumir como tal e que deverá encontrar ressonância entre os afeitos a esse tipo de narrativa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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