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Sinopse

A Rainha da Neve quer criar um novo mundo no qual o vento polar esfria as almas humanas e cobre o planeta com gelo, ordenando a destruição de todas as artes. De acordo com as previsões de um espelho mágico, a última ameaça aos planos da rainha está nos espelhos do mestre vidreiro Vegard, que refletem não apenas a aparência, mas também a alma das pessoas. Então, o vento polar sequestra Vegard e sua mulher Una, deixando os filhos Kai e Gerda para trás.

Crítica

Volta e meia aparecem duas produções que tratam do mesmo assunto disputando as bilheterias mundiais. Os casos mais recentes foram no ano passado com Espelho, Espelho Meu e Branca de Neve e o Caçador, que fizeram releituras (não propriamente muito louváveis) da história da princesa fugitiva e seus amigos sete anões. Para o final de 2013 está prevista a estréia da nova animação da Disney, Frozen, baseada no conto A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen (autor de O Patinho Feio e A Pequena Sereia, para citar apenas alguns de seus clássicos). Coincidência ou não, esta é a mesma fonte de inspiração do russo O Reino Gelado, que estréia agora nos cinemas brasileiros após uma carreira de relativo sucesso em seu país de origem.

Na adaptação da trama, a Rainha da Neve (que parece a Feiticeira Branca de As Crônicas de Nárnia, 2005) quer destruir toda a forma de arte e demonstração de afeto de seu reino, o que inclui espelhos que revelam a alma de quem o enxerga. Com isso, o vento polar sequestra um dos mestres desta magia, Vegard, ao lado de sua esposa Una, deixando seus filhos Kai e Gerda para trás. Os irmãos são separados e, após anos, Kai é capturado por ser o sucessor de seu pai. É aí que Gerda vai em busca do garoto e acompanhamos sua aventura por um mundo gélido e absurdamente belo, enfrentando alguns inimigos poderosos e tendo o apoio de personagens que parecem ter saído de outros contos de fadas.

A animação é o primeiro longa-metragem dos diretores Vlad Barbe e Maksim Sveshnikov e, como todo bom primeiro trabalho, apresenta tantos defeitos como qualidades. Antes de mais nada, vale ressaltar que este é o tipo de produção que vai agradar muito mais às crianças do que aos adultos que forem acompanhá-las na sessão. Não que a história seja ruim, mas acaba pecando pela ingenuidade excessiva, com soluções fáceis e quebras de ritmo muito acentuadas. Em qualquer obstáculo que Gerda se mete ao lado de sua fiel fuinha Luta (que, como o nome já indica, é extremamente corajosa, apesar de ser uma criaturinha aparentemente muito dócil) e do troll servo da rainha Orm (uma mistura do Burro da quadrilogia Shrek e de Syd da franquia A Era do Gelo) as coisas acontecem de forma previsível e rápida demais, o que pode acabar causando certa sonolência nos mais velhos, por mais que a garotada possa se divertir com o show de caretas e piadas inocentes, especialmente da dupla Luta/Orm.

Em uma das sequências, por exemplo, o trio vai parar na floricultura de uma bruxa e, entre a descoberta de quem é aquela pessoa e a batalha para sair do local, há pouco mais de dez minutos. Não que tempo seja algo extremamente necessário para determinar a ação, mas a impressão que fica é que muito mais poderia ser desenvolvido. E o mesmo ocorre quando os protagonistas encontram um navio pirata e até mesmo no final, quando um segredo é revelado.

Apesar deste roteiro pouco criativo, a qualidade da animação em si é alta, não deixando muito a dever para os colegas norte-americanos da Pixar, Disney ou Dreamworks, por exemplo. As sequências na neve (que permeiam boa parte da produção) são extremamente bonitas e cheias de detalhes gráficos que são acentuados com o efeito 3D (que pode não aparecer muito em efeitos que saltem da tela, mas é acentuado na profundidade de campo). A história, bastante modificada em relação ao original, especialmente em sua conclusão, também pode soar clichê, mas entrega uma bela mensagem de amizade e esperança para crianças em formação, o que até pode emocionar alguns adultos um pouco mais durões.

A dica para prestigiar O Reino Gelado é não ir com muita expectativa e deixar se envolver com a trama, por mais caricata que ela possa parecer. Sem falar que é sempre interessante saber que o mundo das animações não é só feito de Disney e afins, por melhores que suas produções possam ser. Há espaço para todos neste mercado tão concorrido que tem como público-alvo a infância. O filme fez sucesso (ou melhor, ainda faz, pois continua em cartaz) na Rússia, onde já arrecadou mais que seu orçamento (de sete milhões de dólares). Pode não parecer muito, mas o lucro deve aumentar em outros países, como o próprio Brasil, ainda mais no fim das férias escolares. As crianças, pelo menos, não tem preconceito com qualquer tipo de diversidade e estão pouco se lixando para a lógica de mercado. Ainda bem.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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