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Sinopse
Era um pequeno grupo de demolidores de mundo. Perdidos na multidão, mas ligados uns aos outros, viviam na solidão da clandestinidade, às voltas com suas contradições: amavam a vida humana, mas desprezavam a própria vida. Estavam prontos ao sacrifício. Niilismo, melancolia, traição, desespero: consciências trágicas em uma longa viagem ao fim da noite. Um conto de amor e de morte, em um mundo em que o estado-de-exceção veio a se tornar regra e os últimos dias da humanidade não terminam nunca.
Crítica
Ruiz (Rômulo Braga) e L. (Clara Choveaux) são integrantes de um grupo de inconformados com os rumos da sociedade absolutamente dominada por poderes espúrios. Os Sonâmbulos é um retrato cinematográfico desse dissenso localizado, no qual a teatralidade dos gestos e da impostação verbal está a serviço da construção cinematográfica, esta enriquecida pela excelência da fotografia e do desenho de som. Cada quadro do filme transpira rigor e plasticidade, mas isso não é concernente a uma possível busca infrutífera ou vazia pela beleza pura e simples. O cineasta Tiago Mata Machado almeja, com sucesso, conceber uma simbologia pulsante, em que formas, sons e reações se imiscuem para produzir sentidos ora concretos, ora abstratos, atrelados a um intento revolucionário bastante profundo e complexo. A atenção aos corpos, ao que as palavras denotam e escamoteiam, são sintomas dessa narrativa resultante do redemoinho provocado pela centrifugação dos vários discursos. Embora ocasionalmente incorra numa dinâmica retesada, o conjunto exala inconformidade.
No âmbito puramente visual, Os Sonâmbulos apresenta concepções primorosas, como num deslocamento dos amantes do primeiro plano, cujo clímax é o abraço apresentado ao longe, por meio das sombras no prédio ao lado. Aqui, o movimento cria novos significados, vide a tomada das pernas desnudas se entrelaçando numa dança improvisada sobre o colchão, vislumbre que logo propicia uma ressignificação esteticamente potente. O realizador instiga o espectador a todo o instante via provocações audiovisuais, principalmente com ruídos e músicas fornecendo amplitudes ao previamente delimitado pelo dispositivo, demonstrando uma criatividade relativa ao desejo de acessar mundos interiores. Ocasionalmente surgem interações e diálogos que clarificam mais as coisas, apontando ao ímpeto destrutivo dos homens e das mulheres que vagam como fantasmas por não conseguirem dormir diante de tanta injustiça social, de uma política vinculada ao desejo dos poderosos de perpetuarem-se no poder e se tornarem invencíveis. A aniquilação soa como a única saída viável ao êxito.
Alternando metáforas, Tiago Mata Machado cria um longa-metragem duro, denso, de consciente impenetrabilidade às facilidades, base da vontade patente de retratar, à sua maneira, a angústia de uns frente ao que os demais apenas aceitam. As composições de Rômulo Braga e Clara Choveaux, principalmente, evidenciam a visceralidade de um pensamento contrário ao status quo, disposto a apostar na própria obliteração como caminho à mudança. Francis Vogner dos Reis, também um dos roteiristas da produção, interpreta uma figura de ambiguidade riquíssima, reivindicando o sacrifício alheio como forma de substanciar a causa, mas depois confessando ao espectador sua simpatia por ideais fascistas. Não há, diferentemente do que se vê na realidade, uma inclinação pelo simplório. Tiago evita posicionar-se necessariamente à esquerda ou à direita, embora demonstre óbvia admiração pela coragem geralmente associada a um desses lados.
Em Os Sonâmbulos os postulados são sustentados pela estruturação das imagens e do som, esforço criativo responsável por gerar uma sensação singular de instabilidade. Seja mirando os corpos nus ou o poder expurgatório do fogo, o longa mantém sua imaleabilidade formal como uma bandeira contrária aos prenúncios de uma arte domesticada e amplamente comercializada. Mesmo que as escolhas acarretem relativo cansaço, que determinadas cenas sejam menos efetivas que outras, o conjunto exibe uma bem-vinda excelência audiovisual, por meio da qual a política e a ética particular se anunciam. Um dos segmentos mais incisivos e diretos é justamente o marcado pelo recorte literal de tipos notórios do jornal. Podemos perceber Michel Temer, Aécio Neves, Sérgio Moro e José Serra, relacionados constantemente a negociatas e barganhas fraudulentas com o poder público. Eles são retalhados e reorganizados em quimeras coladas nas paredes, o que permite maior acessibilidade à simbologia que perpassa essa ótima soma de estilhaços contundentes.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Chico Fireman | 6 |
Wallace Andrioli | 7 |
Ailton Monteiro | 5 |
Diego Benevides | 6 |
MÉDIA | 6.2 |
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