Crítica


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Sinopse

A equipe da embarcação USS Indianapolis está presa no mar das Filipinas, cinco dias após entregar as armas atômicas que ajudaram no fim da Segunda Guerra Mundial. Enquanto esperam o resgate, passam fome, sede e ataques de tubarões.

Crítica

Em uma das cenas mais dramáticas de Tubarão (1975), de Steven Spielberg, o personagem Quint (Robert Shaw) narra para Brody (Roy Scheider) e Hooper (Richard Dreyfuss) sua experiência de sobrevivência à tragédia com o navio de guerra USS Indianapolis, responsável por transportar pelos mares das Filipinas a bomba atômica que seria lançada sobre Hiroshima e que, em seguida, foi torpedeado por um submarino japonês, com os sobreviventes permanecendo alguns dias à deriva, tendo de lutar por suas vidas contra centenas de tubarões famintos. Muitos foram devorados. Homens de Coragem, de Mario Van Peebles, transforma justamente essa história, de enorme potencial cinematográfico, em filme.

Pena que num filme B, com baixíssimo orçamento e, ao mesmo tempo, propensão à grandiosidade ufanista de um Pearl Harbor (2001). Homens de Coragem, aliás, por vezes parece uma compilação de cenas (e temas) diretamente sugadas não só do duvidoso filme de Michael Bay, mas também de Titanic (1997). Curiosamente, em outros momentos Van Peebles, diretor e ator já relativamente experiente, se mostra bastante competente no trato com a imagem e no domínio da linguagem cinematográfica. Vale citar duas sequências da primeira hora de filme: uma que se inicia num cinema e continua com marinheiros brancos e negros brigando na rua, em que Van Peebles cria algumas belas composições visuais; e outra já em alto mar, quando, por meio de um uso esperto da montagem, o diretor prega uma pequena peça no espectador, semelhante ao que Jonathan Demme fez no epílogo de O Silêncio dos Inocentes (1991).

A partir daí, no entanto, Homens de Coragem sucumbe à ruindade de seus efeitos visuais – que se tornam importantes por conta da opção pela grandiosidade, citada anteriormente –, aos muitos lugares-comuns presentes no roteiro de Cam Cannion e Richard Rionda Del Castro e ao elenco fraco, encabeçado por um Nicolas Cage que parece estar o tempo todo se segurando para não começar a berrar e gargalhar para a câmera de Van Peebles. Ainda assim, o conhecido overacting de Cage aparece aqui e ali no filme. Há um momento específico, já no epílogo, em que seu personagem encontra o oficial da Marinha Imperial Japonesa responsável por afundar o USS Indianapolis e a expressão do ator, com olhos esbugalhados e, novamente, uma visível vontade contida de começar a rir, se mostra absolutamente fora do tom solene que o diretor pretendia criar.

Tal epílogo, aliás, é um equívoco completo. Findo o drama em alto mar, que é o centro adequado da narrativa de Homens de Coragem, Van Peebles decide incluir uma constrangedora cena de tribunal, apressada, mal montada e que serve para o diretor tentar construir, de qualquer jeito, algum tipo de crítica ao governo norte-americano. Considerando que o filme, apesar de acertos pontuais, desperdiça uma grande história, é difícil não projetar o que esse material poderia render, tanto no aspecto da dramaturgia quanto no da crítica política, nas mãos de um Clint Eastwood, que já trafegou por temas semelhantes aos de Homens de Coragem no díptico A Conquista da Honra/Cartas de Iwo Jima (2006).

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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