Crítica
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Sinopse
Tancredo Neves está em seus últimos dias da vida. O primeiro presidente civil, eleito pelo colégio eleitoral no Congresso Nacional, depois da Ditadura Civil-Militar, experimenta momentos de agonia. Toda a expectativa da população brasileira recai sobre o avanço da doença do político, que depois de 39 dias de internação, acaba morrendo no dia 21 de abril de 1985, sem chegar a ser empossado.
Crítica
A realidade frequentemente atravessa a constituição ficcional de O Paciente: O Caso Tancredo Neves, a começar pela narração encarregada do contexto. A comoção da eleição indireta de quem deveria guiar o país ao processo de redemocratização é vital, remontada verbalmente com o peso dos fatos históricos. Após anos de ditadura civil-militar, a condução de Tancredo Neves à presidência era de suma relevância, algo que a nação ansiava sobremaneira. Partindo dessa exposição ancorada em imagens de arquivo, o cineasta Sérgio Rezende pretende delinear um painel suficientemente consistente para que as complicações médicas do escolhido como um verdadeiro salvador da pátria sejam percebidas em seu genuíno grau de urgência. Todavia, falta ao diretor imprimir nas cenas essa "eletricidade" oriunda do convulsionado painel político-social de então, especialmente após a internação da Excelência às vésperas da tão esperada cerimônia de posse. O primeiro traço sobressalente é a teimosia da figura interpretada com valentia pelo enorme Othon Bastos.
Buscando transferir à imagem essa tensão, o realizador utiliza a câmera na mão, mesmo em instantes de aparente serenidade. O recurso por vezes soa apenas como uma tentativa de desestabilização que não passa necessariamente pela frouxa dramaturgia. Rapidamente, O Paciente: O Caso Tancredo Neves, baseado no livro homônimo de Luis Mir, se torna uma espécie de thriller médico, com a ação se deslocando da relutância do protagonista em fazer os devidos exames e, posteriormente, de submeter-se à cirurgia que poderia salvar-lhe a vida, à sucessão de trapalhadas dos profissionais que deveriam zelar pela saúde do homem mais importante do Brasil naquele momento. Porém, o longa-metragem carece de um tônus significativo no desenho desses sujeitos, cujas motivações são exploradas superficialmente. O Dr. Pinheiro Rocha (Leonardo Medeiros) surge inicialmente como um profissional sério. De relance, e gratuitamente, expressa seu medo de operar o presidente, sem que isso ganhe a devida atenção.
A teia de vaidades estabelecida na interação dos médicos é evidente, pois reforçada por diálogos expositivos. Em O Paciente: O Caso Tancredo Neves, falta uma construção narrativa que sustente a briga de nervos que tampouco dá conta de refletir o cenário externo, as relações intestinais entre o que acontecia na sala de cirurgia e as mancomunações políticas se desenrolando a poucos metros dali. Coadjuvantes como Aécio Neves (Lucas Drummond) servem somente para estabelecer uma ponte com o presente, pois suas presenças acabam sendo meramente ilustrativas. Aliás, o neto de Tancredo fica relegado ao espaço de “papagaio de pirata”, no mais das vezes visto ao fundo das decisões tomadas em primeiro plano. Ocasionalmente, o filme ensaia guiar-se pelo drama do então porta-voz da presidência, Antônio Britto (Emílio Dantas), exposto publicamente pelas confusões dos bastidores, mas retorna às discordâncias repetitivas dos profissionais de saúde envolvidos.
O Paciente: O Caso Tancredo Neves não se decide diante dos diversos pontos de vista, oscilando demasiadamente, o que acaba por enfraquecer boa parte de suas esferas. Circunstancialmente, o trabalho de veteranos como Othon Bastos e Esther Góes, a intérprete da primeira-dama, Risoleta Neves, equilibram as coisas. A entrada em cena de Paulo Betti, como o Dr. Pinotti, além de robustecer as intrigas, também trata de oferecer novas tintas ao filme. Porém, a dificuldade para entremear os meandros daquela situação caótica, íntima e publicamente falando, mina as possibilidades de um êxito. Sérgio Rezende ainda incorre na criação de cenas que beiram o piegas, como o choro da imprensa com o anúncio da morte do estadista, passando longe de colocar o chamado Quarto Poder como partícipe dessa dança das cadeiras dos poderosos, demonstrando ingenuidade ou falta de disposição para mergulhar profundamente. A persistência de Tancredo, antes vista como pirraça, vira algo grandioso, confirmando a tendência desta produção à mitificação do protagonista.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Thomas Boeira | 6 |
Bianca Zasso | 5 |
Chico Fireman | 5 |
Robledo Milani | 4 |
MÉDIA | 4.8 |
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