Crítica


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Sinopse

A enfermeira Lily é contratada para cuidar de uma senhora de idade que é conhecida por ser uma das principais referências entre os autores de obras de terror. O que a jovem não poderia imaginar é que a casa esconde inúmeros segredos e que ela talvez nunca consiga escapar do pesadelo que se iniciou ao dar o primeiro passo dentro deste local assombrado.

Crítica

Filmes como O Último Capítulo, segundo esforço de Osgood “Oz” Perkins enquanto diretor, são normalmente caracterizados pelo termo slow burn, utilizado com o intuito de designar obras que não demonstram pressa alguma para desenvolver suas tramas. Elas funcionam como se o realizador estivesse cozinhando tudo em fogo baixo, de maneira que a tensão se instala lentamente até a história atingir seu clímax. Embora Perkins já tenha demonstrado habilidade nesse tipo de narrativa em seu longa de estreia, The Blackcoat’s Daughter (2015), aqui há certo exagero nesse estilo de direção, o que resulta num longa mantido morno do início ao fim.

Essa condução vagarosa da narrativa, porém, não chega a ser um ponto negativo, por mais que irrite o espectador que espera um filme de terror mais próximo do convencional. Uma vez que se compreende a proposta extremamente minimalista de Perkins – o que vale tanto para o enredo quanto para a produção, que conta com uma única locação e apenas quatro personagens –, há muito a se apreciar nesta pequena obra e no cuidado com o qual cada elemento é construído. A simples trama acompanha Lily (Ruth Wilson, particularmente excelente), enfermeira que se muda para uma casa antiga e isolada para cuidar de Iris, escritora idosa (Paula Prentiss). Famosa por suas histórias de terror, Iris insiste em chamar Lily pelo nome da protagonista de um de seus romances – o livro The Lady in the Walls, que termina com a heroína Polly (Lucy Boynton) sendo brutalmente assassinada.

Pouco acontece neste longa, mas quase tudo remete à literatura; não por acidente, a trama gira em torno de um romance. A narração onisciente de Lily, que posteriormente espelha a prosa de Iris, a ambientação e a temática lembram os romances góticos da era vitoriana, histórias de fantasmas como as de Henry James. Lily, ironicamente incapaz de ler os livros de sua paciente por se assustar muito facilmente, aproxima-se cada vez mais da personagem literária. Aos poucos, realidade e ficção se fundem, algo que Perkins demonstra em belas e longas sequências que trazem Polly e Lily como figuras visualmente indistinguíveis.

É curioso que este não seja o longa de estreia de Perkins, já que The Blackcoat’s Daughter parece refinar as ideias vistas aqui, trazendo o equilíbrio entre estilo e substância que tanto falta a O Último Capítulo. É admirável, porém, que o diretor tenha conseguido estabelecer suas marcas autorais tão consistentemente em apenas dois filmes: a atmosfera de tensão, os belos e estranhos enquadramentos, a trilha sonora sinistra assinada pelo irmão Elvis Perkins e os elencos compostos quase inteiramente de mulheres. A obra de Osgood Perkins pode não agradar a todos os tipos de público, mas sua segurança e originalidade são inegáveis. Apesar dessas qualidades, o lento desenrolar dos eventos e a ausência de uma conclusão satisfatória podem ser extremamente frustrantes à audiência. Existem muitos conceitos promissores sob a superfície da narrativa circular de O Último Capítulo; é uma pena que o longa encontre, porém, certa dificuldade para convidar o espectador a mergulhar nessa triste e curiosa história

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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