Crítica


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Sinopse

Um incêndio gigantesco na região do Arizona levou a um verdadeiro combate com os mais experientes bombeiros da região. E para superar o desafio, todo esforço será necessário.

Crítica

Antes de mais nada, é importante não confundir esse filme com o homônimo Homens de Coragem (2016), estrelado por Nicolas Cage e repleto das bravatas com as quais o ator ficou acostumado nos últimos anos. Esse Homens de Coragem Only the Brave, no original – é, por sua vez, inspirado na história real dos bombeiros da Montanha de Granito, o primeiro grupo de elite de combatentes do fogo de estrutura municipal a ser certificado para atuar em nível nacional nos Estados Unidos. A história, repleta de momentos de transformação, valentia e atos grandiosos, realmente merecia ser levada às telas, pois contém os elementos necessários a um épico intimista, que envolve passagens de proporções fora do comum, ao mesmo tempo em que ilumina com sensibilidade os indivíduos por trás destes acontecimentos. A se lamentar, apenas, a mão pesada do diretor Joseph Kosinski, mais afeito ao espetáculo destas situações do que ao lado humano de cada questão.

Baseado no artigo No Exit (Sem Saída, em tradução direta), publicado na revista GQ por Sean Flynn, Homens de Coragem narra a ação de Eric Marsh (Josh Brolin) e seu esquadrão de soldados dispostos a combater o fogo com... mais fogo! Não são bombeiros convencionais, pois não atuam em áreas urbanas. Localizados em uma cidade no interior do Arizona, encontram-se cercados por grandes parques nacionais e áreas verdes das mais diversas dimensões. Por isso, se tornam especialistas em lidar com incêndios em matas e florestas, provocados pelo clima quente e baixa umidade do ar. Muitas vezes sem condições de ir com um caminhão-pipa até os locais em crise – quando conseguem, é através de um suporte aéreo, via helicópteros e aviões preparados para tais ocasiões – o foco principal de é não lidar diretamente com o foco em chamas, mas em observar para onde este se dirige e conter o seu avanço, cavando trincheiras e desmatando áreas – muitas vezes com fogueiras controladas – que impeçam que o estrago seja maior do que o já danificado.

Qualquer manual de roteiro diz, já em suas primeiras linhas, que se a intenção é ilustrar um plano maior, o indicado é começar por algo específico, mais direcionado. Em Homens de Coragem, acompanhamos os dramas vividos por Marsh e sua esposa, a criadora de cavalos Amanda (Jennifer Connelly), e a dificuldade dos dois em construírem uma família – ele passa a maior parte do tempo viajando e ela, sozinha, quer ter filhos, algo que nunca esteve nos planos dele – e no novato Brendan McDonough (Miles Teller), um garoto que vivia jogado no sofá de casa, invariavelmente drogado, que após descobrir que uma ex-namorada está grávida e ir parar na prisão por causa de uma briga de bar, é expulso de casa pela própria mãe. Como último recurso, decide se juntar ao time da Montanha de Granito, para enfim dar um rumo à vida. O início é sofrido, mas aos poucos vai conquistando seu espaço, não apenas reconquistando o respeito da família, mas também por se aproximar da filha e participando efetivamente de sua criação.

Enquanto as cenas de fogo são de deixar qualquer queixo caído – não à toa, o filme recebeu duas indicações na premiação anual da Sociedade de Efeitos Visuais dos EUA – e servem para ilustrar o drama que estes profissionais vivem a cada dia – o urso de fogo, recorrente nos sonhos do líder, é particularmente impressionante – Kosinski falha em sua abordagem sobre os conflitos humanos envolvidos. Acostumado com o mundo da publicidade, por onde atuou por anos antes de investir no cinema, e com o universo das histórias em quadrinhos, entregou anteriormente dois filmes que encheram os olhos, porém careciam de ‘alma’: Tron: O Legado (2010) e Oblivion (2013). Numa escala menor – e, por isso mesmo, mais problemática – Homens de Coragem tenta seguir nessa linha, sem espaço, no entanto, para avançar. A trajetória de redenção de McDonough é tão pesada que se assemelha às mais equivocadas novelas religiosas, enquanto que o embate caseiro enfrentado por Marsh e a esposa só escapa da mediocridade graças ao talento dos atores – Brolin tem ficado cada vez melhor como essa figura nobre, porém inabalável, enquanto que Connelly, há tempos sem um papel digno do seu potencial, demonstra uma profundidade no olhar que capta a atenção do espectador, mesmo com seu tempo limitado em cena.

Tanto pelo crédito diferenciado dado à Taylor Kitsch – um dos bombeiros do grupo – ou por causa olhar mais próximo sobre a jornada de Miles Teller, ou ainda pelo temperamento esquentado do capitão de Josh Brolin, é quase inevitável esperar por uma tragédia no caminho dos especialistas da Montanha de Granito. Kosinski, no comando dessa história, pouco faz para disfarçar – seja pela fotografia que busca enaltecê-los a todo momento, ou pela trilha sonora que estimula a admiração por seus feitos, mesmo os mais banais – eliminando o fator surpresa da equação. No entanto, quando o pior de fato acontece, vai ser difícil encontrar alguém do lado de cá da tela que esteja preparado para tanto. Homens de Coragem, assim, encontra sua força justamente aqui, na verdade dos eventos que reúne e nos esforços dos envolvidos em cena, que deixam claro quão comprometidos estão em entregar o que possuem de melhor. Seja em nome dos homenageados, ou mesmo dos personagens que recriam com nítida paixão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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