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Sinopse

Theres e Kenneth, dois jovens que cantam nas ruas gregas para financiar suas férias, se conhecem e acabam se apaixonando perdidamente. Entretanto, acabam se separando porque precisam voltar para seus respectivos lares. Agora, trinta anos depois, eles se reconectam e algo adormecido desperta em seus corações.

Crítica

Há um rigor formal prontamente percebido em O Caminho dos Sonhos. O primeiro sintoma dele é a imagem quadrada, cujo aspecto está ali para sublinhar as crises que afetam os personagens, pois lhes reduz propositalmente o espaço de deslocamento e convivência. Os protagonistas são Kenneth (Thorbjörn Björnsson) e Theres (Miriam Jakob), jovens apaixonados que financiam suas férias cantando. Não são dados muitos subsídios para entendermos os contextos, sequer a fim de percebermos o que os liga. Aparentemente, estão vivendo um daqueles amores fugazes da mocidade, mas que, geralmente, deixam um rastro de saudosismo. A cineasta Angela Schanelec evidencia esse frescor por meio do despojamento, da valorização imagética de detalhes como a saia dela e o tênis que ele usa. Todavia, a emoção não é necessariamente um atributo sobressalente no filme, visto que as pessoas se comportam totalmente como se fossem autômatos atingidos por circunstâncias excruciantes.

Há um simbolismo bastante forte em O Caminho dos Sonhos, a começar pelo visto no discurso da moça ao largo do relacionamento central, cujo tema é a necessidade da Grécia definir-se dentro do bloco europeu. Levando em consideração que a trama se passa, nesse segmento, no fim dos anos 80, é então deflagrada uma instabilidade de longa data, que acabou culminando nos recentes episódios de recessão econômica que a República Helênica sofreu. Aliás, as perturbações, de todas as ordens, parecem condicionar o comportamento letárgico da gente envolvida, como se os seres não tivessem a capacidade de sobrepujar algo superior às suas forças. A realizadora demonstra coragem e arrojo na mesma medida, exatamente por construir uma narrativa abertamente hermética, que necessita do ímpeto investigativo do espectador para ressoar de alguma maneira. Planos longos e fixos, aliados à encenação propositalmente engessada, criam uma sensação de estagnação que nem sempre é alimentada por qualquer potência relativa ao fiapo de enredo.

A doença da mãe de Kenneth propicia a separação e ressalta outro traço peculiar do longa, exatamente a relação entre pais e filhos, constantemente mediada por um desconforto latente. Essa questão geracional é desenvolvida de diversas maneiras, numas vezes com foco bem definido, noutras sem grande significação. O Caminho dos Sonhos é uma produção difícil, exigente, que ocasionalmente se submete ao cartesianismo como forma de denotar singularidade e coesão narrativa, mas sem efetivamente produzir algo para além de uma impressão superficial de desconforto. Toda relação do rapaz com o pai praticamente cego, com ambos velando a mãe no leito de morte, é feita parcialmente de silêncios ensurdecedores, mas marcada por um conformismo incômodo. Angela Schanelec observa os personagens, sem dar-lhes espaço suficiente para expressão ou algo que o valha, se aferrando abertamente à construção cênica, sendo menos atenta ao componente humano.

Nessa ciranda transcorrida numa sociedade praticamente lobotomizada, cujo andamento se dá forçosamente através de uma premissa formal que sufoca o conteúdo ao invés de ampliá-lo, o protagonismo, no presente, de Ariane (Maren Eggert), atriz em crise matrimonial, sintomaticamente lidando com a filha – embora isso pouco acrescente à observação das dificuldades familiares antes desenhadas –, é meramente ilustrativo. Perde-se o contato com os enamorados de outrora, no intuito de tornar mais ampla a ideia de um colapso existencial advindo do desequilíbrio da coletividade. Isso cria dois momentos distintos, embora visual e sonoramente encarados com as mesmas ferramentas e contornos similares. O Caminho dos Sonhos tem qualidades, mas parcos momentos realmente impactantes, como a belíssima e simples cena do reencontro dos apaixonados, agora numa situação peculiar que, de fato, expõe o abismo social que os separa inapelavelmente. No entanto, pena a cineasta se deslumbrar tanto com seu modus operandi e asfixiar as emoções em prol do estilo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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Marcelo Müller
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Leonardo Ribeiro
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