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Sinopse

Três jovens criam um plano aparentemente perfeito para assaltar casas. Quando escolhem o último alvo, um senhor cego e milionário, o jogo vira e se veem obrigados a lutar pela própria sobrevivência diante de um homem determinado a se vingar daqueles que o ameaçaram.

Crítica

Desde a virada do século, criou-se uma fórmula fácil de ser seguida por cineastas consagrados que, entre um projeto mais importante e outro, dedicam algum tempo e conhecimento para a produção rápida e barata de novos títulos de terror, que são consumidos com avidez pelos aficionados do gênero. Michael Bay e Sam Raimi estão os mais influentes praticantes dessa tendência. E se O Homem nas Trevas é mais um resultado do fruto destes passos, porém aqui seu resultado está somado ao entusiasmo do jovem realizador uruguaio Fede Alvarez. Apadrinhado por Raimi, Alvarez primeiro chamou atenção ao cuidar da refilmagem de A Morte do Demônio (2013), produto que agradou poucos e não deixou muitas consequências. Dessa vez, no entanto, com maior liberdade, ele mostrou que talvez tenha mais a dizer do que apenas reciclar o óbvio tão comum a este universo.

Ainda que dono de alguns absurdos, O Homem nas Trevas é um filme competente no básico: prender a atenção do espectador do início ao fim da trama. A cena inicial, por exemplo, já é marcante: no meio de uma rua deserta, cercada por casas abandonadas, um homem carrega pelos cabelos uma jovem cheia de marcas de agressões e machucados, deixando impresso no asfalto um rastro de sangue e dor. Como é de praxe em casos assim, trata-se do clímax do enredo. Portanto, volta-se alguns dias, para onde supõe-se ter sido o início de tudo. Três amigos ganham a vida assaltando casas. O esquema é seguro: um deles é filho do segurança que possui a chave de todas as residências, e os crimes são cometidos quando é certo que não haverá ninguém por perto. Sem a anuência paterna, ele surrupia o acesso aos locais, e em entradas ligeiras buscam por dinheiro, joias e equipamentos eletrônicos, tudo que possa render um lucro imediato.

Mas a situação muda quando ouvem falar de um velho cego que mora sozinho em um subúrbio afastado da cidade. A filha única dele fora vítima de um acidente de trânsito, e o acordo nos tribunais teria lhe garantido um retorno financeiro bastante significativo. Parece, portanto, a oportunidade perfeita: um homem indefeso, cheio da grana, em uma casa que oferece pouca resistência. E para lá os três partem em uma noite como qualquer outra. Só não contavam com o que encontrariam. E não estamos falando de um feroz cão de guarda (que é derrubado facilmente com alguns tranquilizantes) ou de trancas reforçadas (afinal, nada que um desarmador de alarmes não consiga lidar). Os segredos guardados pelo dono do lugar, uma pessoa acostumada com a escuridão da ausência de visão e com os demais sentidos aguçados, logo deixarão claro aos invasores que sair dali será muito mais difícil do que entrar.

Alvarez primeiro chamou atenção ao postar em sua conta no Youtube o curta Ataque de Pânico (2009), que em apenas cinco minutos mostrava uma invasão alienígena comandada por robôs gigantes em Montevidéu. A repercussão foi tamanha que cerca de um mês depois ele já estava em Hollywood envolvido em diferentes projetos. O Homem nas Trevas, no entanto, é um roteiro original, escrito pelo próprio diretor com seu parceiro habitual Rodo Sayagues. E se os dois são hábeis em construir situações de medo e angústia em ambientes enclausurados – o imóvel invadido é, certamente, muito maior por dentro do que por fora, gerando a sensação de ser quase uma realidade paralela – por outro escorregam em escatologias e tentativas de se aprofundar em recursos melodramáticos, como as motivações do senhor cego para possuir tal estrutura ou o histórico familiar problemático da menina. E quando uma seringa cheia de esperma humano entra em cena, fica difícil defender todo o resto.

Se Dylan Minnette, Jane Levy (do citado A Morte do Demônio, 2013) e Daniel Zovatto (Corrente do Mal, 2014) conseguem imprimir nos tipos que defendem personalidade suficiente para cativar o interesse do espectador – mesmo sendo eles os contraventores, ao menos num primeiro instante – o show mesmo é do veterano Stephen Lang, que aqui tem seu melhor momento desde Avatar (2009). Com quase pouquíssimos diálogos – acredita-se que ele tenha tido pouco mais do que trinta falas em todo o filme – e entrando na trama quase na metade da história, mesmo assim ele é dono absoluto da ação, indo de vítima a algoz em questão de segundos, manipulando com perfeito domínio a reação da audiência, contra ou a favor dos seus atos. O Homem nas Trevas vai direto ao ponto e quase não perde tempo com passagens paralelas – seu problema é justamente que essas, mesmo menores, conseguem distrair com clichês desnecessários e recursos ultrapassados. Como já se disse antes, menos é mais, e o excesso aqui está em justamente não se contentar com o pouco que dispõe para oferecer.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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