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Sinopse

Brad é um executivo que tenta ser um padrasto amado pelos seus dois enteados. Para tanto, ele se dedica a cuidá-los, educá-los e ser carinhoso com as crianças. Porém, seu plano se esvai quando o verdadeiro pai dos pequenos, Dusty, vem visitá-los e, com seus modos irresponsáveis, conquista a atenção deles. Decidido a não deixar que seus esforços tenham sido em vão, Brad vai fazer de tudo para ser tão legal quanto Dusty, desencadeando diversas situações absurdas.

Crítica

Diz o velho ditado que em time que está ganhando não se mexe. Essa talvez seja a única explicação para Will Ferrell e Mark Wahlberg terem aceitado trabalharem mais uma vez juntos, após o descartável Os Outros Caras (2010) ter arrecadados mais de US$ 170 milhões nas bilheterias de todo o mundo. Os dois astros, no entanto, resolveram ‘diversificar’, e ao invés de uma comédia de ação, o que entregam agora é uma comédia familiar. A mudança, enfim, talvez não tenha sido tão drástica, afinal o que os fãs dos dois querem mesmo é ver a cara de pateta de um e o bíceps avantajados do outro. E isso Pai em Dose Dupla entrega sem restrições, apesar de ter esquecido no processo de todos os requisitos necessários para se ter um filme, no mínimo, apresentável.

O mais triste, no entanto, é perceber que por trás dessa gigantesca bobagem está o produtor Adam McKay, indicado ao Oscar 2016 pelo genial A Grande Aposta, o qual assina também como diretor. Aliás, foi por estar ocupado com esse projeto (muito) mais relevante que ele precisou abrir mão dessa direção, permitindo que o desastrado Sean Anders – do constrangedor Este é o Meu Garoto (2012) e do frustrante Quero Matar Meu Chefe 2 (2014) – se ocupasse disso. Nela, Ferrell é um desajeitado medroso e todo certinho pai de família, apaixonado pela esposa (Linda Cardellini, que se saiu melhor como mulher do Gavião Arqueiro em Vingadores: Era de Ultron, 2015) e pelos dois enteados (Owen Vaccaro e Scarlett Estevez). Ele faz de tudo para conquistar o afeto dos pequenos, que na melhor das hipóteses apenas o ignoram – quando não o maltratam. Mas quando as coisas pareciam mudar a seu favor, eis que retorna o pai biológico dos pequenos, vivido por um Wahlberg motoqueiro, selvagem e rebelde.

Como se pode perceber pela rápida sinopse, estamos navegando por um terreno de clichês intermináveis e personagens estereotipados. Tudo que poderia ser resolvido apenas com uma rápida conversa, por exemplo, acaba se estendendo por confusões desnecessárias e sem graça, cuja única finalidade é prolongar esse martírio de uma só piada. Nada é muito justificado: por que Ferrell não relaxa e tenta ganhar os garotos com calma, sem exageros? Ou qual a razão de Wahlberg voltar de uma hora para outra, se em última instância fica evidente que ele não está pronto para assumir qualquer tipo de compromisso? Participações de Thomas Haden Church (como o patrão inconveniente cujos discursos simplesmente não fazem sentido) e de Bobby Cannavale (como o médico especialista em fertilidade que sai de cena quase tão rápido quanto aparece) também terminam por se revelarem irrelevantes, pois pouco acrescentam à trama, não contribuindo com o humor nem com o enredo.

Will Ferrell é um ator de uma nota só, e qualquer espectador que já o tenha visto em mais de um filme sabe bem disso. Portanto, está provado que não dá para esperar nada muito diferente dele. Já Mark Wahlberg cada vez tem se revelado mais um homem de negócios do que um artista interessado em aprimorar sua arte. Ainda que conte com uma (justa) indicação ao Oscar no currículo (e por um filme estrelado por Leonardo DiCaprio, Matt Damon e Jack Nicholson, do qual ele foi o verdadeiro destaque), seu foco tem sido nos últimos tempos o tilintar das bilheterias – e as continuações Ted 2 (2015), Entourage: Fama e Amizade (2015) e Transformers: A Era da Extinção (2014) deixam isso bem claro. E se este é seu único objetivo, parece estar dando certo – afinal Pai em Dose Dupla foi outro inexplicável sucesso de público. Agora, só não vá vê-lo esperando algo engraçado, divertido ou ao menos interessante. Tudo aqui é descartável, até um eventual riso que vez por outra possa surgir – ele será esquecido ainda antes do término da sessão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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