Crítica


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Sinopse

Bárbara e Luiz, ambos com cerca de 20 anos de idade, decidem partir juntos para a casa de um amigo, procurando refúgio emocional. Uma vez lá, um lugar que vive cheio por causa de festas extravagantes, os dois finalmente externalizam todos os seus anseios e desejos reprimidos.

Crítica

Os primeiros minutos de O Que Resta prezam por uma atmosfera enigmática, apresentando uma sequência noturna na qual um homem e uma mulher caminham pelo gramado de uma ampla casa de campo até avistarem um terceiro personagem, que se encontra desacordado à beira da piscina. A dupla, então, carrega o homem até o interior da casa e o acomodam na cama de um dos quartos. A mulher, após limpar os pés descalços sujos de terra do elemento desmaiado, sai para fumar já com o dia clareando. O filme toma seu tempo, acompanhando tudo em detalhes e de modo silencioso, sem expor a identidade desses personagens ou a dinâmica de suas relações, até o corte para o que se supõe ser a manhã seguinte – tendo em vista a mesa de café em desordem – quando outros hóspedes do local já se encontram aproveitando o sol e as águas da piscina limpa.

A partir daí, a narrativa fragmentada e não linear impressa pela diretora Fernanda Teixeira vai se tornando mais clara, revelando quem são os integrantes do trio protagonista: o casal Bárbara (Renata Guida) e Luiz (Guilherme Dellorto), o homem desacordado, e Yuri (Higor Campagnaro), amigo de longa data dos dois e dono da propriedade serrana que serve de cenário único ao longa, onde se realizam festas de forma quase ininterrupta, regadas a sexo, álcool e outras drogas. Entre os diversos convidados que passam pelo ambiente, alguns se apresentam constantes, como Patrícia, vivida por Bruna Linzmeyer, mas é mesmo a tríade inicial que sustenta a trama, com o relacionamento de nove anos aparentemente sólido de Bárbara e Luiz ganhando o foco principal. Tal relação, contudo, se mostra desgastada e frágil, assim como o próprio estado emocional dos personagens que lutam com suas inseguranças e frustrações, como o medo acerca do futuro e arrependimentos relacionados ao passado.

É essa a realidade explorada por Teixeira – que realiza aqui sua estreia na direção de longas – a dos jovens adultos que se consideram ainda novos para terem um destino completamente definido ao mesmo tempo em que se enxergam velhos demais para um recomeço do zero, como Luiz deixa claro no diálogo com um dos convidados ao falar sobre seu projeto musical. Contestado sobre querer “começar do topo”, este retruca “Tá aí o problema, eu não estou começando. Eu não sou amador”.  Tanto esses conflitos internos quanto os interpessoais acabam sendo amplificados dentro do isolamento gerado pela ambientação reduzida, praticamente sem interferência da realidade externa. Algo que surge não apenas como uma escolha narrativa, mas também como uma adequação aos recursos limitados da produção. Após o início silencioso descrito anteriormente, os diálogos passam a ganhar espaço, dividindo-o com a representação da linguagem pelos corpos que Teixeira faz questão de destacar.

Pelo sexo, os personagens encontram um meio de expressão mais intenso, uma via de libertação para desejos e sentimentos reprimidos. Neste ponto, a experiência prévia da cineasta como montadora se mostra valiosa, propiciando um registro desenvolto de tais cenas, com a câmera sempre em movimento, passeando por entre os personagens e indo de encontro aos corpos, transmitindo uma aura natural – ao menos na maior parte do tempo. A entrega e despudor dos atores nas longas tomadas, com poucos cortes, também contribuem para essa sensação de realismo. Porém, se no aspecto da fisicalidade o registro se apresenta convincente, quando se volta à expressão verbal, o resultado é bem mais irregular. Uma falha que termina sendo crucial, afinal, em uma narrativa propositalmente composta de fragmentos de situações e que não ambiciona ser definitiva em relação ao destino dos personagens, é fundamental que estes momentos escolhidos tenham peso e garantam o interesse isoladamente.

E isto nem sempre ocorre com O Que Resta, ora por conta de diálogos excessivamente impostados e pretensiosos, que se distanciam do naturalismo das cenas de sexo, ora com diálogos por demais banais, que pouco acrescentam à construção dos personagens e arcos dramáticos – assim como basicamente todas as figuras secundárias sem relevância concreta. Assim, muitas das situações e questões abordadas se sentem superficiais, sem substância para ressoarem no âmbito individual – para cada personagem – ou em seu aspecto potencialmente universal, gerando um efeito efêmero que resulta menos duradouro do que o efeito das ressacas pós-festa enfrentadas por Bárbara, Luiz e Yuri.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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