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Sinopse
Em Os Caras Malvados 2, os agora convertidos Lobo, Tubarão, Piranha, Aranha e Cobra tentam ser bons moços. Porém, nesse processo, acabam sequestrados por um esquadrão de mulheres criminosas e impiedosas, as Garotas Malvadas, para executar um sofisticado e arriscado assalto. Animação/Crime/Aventura.
Crítica
Quando um filme que já nasce com cara de franquia arrecada nas bilheterias mais de três vezes o valor do seu orçamento, a produção de uma sequência é mera questão de tempo. Pois eis que agora se tem Os Caras Malvados 2, a inevitável continuação de Os Caras Malvados (2022), outra série de animação da DreamWorks a se confirmar mais um produto calcado nos personagens e menos uma história que ansiava por ser contada – da mesma forma como aconteceu com Madagascar, Shrek ou Kung Fu Panda, por exemplo. Os cinco vilões clássicos do mundo animal – Lobo, Tubarão, Piranha, Cobra e Aranha – estão mais uma vez reunidos, e tal como havia acontecido na aventura anterior – e em muitas destas apropriações de antagonistas à frente do enredo – ele precisam mais uma vez provar que não são tão maus assim, ou até mesmo inocentes, buscando responsabilizar aqueles que são bandidos de verdade. Ou seja, a vilania novamente está mais no título do que no cerne dos acontecimentos.
Se o primeiro filme ao menos tinha a proposta de acompanhar essa mudança de perspectiva, dos inimigos declarados que aos poucos iam se transformando em heróis populares, dessa vez a manobra não é mais tão sutil, assumindo-se de forma escancarada desde o começo como um jogo de espelhos, do malvado que vira bonzinho quando desiste de se mostrar uma ameaça aos olhos dos outros e lutar para que esses acreditem na sua redenção, para que no instante que isso, enfim, aconteça, sejam mais uma vez desmoralizados e passem, daquele momento em diante, a lutar para reverter as coisas, encontrar os verdadeiros culpados e se livrar de uma falha que nunca foi deles. Lobo segue como chefe do bando, e talvez seja o que mais tenha que lidar com desafios em sua até então inédita condição: ninguém parece crer nessa sua postura de bom moço. O Tubarão é a força bruta nervosa, a Piranha é o selvagem controlado, a Aranha resolve tudo na última hora e a Cobra parece ter descoberto novos interesses além da unidade do grupo. Sem um plano que os uma, o motivo para voltarem a atuar terá que vir de fora. É chegada, portanto, a hora da virada.
É interessante perceber o quanto os envolvimentos românticos, sejam platônicos ou não, são importantes em Os Caras Malvados 2. Há de se entender que muito se deve pela direção seguir sob responsabilidade de Pierre Perifel, esse deixa claro estar mais à vontade para abordar assuntos que vão além da ação passageira, concentrando-se – ainda que levemente – em outras temáticas ditas maduras. A Cobra está apaixonada e é tanto enganada quanto tem certeza ter encontrado o amor de sua vida – justamente pela inversão de valores que caracterizam estes protagonistas. Mas o foco maior está nas dúbias relações estabelecidas pelo Lobo. Primeiro, há seu envolvimento com a prefeita Diane, uma raposa que só não foi denunciada por seu passado como contraventora por caridade do grupo de ex-bandidos, o que permitiu que ela se elegesse para o comando da cidade. Depois, outras duas fêmeas passam a demandar atenção do canídeo. Primeiro, a comissária Luggins, que o admira e dele desconfia em iguais proporções. Depois, a felina Kitty Kat, a líder de um novo grupo de vilãs que passará a chantageá-los, em meio a uma ameaça de revelar um segredo do passado e a exigência do fatídico “último golpe” que permitirá que, uma vez completo, sigam em paz seus caminhos.
Se por um lado esse novo viés parece oferecer ao conjunto um toque de novidade muito bem-vindo, se faz necessário ressaltar também a maior liberdade dos realizadores em assumir o tom cômico que domina a maior parte da trama. Mas não apenas uma comédia pastelão ou qualquer outro tipo de humor mais raso. O espectador irá se deparar com um riso provocado pela surpresa, pelo inesperado e por algo que parece estar absolutamente fora de controle, aproximando-se perigosamente do limite do bom gosto, ao mesmo tempo em que contorna tais diretrizes com reviravoltas e deboches mais elaborados. É como uma versão ainda mais doentia e perspicaz de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (2021), longa lançado diretamente em streaming que acabou sendo indicado ao Oscar justamente por investir num discurso corajoso e desprovido de amarras – é essa a linha seguida pelos roteiristas Etan Cohen (Trovão Tropical, 2008) e Yoni Brenner (A Era do Gelo: O Big Bang, 2016). Por essa mistura, que tem como ponto de partida o carisma de tipos facilmente reconhecíveis, agora dispostos a trilhar por caminhos surpreendentes, que mesmo fórmulas há muito desgastadas parecem mais uma vez funcionar, fazendo deste Os Caras Malvados 2 uma aposta à altura do investimento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Alysson Oliveira | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
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