Crítica
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Sinopse
Maria Ribeiro, em outubro de 2018, uma semana antes da eleição presidencial, decide registrar um país dividido, relacionando a tensão política ao término de um casamento.
Crítica
Debruçado sobre os sete dias que antecederam a eleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil, em 2018, Outubro demora a engrenar justamente pelo fato da direção, a cargo de Maria Ribeiro e Loiro Cunha, postergar a definição do seu foco. A atriz/diretora passa boa parte do primeiro terço do filme expondo dúvidas acercas de procedimentos e dispositivos, investigando o processo para encontrar o filme capturado no calor de um momento de relevância político-social. Partindo da associação da iminente colocação de um político de extrema direita no topo do executivo federal brasileiro com a separação conjugal, ela transita por um ato bolsonarista na Avenida Paulista vestida de noiva, na companhia de uma colega trajada de preto. A dinâmica ficcional intentada não se concretiza e o longa-metragem, nesse instante, utiliza a essência de uma frustração que não afeta de modo determinante a realizadora, especialmente pelo desapego aos roteiros prévios.
A insistência em fazer uma ponte entre o pleito e o casamento é um dos pontos que entrava o desenvolvimento de Outubro, o ancorando num ideal perseguido incessantemente. Por mais que Maria Ribeiro ofereça pontos de convergência relativamente satisfatórios – e o romantismo supostamente necessário para dar seguimentos aos laços matrimoniais e às democracias surge como o melhor deles –, tal noção não chega a desprender-se de uma concepção que se integraliza apenas no íntimo da criadora. Outro componente que diminui a potência do relato construído com o reforço das vozes de figuras proeminentes da sociedade tupiniquim é o excesso de explicação a respeito dos métodos e desvãos. Não há, especialmente na primeira metade do conjunto, espaço para que o espectador chegue às suas próprias conclusões sobre o trajeto, pois ele é bem pormenorizado.
Em certos instantes parece que Maria Ribeiro está fazendo um mea culpa pela falta de consistência do projeto inicial, buscando dirimir eventuais fragilidades mediante a incorporação do desnudamento dos artifícios. Na medida em que os dias se sucedem, numa contagem regressiva dramática rumo à mudança radical dos ventos nacionais, esses exageros vão arrefecendo, dando lugar à potência de depoimentos como o do jornalista Chico Sá que, em meio ao despojamento de seu lar, num convidativo clima de intimidade, discorre sobre questões como a ascensão da truculência e a desilusão de boa parte da população com as políticas públicas encabeçadas pelo Partido dos Trabalhadores. Também são valorosas as passagens que abordam o fenômeno nefasto das fake news e até o entendimento da aproximação da direita com os anseios de uma parcela menos abastada da população. Nesse sentido, o testemunho de Sérgio Vaz é o que amplia o debate para além de platitudes.
Outubro é um documento histórico, ainda que narrativamente errático, pela forma como empreende um diagnóstico desse estado de espírito na iminência do resultado trágico nas urnas. Diante da “morte anunciada”, Maria Ribeiro e Loiro Cunha colhem declarações de um público heterogêneo, irmanado pela preocupação quanto ao Brasil nas mãos de um mandatário cultor da Ditadura Civil-Militar, regime que conduziu o país com agressividade por mais de 20 anos. Quando detidos na pungência dessas falas, ou mesmo atentos a episódios comoventes, tais como o do ator e cantor Ravel Andrade cantando sua poesia melancólica enquanto tenta esclarecer as dúvidas dos indecisos na véspera do pleito, eles atingem resultados inquietantes e até bonitos, dentro das circunstâncias. Todavia, ao insistir em componentes inférteis, como a já mencionada relação com os casamentos rompidos, ambos expõem as fragilidades de seu documentário algo estupefato.
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