O Senhor do Labirinto
Crítica
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Sinopse
O filme conta a história do sergipano Arthur Bispo do Rosário, que, diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, é internado em uma instituição psiquiátrica, a Colônia Juliano Moreira. Em meio à clausura e à violência desta colônia psiquiátrica, ele produz, ao longo de 50 anos, assombrado por suas alucinações, um acervo de bordados, estandartes e assemblages com claros traços de arte pop contemporânea.
Crítica
Arthur Bispo do Rosário – ou apenas Bispo, como ficou conhecido – nasceu em Sergipe no começo do século XX, no dia 14 de maio de 1909. E é desse estado quase sem tradição no cinema brasileiro de onde vem a cinebiografia O Senhor do Labirinto, projeto cujo propósito é válido – resgatar a obra de um artista praticamente desconhecido do grande público – porém com uma realização muito aquém do esperado. E como diz o velho ditado, de boas intenções o inferno está cheio.
Considerado louco por alguns e gênio por outros, Bispo passou grande parte da sua vida internado na Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro e destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (ou seja, doentes psiquiátricos, alcoólatras e outros cuja compreensão fugia ao entendimento da época). Negro, pobre e nordestino, Rosário chegou a ingressar na Marinha, foi boxeador e biscateiro, além de ter trabalhado no Departamento de Tração de Bondes, na capital carioca. Seu rumo começou a se delinear ao ser contratado como empregado doméstico da família Leone, em Botafogo. Foi durante sua passagem por essa casa, em uma noite aparentemente normal, quando suas alucinações começaram. Acreditava ser um escolhido de Deus, e, em muitas ocasiões, se apresentava como o próprio Jesus Cristo. A peregrinação passou por igrejas e mosteiros, até que acabou preso e conduzido a um hospício, para depois ser recolhido à colônia de repouso. Lá, contando com a simpatia dos guardas e enfermeiros, conseguir dar vazão ao seu impulso criativo, elaborando com sucatas, lixo e outros objetos descartáveis peças que se tornariam conhecidas internacionalmente.
A trajetória de Bispo é, evidentemente, merecedora de um filme. Não, no entanto, de um como esse dirigido pelos estreantes Geraldo Motta e Gisella de Mello. Ao invés de se preocuparem com as inspirações deste artista tão singular, suas necessidades criativas e como lhe foi possível prosperar artisticamente vivendo em um ambiente tão limitador, os diretores contentam-se em apenas narrar os fatos um após o outro, construindo uma estrutura episódica e didática, quase sem conexão entre si. Atores como Maria Flor – um personagem importante, mas que surge somente perto do final da trama e sem nenhuma introdução apropriada – e Eriberto Leão (uma única cena, quase descartável) são desperdiçados de modo vergonhoso. Nada que se compare, entretanto, ao que acontece com Irandhir Santos, um dos melhores atores brasileiros da atualidade, que surge como um coadjuvante pouco explorado e sem profundidade. Suas motivações nunca são explicadas, não entende-se qual o propósito de seus atos, e ainda sofre-se com uma caracterização rasteira e convencional. E nem vamos falar da maquiagem constrangedora, que piora ainda mais a situação dele e do protagonista.
Eis que chegamos, portanto, à participação de Flavio Bauraqui, ator de presença constante nas telas, porém na maioria das vezes de modo discreto e ligeiro. Após estrear nos marcantes Madame Satã (2001) e Quase Dois Irmãos (2004), em que dividia as atenções de igual com nomes como Lázaro Ramos e Caco Ciocler, ele vinha amargando na última década personagens menores e participações especiais. Por isso, entende-se seu interesse em estrelar um projeto que prometia tanto quanto esse. Infelizmente, a recíproca não se revela verdadeira, pois seu talento não é aproveitado de acordo com seu potencial. Suas ações são contidas, não há elementos fílmicos que invistam na sua versatilidade, e o que resta são cacoetes que mais incomodam do que colaboram com o avanço da história.
Mas o pior de O Senhor do Labirinto é o fato do longa simplesmente desprezar o retratado e seus méritos. Além de um narração corriqueira no começo apresentando quem ele foi e de onde vinha, quase nada se percebe durante o desenrolar da drama a respeito das verdadeiras conquistas de sua obra. Num momento há o guarda que o protege, em seguida surge um jovem pesquisador com algumas perguntas, até que a estagiária de psicologia se interessa por seu caso. Quando menos se espera surge um filme, o convite para uma exposição, mas tudo permanece sempre igual. E assim fica o espectador, que só alcança algum entendimento após os letreiros nos créditos finais. A função deles é óbvia: servem para explicitar quem foi este homem, tarefa que o filme que lhe foi dedicado falha em conseguir.
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