
Sinopse
Em O Contador 2, quando alguém é morto por assassinos desconhecidos, a agente do Tesouro Marybeth Medina é forçada a contatar Christian Wolff para solucionar o assassinato. Com a ajuda de seu irmão distante, mas altamente letal, Brax, Chris aplica sua mente brilhante e métodos nada legais para juntar as peças do quebra-cabeça. Ação/Crime.
Crítica
Da série “continuações que poucos pediram”, chega agora aos cinemas O Contador 2. O primeiro longa-metragem foi um sucesso de bilheteria? Moderado. Arrecadou pouco mais de US$ 150 milhões, tendo custado cerca de US$ 45 milhões. Rendeu o triplo. Foi celebrado pela crítica? Menos do que moderadamente, afinal de contas na nossa grade crítica O Contador (2016) tem média 5,5 – portanto, não “passaria de ano” se o limite entre bom e ruim fosse a nota seis. Mas, talvez o que explique o sinal verde para essa continuação das histórias do contador assassino seja a vontade de Ben Affleck de encontrar um personagem ao qual voltar quando as coisas em sua carreira estiverem em baixa. Isso é algo comum em Hollywood. Sempre que o resultado nas bilheterias não condizia com as qualidades de seus filmes, Clint Eastwood aceitava um dos frequentes convites para voltar a viver o Dirty Harry nas telonas. Sylvester Stallone é um dos raros exemplos de astros que têm dois desses portos-seguros: Rambo e Rocky Balboa. Toda vez que a carreira de Stallone parecia uma chama se apagando lentamente, lá foi ele socar adversários no ringue ou se embrenhar em matas como o exército de um homem só. No entanto, nesses dois casos os respectivos atores tinham galinhas dos ovos de ouro nas mãos, grandes êxitos comerciais que poderiam ser repetidos. Ao que parece, Ben Affleck e os produtores acreditaram que arrecadar três vezes o orçamento é suficiente para tentar começar uma saga.
O Contador 2 coloca em rota de colisão diversos personagens vistos na produção anterior. Por mais que não fique muito tempo em cena, o mentor vivido por J.K. Simmons é apresentado no centro de uma conspiração que envolve traficantes de pessoas, atravessadores de imigrantes ilegais e assassinos de aluguel. Antes que o protagonista apareça em cena, surge uma forte candidata a nova figura forte, a destemida e fria Anaïs (Daniella Pineda), assassina meticulosa que enfrenta sozinha um grupo numeroso de malfeitores e sai tranquilamente de um cenário de matança e sofrimento. Ele poderia se transformar na grande incógnita, no fantasma ameaçador capaz de fazer frente ao contador autista vivido por Ben Affleck. Aliás, quando essa coadjuvante sai ilesa e imponente em meio a tiroteios e ameaças, pode-se imaginar que o filme é uma típica passagem de bastão – a personagem é suficientemente forte para isso. No entanto, essa ideia contrastaria com a tese de que a produção existe para ser um porto-seguro para Affleck. De todo modo, ao longo da trama a importância dessa homicida letal e aparentemente sem sentimentos é muito menor do que parecia na sua introdução apoteótica. O roteiro assinado por Bill Dubuque quase a esconde na medida em que Chris passa a ser reintroduzido nesse universo. É inexplicável que o enredo não os faça coexistir, mesmo como ideias ora antagônicas, ora complementares.
Para um filme de espionagem e conspirações, O Contador 2 é excessivamente quadrado e esquemático. A começar pelo desenvolvimento do protagonista. Chris está procurando uma alma gêmea, pois se sente solitário. Sim, é isso. No entanto, esse estado de espírito nunca é verdadeiramente encarado como algo sério, aparecendo unicamente quando é preciso algum comentário engraçadinho a respeito da condição dele como autista de altíssimo desempenho. Já que tocamos no assunto da natureza neurotípica do personagem principal, é preciso dizer que, se no primeiro filme ela era a justificativa para a precisão de um assassino tão calculista quanto detalhista, dessa vez a condição serve para gerar os alívios cômicos. O cineasta Gavin O’Connor estimula as tiradas (supostamente) divertidas, as contradições constrangedoras, tentando com isso trazer alguma leveza a um filme que defende a utilização de métodos nada ortodoxos para se chegar à verdade – algo como “os fins justificam os meios”. Perceba que todos os instantes em que o longa chega perto de ser engraçado é porque o roteirista utiliza o autismo de Chris para gerar situações embaraçosas ou inusitadas. Desse modo, nem a exatidão dos métodos agressivos do contador capaz de desmobilizar uma quadrilha sozinho é valorizada como poderia. E isso é apenas a ponta do iceberg, o que está na nossa cara. Os problemas são vários.
Outro ponto que dá uma engessada a O Contador 2 é a função meramente utilitarista dos personagens. A funcionária federal desempenha é o superego, ou seja, aquela que aparece para criticar ética e moralmente os métodos de Chris – ela é O Grilo Falante do Pinóquio, a representante da voz do cineasta que diz “sei que o protagonista defende valores contraditórios”. Jon Bernthal é estritamente o irmão (antigo antagonista) que alerta Chris sobre a necessidade de relaxar e curtir um pouco a família. O sujeito é importante como soldado quando as coisas ficam feias? Com certeza, mas Gavin O’Connor não é capaz de criar uma sensação de que os irmãos estão tensos durante o combate porque podem perder seu ente mais querido. Além disso, lá no começo do terço final da produção, o roteirista lança mão de um artifício tão mirabolante como ineficaz para resolver, ao mesmo tempo, a identidade de Anaïs e desatar os nós da história envolvendo uma família de imigrantes separados pelos carteis de tráfico humano. Esse malabarismo parece uma trapaça quase infantil, semelhante àquelas revelações dos vilões nos desenhos do Scooby Doo ao puxar a máscara de alguém improvável que estava embaixo do nosso nariz. No fim das contas, o filme não funciona como acerto de contas familiar, nem como exemplar de ação (somente uma cena de tiroteio é empolgante) e tampouco como thriller social.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 4 |
Lucas Salgado | 5 |
MÉDIA | 4.5 |
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