Crítica


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Sinopse

A história dramática de um jovem advogado chamado Caspar Leinen, incumbido de fazer a defesa obrigatória num caso espetacular: há mais de 30 anos, o italiano Fabrizio Collini, que desde os anos 1970 trabalha aparentemente de forma honesta na Alemanha, mata o respeitado industrial Hans Meyer em sua suíte de hotel em Berlim.

Crítica

Não há dúvida quanto à responsabilidade de Fabrízio Colini (Franco Nero) no assassinato do respeitado empresário Hans Meyer (Manfred Zapatka). Embora sem ver inicialmente o ato, somos induzidos a construí-lo mentalmente pela montagem. Assim, o cineasta Marco Kreuzpaintner faz questão de apresentar a verdade ao espectador, não estabelecendo o seu filme sobre as bases da dúvida quanto ao tópico, ainda que guarde certas cartas na manga. No entanto, especialmente aos mais sensíveis a spoilers, algumas artes de divulgação de O Caso Collini podem soar como um balde de água fria nesse sentido, justamente por anteciparem a existência de algo essencial relacionado ao nazismo na trama, elemento que será devidamente investigado somente no terceiro quarto do longa-metragem. Além do jogo um tanto anêmico de revelações e crises pessoais fragilmente evocadas e desenvolvidas, a produção temática e narrativamente bastante semelhante a outras tantas centradas em casos debatidos nos tribunais não utiliza a contento essa dinâmica mostrar/esconder.

O protagonista de O Caso Collini é Caspar Leinen (Elyas M'Barek), advogado recém-formado incumbido de defender o sujeito calado que acabara de executar o membro proeminente da comunidade. Se trata de um personagem bem aferrado aos arquétipos, sobretudo no que tange à necessidade de escolher entre o dever e os vínculos afetivos. Mal sabia ele que a vítima era seu benfeitor da infância, homem que cumpriu uma função paterna substituta, proporcionando-lhe aquilo que seus pais não conseguiram. Potencialmente poderoso, o dilema instaurado, porém, é apresentado negligentemente, com os envolvidos verbalizando integralmente arestas, senões, angústias e os desdobramentos rumo aos caminhos extensamente transitados em realizações de cunho e tom parecidos. O réu empalidece à medida que o foco vai se definindo sobre o ímpeto idealista do defensor que vence aceleradamente as dúvidas, artificialmente se transformando num prodígio (ou assim revelando-se) repentinamente, quando um dado surge no horizonte como um forte ressignificador do crime.

A trajetória de Caspar é retilínea, uniforme e sem solavancos. Enquanto encaixa peças e vai compreendendo melhor a imagem geral do quebra-cabeça, cresce como profissional e indivíduo, ameaçando gerar um resultado inusitado nesse julgamento do culpado. Especialmente por centralizar um percurso íntimo tão supostamente intrincado, O Caso Collini fica aquém das expectativas ao se contentar com pouco, investindo mais em procedimentos explicativos do que em constatações teoricamente profundas. Os impasses vividos pelo protagonista são crescentemente destituídos de camadas, restritos à reafirmação da prevalência do correto frente aos ditames do amor e à disposição para contestar o antigo mentor, figura de autoridade (de certo modo, igualmente paterna). Mas, para que essas dinâmicas tivessem consistência, seria preciso que tais personagens imprescindíveis ganhassem musculatura dramática. O que se vê na tela são pessoas meramente ocupando espaços simbólicos, resistindo, contra-argumentando e rendendo com semelhante displicência. Isso sem contar as inclusões sem nexo, como a entregadora de pizza que logo se transforma numa aliada e tanto.

Há vários elementos desperdiçados ao longo de O Caso Collini. O fato de Casper ter ascendência turca num país de histórica hostilidade a estrangeiros, os entraves para ele ter êxito em sua missão humanista/jurídica e os resultados de revolver episódios nefastos da História dolorosa são mal articulados. Longe de um senso de complementariedade ou quiçá de convergência, a jornada do protagonista e as chagas da participação Alemã na Segunda Guerra Mundial são instâncias disputando os holofotes. O resultado é um amontoado de jargões de filmes de tribunal embalados com um véu trágico de reparação coletiva. Quanto ao elenco, o astro Franco Nero – um dos grandes nomes do spaghetti western, especialmente por ter vivido o pistoleiro Django – acaba restrito pelas características do papel monocórdico de poucas palavras. Já Elyas M'Barek faz o que pode com o personagem limitado à divisão entre a cruz e a caldeirinha, não dispondo de terrenos e subsídios para exibir nuances. O temas e a reflexão são importantíssimos. Uma pena não estarem num filme às suas alturas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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