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Sinopse

Um agente temporal encara sua última missão após anos de viagens no tempo caçando criminosos e executando a lei. O desafio final será finalmente capturar seu inimigo mais desafiador, o homem que há muito o intriga e ludibria.

Crítica

Há filmes que desafiam o intelecto do espectador, outros que tencionam o seu emocional, e existem exemplares como O Predestinado, que testam os limites do nosso bom senso. A boa notícia é que no caso desta ficção científica estrelada por Ethan Hawke, o esforço que fazemos para comprar a sua premissa e reviravoltas acaba sendo recompensado.

Parte desse sentimento de gratificação, aliás, vem justamente da arriscada estrutura do longa-metragem, que além de lidar com um conceito fantasioso, ainda ousa começar in media res (no meio de um plot já iniciado), sem quaisquer explicações sobre o que estamos vendo. A partir daí, o projeto nos submete a uma montagem aparentemente confusa, que também não faz muita questão de se fazer entender. Somente isso já seria o suficiente para causar a antipatia daqueles do lado de cá da tela. Mas os irmãos Michael e Peter Spierig, diretores e roteiristas do filme, apostam que essa mistura perigosa não soara estranha e ininteligível, mas sim intrigante o suficiente para manter a atenção do público até que algo comece a fazer sentido: e se provam corretos.

Por lidar com viagens no tempo, e ser contado da perspectiva do seu protagonista, que não vive a própria vida de forma linear, é difícil entregar uma sinopse de O Predestinado sem adiantar alguns spoilers. Então basta dizer que aqui conhecemos o agente temporal vivido por Ethan Hawke, que está tentando impedir um terrorista, viajante do tempo como ele, de realizar seus ataques, que sempre resultam em milhares de vítimas.

Entretanto, durante uma boa parte de sua primeira metade, o filme se concentra em um diálogo entre Hawke e a figura vivida por... Bom, dizer quem vive esse outro personagem já seria denunciar uma parte da trama. Acontece que esse “interlúdio” é desenhado pelos diálogos ácidos dos irmãos Spierig, que ainda conferem uma atmosfera de luzes laterais ao bar onde ele se ambienta, invocando um tom noir caprichoso que condiz não só com os arquétipos que estamos acompanhando (pessoas melancólicas com passados turbulentos), mas também com o assunto que discutem: grandes conspirações corporativas, tramas intrincadas envolvendo o governo, assassinatos misteriosos e toda a sorte de elementos dignos do gênero.

Portanto, quando a trama resolve realmente começar a deslanchar, um novo ritmo é empregado pela dupla de diretores, e isso, estranhamente, não destoa do primeiro ato. Principalmente porque essa curva de aceleração da narrativa vem acompanhada de revelações que colocam o espectador para trabalhar, pois aqui começamos a fazer as ligações entre os elementos apresentados no começo do filme que, antes confusos, agora surgem como peças claras de um quebra-cabeça. E não se engane, é proposital que o longa nos permita chegar à conclusão dos plot twists antes que eles sejam descortinados em tela, já que, nesse caso, descobrir as reviravoltas junto com os personagens tiraria parte importante do impacto de acompanhar o choque dos mesmos.

E como toda boa ficção científica, O Predestinado também usa de um conceito fantasioso para discutir algo muito mais real e humano. Aqui é a relação que estabelecemos com a nossa própria história e... uma pena que, para debulhar mais seus temas, seria preciso estragar boa parte de suas surpresas que, apetitosas ou não ao paladar cinéfilo alheio, devem ser consideradas, no mínimo, curiosas. Por fim (ou, devo dizer, pra início de conversa? Com um filme como esse, começo e fim são a mesma coisa), é bom acrescentar que Ethan Hawke e... a pessoa que contracena com ele por boa parte do filme, carregam muito da responsabilidade de vender o projeto nas costas, e é a seriedade com que vivem figuras improváveis que garante a nossa suspensão de descrença nas suas aventuras. Pois, em última análise, o longa não desafia especialmente o intelecto de ninguém, nem tenciona grandes emoções, mas com certeza testa a boa vontade – e passa.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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