Crítica
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Sinopse
Nove profissionais contratados para traduzir o aguardado livro final de uma trilogia best-seller estão confinados em um luxuoso bunker. Quando as dez primeiras páginas do manuscrito ultrassecreto aparecem online, o emprego dos sonhos se torna um pesadelo – o ladrão é um deles e a editora está pronta para fazer o que for necessário para desmascarar o culpado – ou a culpada.
Crítica
A estrutura, por mais incomum que possa aparentar num primeiro instante, é bastante familiar aos fãs do gênero: vários suspeitos, um crime, possivelmente um único culpado (ou mais, dependendo da situação). Estando isso claro, o que o diretor francês Régis Roinsard tenta alcançar em Os Tradutores é uma brincadeira que, se bem conduzida, possuía grandes chances de entreter com eficiência, ainda que dificilmente conseguisse alcançar qualquer patamar mais elevado. Os problemas com os quais se depara nesse caminho, no entanto, são vários, e vão desde o se levar a sério demais – parece ser ele o único a não reconhecer a própria irrelevância do conjunto que ostenta – até a um evidente despreparo em lidar com um elenco tão heterogêneo. Pois o que é anunciado como um dos seus grandes trunfos termina por se revelar a pedra mais incômoda desse sapato.
Assim como no seu longa anterior, o simpático A Datilógrafa (2012), Roinsard se volta mais uma vez a um tema um tanto em desuso: os bastidores do mundo literário. Como o título adianta, no centro da trama estão nove profissionais da área encarregados de, ao mesmo tempo, traduzirem o novo volume da série de best sellers Dédalus, cujo autor, recluso e misterioso, é o grande fenômeno do momento. Graças à imensa expectativa gerada pelo lançamento, a editora propõe uma estratégia ousada – e diferenciada – para evitar que qualquer informação a respeito circule pela internet antes da hora. Assim, os convocados para o trabalho – um em cada língua, do português ao russo, do espanhol ao grego – ficarão, no espaço de dois meses, trancafiados em um bunker no subsolo de um antigo castelo, com todas as mordomias possíveis, tendo como missão apenas um compromisso: terminarem o trabalho.
A apresentação de tipos tão diversos é suficiente para chamar a atenção. A ucraniana Olga Kurylenko, o italiano Riccardo Scamarcio e o espanhol Eduardo Noriega talvez sejam os rostos mais conhecidos, mas os cinéfilos deverão reconhecer a dinamarquesa Sidse Babett Knudsen, o inglês Alex Lawther (O Último Duelo, 2021) e o vietnamita (aqui fazendo vezes de chinês) Frédéric Chau (Que Mal Eu Fiz a Deus?, 2014). Também são interessantes as presenças da alemã Anna Maria Sturm (Uma Cidade em Alerta, 2018), da portuguesa Maria Leite (Diamantino, 2018) e do grego Manolis Mavromatakis. É curioso, portanto, que tais escolhas se apresentem em tamanha dissonância justamente em relação ao protagonista da história, o francês Lambert Wilson. Seja nas poucas cenas mais íntimas, nas quais aparece ao lado de apenas um ou outro personagem, ou quando o conjunto está reunido e precisa demonstrar comando e autoridade, é justamente o oposto que se percebe: descontrole, instabilidade e um excesso de emoções que não fazem jus ao tipo que se propõe construir. Alguém como ele, dado a tais destemperos, nunca ocuparia o lugar em que se apresenta.
Por outro lado, Lawther é a grande surpresa. Depois de ter liderado em um dos melhores episódios de Black Mirror (Shut Up And Dance, T03 E03, 2016), o rapaz vem conquistando espaços de maior destaque a cada nova produção. Tal posição se confirma também aqui, eclipsando participações que poderiam gerar maiores apostas, como Kurylenko (resignando-se ao papel da dama fatal) ou Noriega (servindo apenas ao clichê do emocionalmente inseguro). Aliás, com tanta gente reunida, sobra pouco tempo para que todos sejam devidamente aprofundados, e a maioria acaba restrita ao clichê que lhe é destinado, como Knudsen (a mulher independente que, por isso, não suporta a família) ou Scamarcio (o metido e puxa-saco). Se a trama em si não se esforça em ser convincente, ao menos se deparar com talentos reconhecidos e a oportunidade de descobrir novos intérpretes faz valer muitos dos esforços envolvidos.
Deixando essa irregularidade na condução dos atores, Os Tradutores termina por se deparar, portanto, com a própria irrelevância do seu argumento. Afinal, quem hoje em dia ainda se importa com vazamento de informações no universo digital? Quando um chantagista começa a ameaçar divulgar páginas e mais páginas do novo livro online, um estrategista antenado veria isso mais como uma oportunidade de marketing e publicidade gratuita – as capas dos jornais e revistas estão aí para comprovar – do que uma condenação prematura do fim dos negócios e uma inevitável bancarrota. A montagem de Loïc Lallemand (indicado ao César por Divinas, 2016) até busca uma engenharia mais complicada, mas serve apenas para disfarçar o inevitável: há pouco a ser dito, mesmo entre tantos detalhes que pouco contribuem com o todo. No final das contas, nem a revelação do autor – ou autores – do crime parece importar, pois nada apresentado até aquele momento parece ter sido suficiente para capturar a curiosidade de um espectador perdido entre tantos tiros e nenhuma mira.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Ticiano Osorio | 5 |
MÉDIA | 5 |
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