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Sinopse

Depois de perder tragicamente seu filho pequeno, Jessie e Mark decidem adotar um menino. O garoto se adapta bem à nova família, mas seus sonhos começam a se tornar reais, especialmente os pesadelos.

Crítica

A figura da criança atormentada por manifestações sobrenaturais é com certeza um dos arquétipos mais utilizados pelo cinema de terror. A mente infantil, afinal, ainda não apresenta um desenvolvimento completo da distinção entre real e imaginário, tornando-se um catalisador apropriado para os filmes do tipo. Em O Sono da Morte, o diretor Mike Flanagan parte exatamente dessa noção para mostrar a história de Jessie (Kate Bosworth) e Mark (Thomas Jane), um casal que enfrenta a dor recente da trágica perda do filho e, tentando combatê-la, aceita adotar um garoto da mesma idade, Cody (Jacob Tremblay). Mas, apesar de ser adorável e se adaptar rapidamente à nova família, o filho adotivo guarda um segredo: seus sonhos se materializam, bem como seus pesadelos. Uma habilidade que se mostra tão extraordinária quanto perigosa.

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Responsável por outros exemplares do gênero – como O Espelho (2013) e Hush: A Morte Ouve (2016) – Flanagan busca um caminho levemente distinto neste novo trabalho, apostando mais na fantasia do que propriamente no horror. O cineasta se mostra, inicialmente, empenhado em explorar as possibilidades do universo onírico presente no roteiro do qual é co-autor, já que os sonhos de Cody – que possui um fascínio particular por borboletas - permitem a construção de uma aura de encantamento que muitas vezes se sobrepõe ao típico sentimento de pavor e tensão. Além dessa tentativa salutar de se diferenciar, Flanagan também possui o mérito de dedicar um tempo acima da média à criação da ambientação e ao desenvolvimento do aspecto dramático que envolve os personagens - suas personalidades, motivações etc.

Com a escolha por estabelecer com mais cuidado esse viés psicológico, o filme visa tratar do tema da perda e de como ela pode afetar uma pessoa, seja adulto ou criança. Para isso, além do tempo de projeção reservado a tal discussão, Flanagan conta também com a competência de seu elenco, a começar pelo jovem Tremblay. O ator-mirim do momento demonstra a mesma desenvoltura vista em O Quarto de Jack (2015), com talento suficiente para segurar um papel com mais camadas do que o habitual - em relação a produções similares - sem soar exagerado. Thomas Jane aparece carismático na pele de Mark, mas seu personagem possui uma importância limitada, pois praticamente todo o peso do sofrimento do casal recai sobre a esposa, que acaba assumindo o protagonismo pleno do longa.

É Jessie que comparece às reuniões do grupo de apoio, que toma as decisões e que também vê no poder de Cody um meio de suprir a ausência do filho biológico. Sua recusa em aceitar essa perda gera o maior conflito do longa, e Bosworth corresponde com segurança às exigências da personagem. Mas mesmo que Flanagan abra espaço para investigar esse drama, isso não significa necessariamente que a investigação seja realmente aprofundada. O didatismo das sequências da terapia em grupo, por exemplo, pouco acrescenta de fato ao que já se poderia afirmar sobre o estado emocional de Jessie. Essa repetição do óbvio embala o filme numa escala geral, vide o flashback apresentado na cena do encontro com o pai adotivo anterior de Cody, que basicamente só confirma tudo o que já era possível deduzir desde sua primeira aparição.

Vários outros pontos discutíveis permeiam o enredo, como as atitudes incongruentes da assistente social ou os detalhes improváveis que envolvem o passado de Cody com as outras famílias adotivas. No que diz respeito à parcela de suspense/terror de O Sono da Morte, Flanagan demonstra um bom domínio dos códigos do gênero, conseguindo instaurar uma atmosfera satisfatória e trabalhando bem o poder da sugestão em momentos-chave, como no primeiro relance do Homem-Cancro - o ser aterrorizante, e grande ameaça da história, que povoa os pesadelos de Cody - ou a cena com a aparição na escola. Infelizmente, esses trechos são exceções, e as soluções previsíveis e sustos fáceis dominam o resto do longa. E mesmo a concepção visual da citada criatura, que causa impacto num primeiro momento, aos poucos perde sua força.

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Tudo isso nos leva ao grande desfecho, em que novamente fica evidente o desejo de se arriscar do diretor, mergulhando inteiramente na questão do enfrentamento do luto, tanto de Jessie quanto de Cody. Nesse anseio, porém, Flanagan esbarra no sentimentalismo exacerbado - carregado de trilha sonora emotiva e câmeras lentas - insinuando uma completude na resolução que não se sustenta. Nem é preciso colocar em discussão toda a elucidação do trauma do garoto - com a junção das peças do quebra-cabeça sob a perspectiva da interpretação psicológica simplificada - mas sim a maneira como ela ocorre, sendo absolutamente dependente de uma transformação abrupta e improvável de uma personagem que se mostrou tão instável ao longo da trama quanto Jessie. Ainda que se possa elogiar Flanagan por tentar fugir da invariabilidade que permeia o cinema de terror atual, sua execução nem sempre acompanha o nível de suas aspirações.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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