Crítica
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Sinopse
Madeleine é uma atriz jovem, pobre e sem talento que vive na França dos anos 1930. Acusada de assassinar um famoso produtor, ela é defendida por sua melhor amiga, uma advogada fracassada. Depois disso, o sucesso aparece.
Crítica
Um dos cineastas franceses célebres e prolíficos de sua geração, François Ozon elegeu a farsa como linguagem para construir o seu mais recente filme. Livremente baseado na peça Mon Crime, de Georges Berr e Louis Verneuil, o longa-metragem é a terceira adaptação aos cinemas desse material teatral, sendo as primeiras Confissão de Mulher (1937) e A Mentirosa (1946). Portanto, o realizador prossegue com o seu cinema de referência, precisamente com a releitura de obras referenciais – como havia feito em Frantz (2016) e Peter Von Kant (2022). A postura de cineasta-cinéfilo se materializa dessa vez de duas formas distintas, mas ainda assim complementares: 1) por meio da utilização da estética de filme mudo para ilustrar as várias versões de um crime misterioso; 2) pela reverência a screwball comedy, as chamadas comédias malucas repletas de diálogos ligeiros e absurdos, característica da Era de Ouro de Hollywood. As protagonistas dessa trama ambientada na França dos anos 1930 são Madeleine (Nadia Tereszkiewicz) e Pauline (Rebecca Marder), duas pobretonas pressionadas pela cobrança do senhorio que não aguenta as suas desculpas para justificar cinco meses de aluguel atrasado. Madeleine é uma atriz em busca de oportunidades, mesma situação de Pauline no campo da advocacia. Um produtor de teatro é assassinado e mentir parece ser mais lucrativo para ambas.
A farsa de O Crime é Meu se revela na natureza caricatural dos personagens, bem como em certos aspectos fundamentais da mise en scène encarregados de acentuar o ridículo das situações e, por consequência, o das pessoas que formam a sociedade burlesca ancorada em conveniências. Madeleine é acusada de ter matado o produtor teatral. Por sua vez, ela alega inicialmente inocência e anuncia ter sido vítima de agressão sexual pelo agora defunto. Contrariando quaisquer expectativas, as amigas enxergam na situação uma possibilidade insensata de sair do lamaçal. Afinal de contas, se Madeleine assumir o assassinato terá a publicidade que as estrelas precisam para alavancar as suas carreiras, enquanto Pauline ganhará um caso no qual trabalhar, igualmente sob os holofotes da opinião pública. Em meio a esse plano despirocado, François Ozon não está preocupado em definir verdades e mentiras, mas em tirar um retrato grotesco e risível dessa coletividade que contém diversas figuras traiçoeiras. E um dos gestos mais eloquentes do cineasta para reutilizar a mitologia do cinema como elemento narrativo é mostrar os flashbacks como pequenos filmetes mudos. Assim, numa tacada só, ele questiona o flashback – se todas as versões são vistas, então o flashback perde a sua força de “verdade” – e brinca com o passado ao lhe atribuir feição cinematográfica, vide a tela quadrada e o preto e branco.
François Ozon se mantém fiel à ironia nessa farsa alimentada por extravagâncias. Os figurinos são bonitos, as ambientações propícias para esse tipo de escracho, mas o filme escorrega na manutenção da energia caótica que precisa ter como um princípio em sua alusão às screwball comedys. E esse deslize se deve sobretudo ao desenvolvimento pálido das protagonistas, principalmente o da advogada rapidamente transformada em coadjuvante de luxo, apenas ganhando algum tipo de relevância novamente nas breves cenas do julgamento em que evoca um feminismo revolucionário como argumento jurídico. Nadia Tereszkiewicz e Rebecca Marder funcionam bem em seus papeis, mas há uma significativa disparidade entre elas e os membros mais experientes do elenco. Tanto que o filme ganha energia e vivacidade quando Isabelle Huppert aparece interpretando a diva esquecida do cinema mudo que reivindica a autoria do crime depois da notoriedade que este rendeu à colega. Tanto que em termos de screwball comedy, o ápice da produção é a cena em que ela procura o delegado vivido por Fabrice Luchini para mudar os rumos da investigação. Ali temos dois atores tarimbados que executam magistralmente a mistura tresloucada de diálogos acelerados, movimentos/gestos esquisitos e situações descabidas para gerar o non sense. O comediante Dany Boon também pinta e borda.
Mesmo sendo uma grande brincadeira que atesta bem mais o amor de François Ozon pelo cinema da Era de Ouro de Hollywood do que qualquer vontade de radiografar acidamente as hipocrisias de uma sociedade pequeno-burguesa, O Crime é Meu tem alguns apontamentos interessantes que valem a pena ser destacados. O primeiro deles a relatividade da verdade, especificamente o quão descartável é a sua importância se a mentira for benéfica a todo mundo. A real assassina não deseja preservar uma moralidade com a apresentação dos fatos, está apenas invejosa da atenção recebida pela jovem celebrada publicamente como heroína. O delegado, o juiz, Madeleine, Pauline, o noivo alérgico a trabalho e até o futuro sogro da jovem atriz (vivido pelo grande André Dussollier), nenhum deles se beneficiaria com a verdade. Então, surge o pacto “natural” para a lenda continuar impressa. Ozon não encara essa conjuntura com amargor ou melancolia, a isso preferindo uma perspectiva irônica a fim de estampar o caráter insensato dessa sociedade. Mesmo mantendo a pegada cômica, ele poderia ter elaborado um pouco melhor a noção cáustica da mentira conveniente, bem como a comparação entre as versões dos acontecimentos que são mostradas como filmetes de menos de um minuto. No entanto, o resultado é positivo, principalmente por alguns momentos de veneração à screwball comedy.
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Assisti ao filme de O crime é meu hoje com meu marido. Achei regular. O mais gostoso é ver nossos artistas franceses favoritos representado. Acho que houve uma falha muito grande, no entanto. No fim do filme aparecem manchetes de jornais com o "final feliz" dos atores e isso não foi legendado... Uma pena ... Pouca gente riu.