Crítica


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Sinopse

Amigos se reencontram numa noite em que segredos, ressentimentos e mentiras vêm à tona.

Crítica

Teatro e cinema são artes irmãs. André Bazin já tecia teoria sobre a influência de um sobre o outro e o cineasta John Cassavetes levou os bastidores e o palco propriamente dito para a telona em Noite de Estreia (1977), um dos melhores filmes de sua carreira. O Coletivo Alumbramento, do Ceará, uniu-se ao Grupo Experimental Desvio, de Brasília, seguiu a linha destes criadores e pensadores e criou No Lugar Errado, longa-metragem dirigido por Pedro Diogenes, Guto Parente e os irmãos Luiz e Ricardo Pretti.

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Inspirado na peça Eutro, de Rodrigo Fischer, o filme tem seu foco no reencontro de quatro amigos, duas mulheres e dois homens, depois de uma temporada distantes. Logo na cena inicial, percebemos que estamos diante de um palco, mas os diálogos nos convidam a entrar no apartamento de Fred, que dorme no tapete cercado por garrafas de whisky e energético. O espectador não vislumbra a coxia ou a plateia, mas fica nítido que estamos diante de uma encenação teatral. No entanto, o cinema surge e inicia-se um jogo de pingue-pongue: a bolinha vai uma hora para o lado do teatro, outra para o lado da Sétima Arte. Isso porque os enquadramentos variam dos planos abertos e imóveis, típicos dos primeiros anos do cinema, onde as produções eram literalmente encenadas diante das câmeras, e closes que revelam com mais nitidez os olhares e mínimos movimentos dos atores. É quase como se um cineasta invadisse o palco para tirar dali um frame.

A fotografia em preto e branco colabora para que nossa atenção não se disperse dos acontecimentos. Durante pouco mais de uma hora, convivemos com as inconstâncias dos quatro jovens. A tal festa de reencontro é uma desculpa para que eles revivam momentos de ternura e ódio quase na mesma proporção. Temos todas as etapas bem vívidas em No Lugar Errado: a chegada animada, repleta de sorrisos e demonstrações de saudade, o intervalo tedioso que alimenta antigas rusgas e um final com brigas e perdões. O grupo de atores consegue segurar suas interpretações, em especial quando são filmados de perto. Os gestos grandiosos, típicos do estilo teatral, ficam mais sutis. Um trabalho que não é fácil, já que a câmera demora mais do que devia sob seus rostos.

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No Lugar Errado cumpre sua função de registrar uma história criada em seu original para o teatro utilizando algumas técnicas típicas do cinema. É notável que, se não fosse realizada num palco, mas numa locação, seguindo o modelo tradicional de filme, perderia muito de seu charme e seria apenas mais uma produção sobre as agruras da juventude. A fotografia e os atores o fazem valer a pena, mesmo com diálogos repetitivos. No Lugar Errado, no palco ou na tela, merece ser visto, pensado e difundido. Pelo bem do nosso cinema.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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Grade crítica

CríticoNota
Bianca Zasso
7
Ailton Monteiro
6
MÉDIA
6.5

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