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Sinopse

Nathalie era uma mãe de família com dois filhos e professora de filosofia realizada, até que toda a sua vida começa a ruir. Ela é traída pelo marido, demitida do emprego e perde a mãe. Sozinha aos 55 anos de idade, ela precisa lidar com o abandono e todos os seus conflitos.

Crítica

Em determinado momento de O Que Está Por Vir, novo longa de Mia Hansen-Love, Nathalie (Isabelle Huppert) declara calmamente que “uma mulher de mais de 40 anos só serve para o lixo”, referindo-se à própria idade. A frase faz parte de um diálogo sobre relacionamentos amorosos, mas soa também como uma alfinetada na indústria cinematográfica. Afinal, em Hollywood são frequentes as histórias de mulheres que começam a desaparecer das telas quando chegam a certa idade, ou de produções que julgam algumas atrizes “velhas demais” para formar par romântico com atores da mesma idade ou até mais velhos que elas.

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Se o cinema norte-americano ainda tem um longo caminho pela frente no aspecto do protagonismo feminino, há uma deficiência ainda maior de filmes focados em mulheres que já passam dos quarenta, cinquenta ou sessenta anos, como se essas pessoas não fizessem bons personagens ou não tivessem histórias interessantes para contar. Vale notar que, neste ano, três produções que derrubaram completamente essa ideia receberam grande destaque e nenhuma delas veio dos Estados Unidos. São filmes premiados, aclamados pela crítica e que apareceram em diversas listas de melhores do ano: um brasileiro (Aquarius, de Kleber Mendonça Filho) e dois franceses, Elle (de Paul Verhoeven, também com Huppert) e este O Que Está Por Vir.

Além de fortalecer a representatividade feminina de diversas faixas etárias, a idade da protagonista tem, neste filme, um papel determinante na narrativa. Inspirada na mãe da diretora e roteirista, a personagem Nathalie é uma professora de filosofia que enfrenta uma série de desafios, como o fim de seu casamento de 25 anos com o também professor Heinz (André Marcon) e o peso de se tornar responsável pela mãe (Edith Scob), que exige atenção e cuidado constantes. Hansen-Love se debruça sobre um período de transição raramente retratado no cinema; Nathalie já passou pelas dificuldades de amadurecer, tornar-se adulta, escolher uma carreira, casar, tornar-se mãe, criar os filhos, realizar-se profissionalmente. Quando a audiência é apresentada à protagonista, ela parece estável em praticamente todas as esferas da vida. É o colapso de muitas destas esferas – algo que, é importante pontuar, não é necessariamente ruim – que garante a caminhada da mulher rumo a mais uma etapa de aprendizado e autoconhecimento.

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A história de Nathalie é marcada pela sutileza, fugindo completamente de grandes momentos intensos e dramáticos. Nas mãos de uma atriz medíocre, a personagem poderia parecer apática frente a tantas rupturas em sua vida e não inspirar muita simpatia. É preciso uma profissional do calibre de Huppert, uma das mais extraordinárias atrizes em atividade, para que o papel realmente funcione numa narrativa tão simples; se a audiência sente cada impacto no cotidiano da mulher, é graças à sua brilhante interpretação. Capaz de inspirar admiração e demonstrar vulnerabilidade com incrível facilidade, a performance de Huppert é o que garante o investimento emocional da audiência e faz de Nathalie uma figura tão interessante de se acompanhar.

Admirável por se manter focado na trajetória emocional e no cotidiano de sua personagem principal, ao invés de contar sua história em função deste ou aquele relacionamento, O Que Está Por Vir oferece um olhar extremamente empático sobre a própria narrativa. Ao retratar uma mulher que sai de um casamento e não parece preocupada em encontrar um novo amor, que encara com tranquilidade as mudanças no campo profissional e que se despe lentamente de suas obrigações como mãe e como filha, Hansen-Love reforça a mensagem de que a mulher não precisa se deixar definir por sua idade, profissão (embora o trabalho pareça ser o maior amor de Nathalie), seu papel no casamento e na família. As rupturas que o roteiro traz nunca são mostradas como derrotas, apenas partes naturais da vida, ferramentas que o filme usa para construir a personagem.

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Em uma obra que olha tão carinhosamente para sua protagonista, somos facilmente levados a compartilhar o mesmo carinho. É difícil conter um sorriso quando a história chega a seu simples desfecho, no que é, provavelmente, a cena mais bela de toda a projeção. Resta, ao espectador, torcer para que Nathalie siga com serenidade, curtindo cada novo momento de sua recém-conquistada independência, sem medo do que está por vir.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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