Crítica

Realizado pouco antes de Nosferatu (1922), maior sucesso de F. W. Murnau, O Castelo Vogelöd já mostra sinais do brilhantismo que apareceria na obra do diretor posteriormente. O talento do cineasta para contar histórias visualmente, entretanto, custa a transparecer nesta obra, já que, para um filme mudo, ela se mostra excessivamente dependente do texto.

A trama acompanha um grupo de aristocratas reunidos no castelo titular, convidados pelo Lord von Vogelschrey (Arnold Korff) para participarem de caçadas na região. Quando Conde Oetsch (Lothar Mehnert), entretanto, aparece sem ser convidado, a situação se torna extremamente desagradável para o anfitrião, pois o visitante foi acusado de assassinar Peter, seu próprio irmão, embora não tenha sido condenado pelo crime. Para piorar a situação, a viúva e ex-cunhada dele, Baronesa Safferstätt (Olga Tschechowa) está prestes a chegar com seu novo marido (Paul Bildt) ao castelo, onde aguardará um padre romano para confessar seus pecados. Oetsch aproveita a situação para tentar provar sua inocência.

Mesmo sendo um mistério cheio de potencial, este filme peca principalmente pela fraca adaptação da obra de mesmo nome escrita por Rudolph Stratz, demonstrando certa dificuldade em traduzir o romance para as telas. A maior parte da narrativa se dá por meio de conversas entre os personagens, o que sacrifica a fluidez e o ritmo do desenvolvimento, já que as imagens são constantemente interrompidas por intertítulos com grandes blocos de texto; acompanhar a história se torna uma tarefa exaustiva quando a audiência é simplesmente informada sobre quase todos os eventos, em vez de testemunhá-los de fato. Talvez esta trama fosse mais eficiente num filme falado, já que o resultado final não sofreria com as constantes quebras das cartelas de texto. Ainda assim, é provável que os diálogos excessivos cansassem a audiência de maneira similar.

O Castelo Vogelöd funciona, porém, quando dá chance a Murnau de demonstrar sua habilidade de comunicar por meio da iluminação. Há belíssimas sequências que mostram o jogo de luz e sombra pelo qual o expressionista se tornou famoso, como uma cena (quase totalmente descolada do enredo principal) que mostra certo personagem tendo um pesadelo no castelo. Há, ainda, um onírico flashback da vida conjugal da Baronesa e do falecido Peter, que oferece as imagens mais belas de todo o filme tanto em relação à iluminação quanto à composição. Ao fim da curta sequência, a narrativa retorna ao sombrio castelo e a personagem parece outra pessoa, tamanho o efeito da atmosfera pesada do ambiente em suas feições em contraste com um passado feliz.

Vítima de uma adaptação inadequada, O Castelo Vogelöd pode até ser inferior às outras obras de Murnau, mas vale como um estudo da evolução do diretor. Além disso, traz um mistério divertido de se acompanhar (por mais que o formato não ajude) e, sendo fruto de uma época que oferecia recursos limitados ao cineasta, exibe vários exemplos de usos inteligentes das ferramentas disponíveis, como luz e sombra, posicionamento de câmera e tingimento da película.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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