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Sinopse

Carlos é cover de Elvis Presley e sempre viveu em negação quanto à própria identidade. Próximo da idade que o Rei do Rock tinha quando morreu precocemente, ele se depara com o vazio. E no meio disso surge a sua filha.

Crítica

Há muito a ser discutido em O Último Elvis, escrito e dirigido pelo novato Armando Bo, um cineasta que chegou há pouco no cenário cinematográfico latino e internacional, mas que tem demonstrado ter muito a dizer. Seu único trabalho anterior a este fora o roteiro de Biutiful (2010), dirigido por Alejandro González Iñárritu e indicado ao Oscar nas categorias de Filme Estrangeiro e de Melhor Ator, para Javier Bardem. Uma estreia de peso, que se confirma – e se relaciona fortemente – também neste e com seu primeiro projeto como realizador. Bo segue com seu olhar focado nas periferias das grandes cidades, trocando dessa vez Barcelona por Buenos Aires, mas com problemas e dilemas bastante similares: falta de dinheiro, ausência de um núcleo familiar forte, carência de amor, uma vontade quase desesperada de ser um outro alguém. Só que, dessa vez, a fantasia tomou conta do protagonista, acabando com as fronteiras entre desejo e realização.

Carlos Gutiérrez (um impressionante John McInerny, em seu primeiro e único trabalho até hoje, num desempenho quase sobrenatural) é Elvis, ou melhor, gostaria de ser Elvis Presley. Cantor com certo talento, ganha o pão do dia-a-dia personificando o rei do rock’n’roll em feiras, apresentações covers e festas de segunda categoria. Sua dedicação ao ídolo é tamanha, no entanto, que aos poucos irá lhe afastar da realidade. O que vê ao seu redor – a mulher que o abandonou, a filha que não o reconhece, o apartamento pequeno e sujo, as poucas oportunidades de ascensão – é tão pobre e desestimulante que a única saída que encontra é se refugiar na fantasia do personagem idealizado. O que era um hobby vira trabalho sério, que aos poucos se torna sua própria vida. Carlos não existe mais. A partir de certo ponto, somente Elvis tem espaço.

Até que o destino dá uma guinada e lhe chama à razão. A ex-esposa, Alejandra (Griselda Siciliani, também excelente, equilibrando um carinho e um desprezo com a mesma intensidade), sofre um acidente de trânsito, que lhe deixa imobilizada no hospital. Cabe a ele, portanto, ter que assumir – ainda que somente por uns dias, durante sua recuperação – a responsabilidade de cuidar da pequena Lisa Marie  - mas não Presley, o sobrenome da garota é Gutiérrez. Aquele convívio forçado e inesperado lhe oferece uma sobreforça. Será o momento de assumir às rédeas da sua história, revelar todo o potencial que possui e fazer o melhor show de todos os tempos? Oferecer uma performance – em casa, no trabalho, no palco – que somente um mito seria capaz? 

Como o próprio título já anuncia, O Último Elvis fala, de fato, sobre o último dos Elvis Presley, o fim de uma linha, que assim como o primeiro de todos também não terá um final feliz. A visita à Graceland, nos Estados Unidos, a casa que foi de Elvis Aron Presley, tanto aponta para a realização de um sonho há muito acalentado como o anúncio de uma etapa que se encerra. O futuro não é brilhante para aqueles que não conseguem deixar a cópia de lado sem se arriscar em busca de algo realmente original. Um sentimento que, se toma conta do protagonista deste triste e profundo drama, ao menos passou longe do seu realizador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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