Crítica

Um filme que busca uma narrativa documental com câmeras amadoras – na mão, tremida, operada pelos atores – já não é mais novidade para ninguém. Exemplos, quer bons ou ruins, não faltam. Por isso é inevitável uma predisposição ao repúdio quando um projeto desses nos é apresentando. Afinal, a experiência infelizmente prova que a maioria dos casos não passa de um subterfúgio para disfarçar problemas com orçamento ou uma simples deficiência criativa. Compreendendo isso, chegamos a Perseguição Virtual, primeiro filme em língua inglesa de Nacho Vigalondo, que – como o título original sugere – usa das janelas do computador e do celular para contar seu interessante suspense.

A história nos apresenta Jill – interpretada pela conhecida estrela pornô Sasha Grey – uma jovem atriz que está vivendo o auge de sua fama ao protagonizar uma série de filmes de terror. Em contrapartida, no entanto, ela se encontra exausta de Hollywood e de suas desgastantes exigências; exemplificadas no caso de Nick (Elijah Wood), um jovem e ingênuo fã que coordena um site sobre a carreira dela. Depois de ter ganho um encontro com a musa em um concurso, Nick se vê perdido ao descobrir através de Chord (Neil Maskell), alguém que se diz agente publicitário dela, que seu jantar havia sido cancelado. Confuso e movido pela revolta de ser desprezado, Nick não percebe que está entrando em um jogo de manipulação guiado por Chord para raptar Jill.

Seguindo suas instruções, Nick vai acessando progressivamente dados sigilosos da celebridade. Primeiro são as câmeras que estão ao redor dela, depois as informações de seu computador e de seu celular. Assim, tudo que ela vê, ouve, fala e digita passa por ele. O que nos leva a acompanhar a maioria das sequências através de janelas que são abertas na tela de seu notebook, nos apresentando um uso diferenciado dessa técnica. As imagens não perdem qualidade e o clima causado pela possibilidade de presenciarmos virtualmente e simultaneamente tanto as ações de Jill, quanto as reações de Nick e as orientações de Chord são divertidamente angustiantes. O clima de Big Brother contribui para que, mesmo que os personagens não sejam aprofundados como poderiam – apesar de que percebemos que a superficialidade é intencional; primeiro porque remete aos reality shows, e segundo porque se torna um importante veículo condutor da trama – acabamos nos importando com eles. É um dos trunfos do espanhol Vigalondo: ele inova e faz com que dê certo esse clima documental proposto pelos mais variados tipos de câmeras pelas quais a narrativa passa.

O primeiro ato se desenvolve surpreendentemente bem, arrebatando a atenção do expectador. A dupla de protagonistas traduz assertivamente as distintas realidades a qual pertencem. É importante frisar que Grey realmente impressiona. Obviamente, a personagem não lhe exigiu demais, porém é interessante vê-la construindo algo que vai além de uma vítima que corre e grita por socorro. Wood, com seu rosto de menino, também não encontra dificuldade para nos apresentar o garoto retraído que idolatra uma estrela de Hollywood. Entretanto, os problemas começam no segundo ato – ilustrado por uma sonolenta perseguição de carros – e culminam no terça final da trama, que bagunça todas as ideias tão bem aplicadas e alicerçadas no início do filme. “What the hell is this?!”, com uma sobrancelha erguida, é a reação mais provável que o público terá.

Perseguição Virtual tem falhas. É entediante durante alguns brevíssimos momentos. Contudo, é importante ressaltar, ele diverte. Se a proposta é experimentar, Vigalondo se sai bem. Visualmente, ao menos. O filme é atraente e competente. O que degringola tudo é o roteiro. Só um dos pilares do cinema. Mas tudo bem. Afinal, a intenção é nos convencer que aquilo é um reality show. Ou seja: um emaranhado de emoções vazias.

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Eduardo Dorneles é estudante de letras, amante de cinema, literatura, HQs e mantém um blog de crônicas e contos (edorneles.blogspot.com) .
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