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Sinopse
Desde pequeno, Bobby Fischer demonstrou dom para o xadrez. Quando adulto, insatisfeito por não ter adversários à altura, ele aceita o desafio de um enxadrista russo para uma partida televisionada em pleno auge da Guerra Fria.
Crítica
O roteirista Steven Zaillian se tornou conhecido mundialmente no ano de 1993 ao ganhar o Oscar por A Lista de Schindler. O que pouca gente lembra é que, alguns meses antes, ele havia estreado como realizador com o drama Lances Inocentes (1993), cujo título original é Searching for Bobby Fischer – ou seja, algo como Procurando por Bobby Fischer, em tradução literal. O tal Bobby Fischer, no entanto, por mais incrível que fosse sua descrição, estava longe de ser um personagem fictício – sua história, na verdade, servia de inspiração para o garoto interpretado por Max Pomeranc, que aos poucos revelava ser um prodígio no xadrez. Mas se ali ele servia como exemplo, foram necessárias mais de duas décadas até que o próprio Bobby Fischer ganhasse uma cinebiografia à altura do seu talento. E essa chega agora sob o nome de O Dono do Jogo, um thriller interessante, porém tão errático quanto o homenageado.
Filho de judeus europeus imigrantes na América, Bobby Fischer (Tobey Maguire) ainda muito cedo começou a demostrar uma aptidão acima da média para o jogo de xadrez. Sem nunca ter conhecido o pai e criado sob a orientação comunista da mãe, Bobby foi se fechando cada vez mais no próprio mundo, abrindo espaço somente para o exercício lógico do tabuleiro. A questão toda é que ele não era apenas bom – era o melhor. Só que toda a destreza que revelava contra seus oponentes também encontrava contrapartida em sua mente instável e em emoções à flor da pele. Constantemente irritado, suspeitava de tudo e todos que dele se aproximassem. Logo começou a desenvolver teorias conspiratórias a respeito dos mais insignificantes elementos, e a incerteza que passava àqueles ao seu redor era tamanha que somente a ciência de sua genialidade poderia garantir a paciência suficiente para aturá-lo.
E genial ele era, de fato. Tanto que, pela primeira vez na história, um norte-americano ousou desafiar os russos, tradicionalmente campeões mundiais na prática. Boris Spassky (Liev Schreiber) era o homem a ser desafiado, a ser vencido e derrotado. Uma vitória americana não seria apenas uma conquista individual de Fischer, mas também algo a ser comemorado dentro do cenário da Guerra Fria – estávamos em plenos anos 1960, é importante ressaltar. O advogado nacionalista Paul Marshall (Michael Stuhlbarg, de há pouco foi visto em outras duas cinebiografias, Steve Jobs, 2015, e Trumbo: Lista Negra, 2015) decide cuidar dele como se tomasse conta de uma criança mimada, tendo ao seu lado apenas o apoio do padre Lombardy (Peter Sarsgaard), um dos melhores amigos de Fischer. Juntos, eles enfrentarão demandas absurdas, exigências de última hora e variações de humor insuportáveis. Ao mesmo tempo, assistirão de camarote Bobby Fischer se tornar uma celebridade internacional, representando forças muito maiores que ele próprio.
Tobey Maguire começou a carreira muito cedo, ainda adolescente, e aos poucos revelou um criterioso processo de escolha, trabalhando sob o comando de nomes como Ang Lee e Woody Allen. Porém, a partir do momento em que aceitou ser o herói Homem-Aranha (2002), sua carreira parece ter se estagnado. Sem ter participado de nada de muito destaque desde então e atuando muito mais como produtor (títulos como A 5° Onda, 2016, e Rock of Ages, 2012, foram investimentos dele), ele revela aqui uma intensidade rara, mostrando que o que lhe faltam mesmo são oportunidades. Diante de um tipo tão controverso e problemático quanto esse, ele parece mergulhar fundo e sem reservas, oferecendo o melhor – e o pior – de si na construção de alguém capaz tanto de admiração quanto de pena.
Outro fato que chama atenção em O Nome do Jogo é a assinatura de Edward Zwick. Vencedor do Oscar pela produção de Shakespeare Apaixonado (1998) e diretor de épicos grandiosos como O Último Samurai (2003) e Um Ato de Liberdade (2008), ele aqui exerce um olhar mais íntimo, oferecendo uma proximidade que na vida real pouca gente pode desfrutar. Bobby Fischer foi um jogador de xadrez que possuía mais fãs que ídolos de rock, que fazia as coisas a seu modo, fugia de confrontos e superava os piores desafios. Foi condenado à prisão, ficou por muitos anos recluso e morreu como uma das maiores incógnitas do século XX. Um vislumbre dessa trajetória em um dos momentos mais marcantes de sua história – o duelo contra Spassky – aqui nos é oferecido, em um filme eficiente em sua proposta, mas que não por isso deixa de falar sobre um jogo que muita gente não entende a partir de um nome desconhecido pela grande maioria hoje em dia. Ou seja, tem sua cota de curiosidade, ainda que na maior parte do tempo se mantenha tão distante da audiência quanto o personagem aqui ilustrado.
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