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Sinopse

Numa noite qualquer, quatro amigos ao redor de uma fogueira recebem a visita de um disco voador. Dentro do OVNI sai um príncipe em busca de aliados para lutar contra um tirano que deseja dominar o universo.

Crítica

Os Trapalhões na Guerra dos Planetas tem lugar cativo na memória dos fãs do quarteto capitaneado por Renato Aragão. O longa-metragem foi o primeiro a contar com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias no elenco, a formação do grupo que ficaria eternizada no cinema e na televisão. Não bastasse isso, é uma das maiores bilheterias da trupe, ficando atrás apenas de O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977) e Os Saltimbancos Trapalhões (1981), com pouco mais de 5 milhões de espectadores. Pegando carona no sucesso de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977), o filme tinha a intenção de parodiar a criação de George Lucas, injetando humor naquela ópera intergaláctica. O intento, infelizmente, não é alcançado. Apesar da incontestável bem-sucedida bilheteria, o longa-metragem dirigido por Adriano Stuart é rasteiro em qualidade, com demasiado uso de câmera-lenta, efeitos visuais canhestros e um fiapo de roteiro que, de tão mal executado, não deixa espaço para o humor dos quatro heróis brasileiros.

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A trama começa em alta rotação. Perseguidos por um grupo armado, os Trapalhões tentam a todo custo fugir da situação. O culpado é Didi, que se engraçou com uma mulher casada e colocou o grupo todo em risco. Depois de escapar de seus algozes, o quarteto é surpreendido pela visita de um alienígena, o príncipe Flick (Pedro Aguinaga), que pede ajuda para libertar o planeta das garras do vilão Zuco. Relutantes, mas convencidos após uma promessa de alta recompensa, os amigos partem nesta jornada. Ao chegarem lá, terão de enfrentar as forças do mal daquele planeta em busca da princesa Myrna (Maria Cristina), raptada pelo vilão com feições de Darth Vader. Quem ajudará os heróis é o melhor amigo de Flick, Bonzo (Emil Rached) – a versão tupiniquim do Chewbacca. O príncipe, por sua vez, é uma mistura de Luke Skywalker e Han Solo, mas com um quimono em vez da tradicional túnica dos jedi. Muitos problemas da produção de Os Trapalhões na Guerra dos Planetas são perdoáveis pelas condições pouco favoráveis do fazer cinema no Brasil na década de 1970. Os altos custos dos efeitos visuais, por exemplo, não permitiram que o longa-metragem fosse realizado em película. Utilizando equipamento de televisão, o filme foi enviado para os Estados Unidos para que fosse transformado em 35mm. Quem assiste a Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança hoje e acha risíveis os efeitos visuais, não vai conseguir parar de rir com as precárias trucagens da paródia brasileira. Estas, no entanto, são questões explicadas pelo período em que foi realizado o filme e as condições presentes no nosso país.

Por outro lado, nada justifica o uso indiscriminado do recurso que muda a velocidade da ação. O principal é a câmera-lenta, que aparece insistentemente durante toda a trama. Em toda e qualquer cena de ação o slow motion é utilizado. Quando não isso, o diretor acelera a cena ou a repete, num tenebroso déjà vu que nos assombra por boa parte da história. Se tirássemos este recurso, é muito provável que a duração do filme diminuiria dos seus 88 minutos para 60. Aliás, uma edição bem pensada de Os Trapalhões na Guerra dos Planetas transformaria o longa em um média de 30 minutos, visto que algumas cenas são extremamente compridas e, não raro, vão a lugar nenhum. A cena de perseguição do início, por exemplo, poderia ser cortada na metade. A cena da festa intergaláctica poderia nem existir.

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Para os fãs dos Trapalhões, o que sobra são alguns bons momentos da trupe, demonstrando boa química desde o início da junção do quarteto. As personalidades de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias já se mostravam bem delineadas pelo elenco, ainda que se perceba a construção de algumas características em pleno filme. Um bom exemplo disso é Renato Aragão chamar Mussum de Antonio Carlos em alguns momentos, sem a utilização da alcunha que o faria famoso. Por falar no saudoso sambista, é sempre divertido observá-lo trocando o final das palavras, esbanjando simpatia. Com curioso uso de efeitos sonoros e uma criativa, porém pobre, direção de arte, Os Trapalhões na Guerra dos Planetas teria de evoluir muito para poder ser chamado de um bom filme. Felizmente, a equipe dos comediantes conseguiria, com o passar do tempo, profissionalizar seus esforços entregando boas produções no futuro. Não é o caso desta aqui, que serve apenas para rir pelos motivos errados.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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