Crítica

O sucesso que O Último Beijo (2001) teve na época, não apenas na Itália, mas em várias partes do mundo, catapultou a carreira de seu diretor e roteirista Gabriele Muccino. O cineasta foi para Hollywood, onde acabou realizando os bons (pero no mucho) À Procura da Felicidade (2006) e Sete Vidas (2008), ambos estrelados por Will Smith. Foi preciso voltar à terra natal para redescobrir o sucesso (não só do público) com a sequência de seu filme mais famoso, lançado aqui no Brasil com três anos de atraso (o filme é de 2010). Beije-me Outra Vez traz de volta praticamente todos os adoráveis personagens de seu antecessor. Porém, se o público espera o mesmo frescor do primeiro, pode se preparar para um sabor agridoce.

Uma década se passou desde o casamento de Carlo (Stefano Accorsi) e Giulia (Vittoria Puccini, que substitui Giovanna Mezzogiorno no papel). Agora eles estão separados há três anos, mas o publicitário continua tentando voltar para a mulher, ao mesmo tempo em que tenta engatar um relacionamento sério com alguém. A reunião com os melhores amigos se dá com a volta de Adriano (Giorgio Pasotti), que estava preso em outro país. Sua ex-mulher, Lívia (Sabrina Impacciatore), agora namora Paolo (Claudio Santamaria), cada dia mais perturbado mentalmente e vivendo à base de antipsicóticos. E se parecia que Marco (Pierfrancesco Favino) estava feliz com Veronica (Daniela Piazza), a situação muda completamente pois ambos não conseguem ter filhos. Já Alberto (Marco Cocci) permanece no sexo casual, sem assumir compromissos.

Se em O Último Beijo a trama tinha um foco maior em Carlo e Giulia, desta vez todos os personagens ganham ainda mais importância (afinal, no primeiro filme eles já tinham seus destaques) e, exatamente como na montagem do antecessor, todas as histórias se conectam de forma rápida, sem enrolação, de uma maneira que não cansa e nem sobrecarrega o espectador com excesso informações. Pelo contrário. O roteiro é tão bem pontuado que em nenhum momento deixa o público pensar: “ei, mas onde está aquele personagem?”. Talvez a única “falha” neste sentido seja Alberto. Porém, ele permanece o mesmo, não há muito mesmo o que contar.

A direção de Muccino continua sensível e segura. Mesmo utilizando o humor muitas vezes para tratar do drama de suas criações, o diretor não esquece que em Beije-me Outra Vez o assunto torna-se ainda mais sério. Seus personagens já estão com quase 40 anos e vivem crises de casais de meia-idade que vão muito além das traições do primeiro filme. Agora eles são pais com filhos crescidos, ex-presidiários sem rumo, profissionais que estão à beira de perder o emprego por conta da crise na Europa. Tudo isto mesclado, é claro, às dificuldades de entender como o amor entre duas pessoas se manifesta de diversas formas. Quando a sessão termina, a vontade que dá é pular mais dez anos para saber o que acontece com Carlo, Giulia, Adriano e companhia, especialmente após uma tragédia. Se isto vai ocorrer? Só Muccino pode nos contar.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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