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Sinopse

Num teatro, os Trapalhões começam uma viagem pelas eras da humanidade, oo Império Romano até a Idade Média, passando pelo Velho Oeste e a Primeira Guerra Mundial.

Crítica

No ano de 1986, a passagem do Cometa Halley pela órbita terrestre foi sem dúvidas um dos assuntos mais comentados na mídia mundial. Como ocorre com todo evento desta magnitude, não demorou para que o universo artístico utilizasse o tema como inspiração, e os Trapalhões estiveram entre os que aproveitaram a oportunidade. No ano anterior, o grupo havia lançado Os Trapalhões no Reino da Fantasia (1985), que trazia um trecho de dez minutos em que Didi, Dedé, Mussum e Zacarias apareciam em versões animadas, desenhadas por Maurício de Sousa. E foi esta sequência de animação que serviu como base para o desenvolvimento de um novo longa, dirigido por Dedé Santana.

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Os Trapalhões no Rabo do Cometa tem um prólogo que mostra os humoristas durante uma apresentação no Teatro Scala, no Rio de Janeiro. Apesar de servir como registro do auge da popularidade dos Trapalhões, eles que lotavam casas de shows, esta introdução nunca chega a ser tão divertida quanto poderia, pois mesmo com algumas boas piadas, a encenação soa demasiadamente ensaiada e sem a espontaneidade demonstrada nos programas de TV do quarteto. Ainda neste início, e sem qualquer explicação, Maurício de Sousa aparece no palco mostrando os desenhos que fez de cada Trapalhão. Neste momento, Dedé se lembra da cena citada do filme anterior e Maurício avisa que o personagem do Bruxo que nela aparecia ainda está à solta.

Logo sem seguida, surge o Bruxo em questão, fazendo com que os comediantes sejam transportados para o mundo dos desenhos. Inicia-se, então, uma viagem através do tempo, cuja primeira parada é na pré-história, onde o vilão aguarda o Cometa Halley para fazer com que um feixe de energia, unindo todas as forças do Bem e do Mal, atinja o seu triângulo de cristal, tornando-o o mago mais poderoso do universo. Acontece que Didi ouve o plano e coloca a mão no triângulo no exato momento do acontecimento cósmico, impedindo que ele se complete. Agora o Bruxo deve viajar até as próximas passagens do Cometa e segurar a mão de Didi para finalizar o ritual.

Ainda no cenário pré-histórico, temos a primeira de várias participações musicais especiais, que estão entre os elementos mais divertidos da história, com o grupo Ultraje a Rigor fazendo uma versão de seu sucesso “Eu Me Amo” rebatizado de “Eu Não Rango”. Outros nomes importantes como Ira! e Premeditando o Breque também participam da trilha, além de bandas oitentistas que depois desapareceriam: Rumo, Metalurgia e Synopse. O fato de trabalhar com a animação e o absurdo da trama permite que o diretor Dedé Santana e seus companheiros invistam num humor completamente nonsense, que gera ótimos momentos como na Grécia, com Mussum Aquiles e o Jegue de Troia, ou na Roma Antiga, com Zacarias Nero e uma sequência no Coliseu, onde o público ostenta uma faixa pedindo as “Diretas Já!”. A sequência que brinca com os filmes de máfia, passada nos anos 30/40, também tem boas sacadas, como a fuga da prisão em que Didi desliga uma tomada que acredita ser da luz da torre dos guardas, mas acaba apagando a Lua.

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Há também espaço para merchandisings engraçados, como os da Gelatina Royal, e para a participação de personagens consagrados de Maurício de Sousa, como Horácio e Jotalhão. O traço distinto do cartunista torna as caricaturas dos comediantes bastante simpáticas, mas as limitações da animação são visíveis, com poucos movimentos e falta de sincronia com a dublagem em muitos trechos. Um resultado que fica um pouco abaixo de outras produções de seu estúdio, como A Princesa e o Robô (1983). Outro problema do longa é a repetição de situações (Didi impedindo o Bruxo de completar o ritual) e de diálogos na trama (o Bruxo lembrando seu plano, a piada sobre segurar a mão de Didi).

A falta de nexo do roteiro é extrapolada várias vezes, seja na cena da Idade Média, com cavaleiros da Távola Redonda jogando baralho entre robôs e ninjas, ou na pouco inspirada passagem pelo Velho Oeste. As coisas melhoram no ato final, situado em um morro carioca da década de 80, cenário do mais lúdico número musical, com Mussum entoando um samba enquanto ocorre um desfile de instrumentos musicais. A figura do Bruxo, que tem um fantoche de corvo com vida própria no lugar de uma das mãos, também merece destaque, especialmente por seu desfecho e pela ótima dublagem do falecido comediante José Vasconcellos.

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No fim, entre altos e baixos, a sensação que prevalece é a de que este foi um produto feito às pressas, com ideias inacabadas sendo alongadas para formarem um longa-metragem. Talvez se o projeto tivesse sido concebido em outro formato, de curta ou média, o resultado poderia ser mais satisfatório.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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