Crítica
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Sinopse
Em Nem Tudo é Negociável, o negociador de reféns Alan Bender é chamado para resgatar o presidente, que foi sequestrado. Mas acaba tendo que salvar a esposa e o próprio casamento.
Crítica
Um dos sucessos entre os lançamentos recentes da Netflix, Nem Tudo é Negociável é apontado como uma comédia, o que pode levar os interessados a pensarem numa sátira policial ou algo semelhante. Claro, tendo em vista que o protagonista é Alan (Mauricio Ochmann), brilhante negociador da polícia que está vendo o casamento desmoronar por conta da prioridade dada ao trabalho. Ele não hesita um segundo sequer diante das emergências com reféns, largando programas familiares se for preciso. Em meio a um turbilhão que pode levar ao divórcio, ele é sugado à conspiração que envolve o sequestro do presidente populista e corrupto do México. O cineasta Juan Taratuto bem que poderia fazer da incursão pelo mundo policial uma brincadeira com clichês e a própria tradição de homens da lei protagonizando filmes. Infelizmente não é o que acontece. O resultado está mais para uma história leve, xoxa, relativamente previsível e com pequenos toques de graça do que realmente para algo engraçado. Há algumas sacadas divertidas enquanto o cenário familiar é desenhado, por exemplo, a situação embaraçosa da criança pequena ouvindo a sessão de terapia na qual a paciente começa a discorrer sobre suas peripécias sexuais. Ou mesmo a forma como é comprovado que Alan não está querendo largar o trabalho: ao escolher um homem inapto para treinar, assim protelando o quanto pode essa sua retirada.
No entanto, Nem Tudo é Negociável parece inimigo da risada, pois consegue sabotar até mesmo esses momentos em que as ideias interessantes aparecem para definir as bases da comédia. Dito isso, então podemos observar o filme a partir do seu aspecto dramático, dos conflitos entre os personagens ou mesmo de acordo com os parâmetros do suspense, afinal de contas um presidente é sequestrado e pessoas caras ao protagonista são colocadas em perigo. Nem assim o filme faz mais do que contar uma história repleta de acontecimentos pouco interessantes. Os problemas matrimoniais de Alan e Victoria (Tato Alexander) são apresentados repentinamente e tratados de maneira superficial. Não há um cuidado da direção para dar o devido valor à indignação da mulher casada com o homem que leva para o âmbito pessoal os vícios da profissão. Ao sinal de qualquer turbulência doméstica, Alan começa a utilizar as táticas de negociação que marcam a sua atuação profissional, o que deixa a esposa absolutamente indignada. Porém, Juan Taratuto abandona rápido o que isso poderia gerar comicamente, nem bem garantindo que seja relevante do ponto de vista emocional, muito menos para produzir algum divertimento. Como suspense, o longa-metragem também deixa bastante a desejar, uma vez que o diretor não enfatiza a tensão intrínseca ao sequestro do estadista pelo desconhecido.
Há um clichê que aparentemente Juan Taratuto vai abraçar, mas abandonado pelo realizador no meio do caminho. São relativamente comuns no cinema os filmes que começam com esposas/ filhas insatisfeitas pela dedicação excessiva de maridos/pais ao trabalho. Nessas histórias, a prioridade masculina pela carreira causa rupturas ou as anuncia para breve. Mas, aí surge uma missão perigosa que acaba em final feliz somente porque esses sujeitos colocam em prática aquilo que as donzelas indefesas antes acreditavam ser um enorme empecilho. Isso acontece, por exemplo, nas sagas Duro de Matar e Um Tira da Pesada. Em Nem Tudo é Negociável, uma vez que Victoria é sequestrada com o líder do Executivo mexicano, portanto se transformando em vítima, a habilidade do marido como negociador será fundamental para salvar a sua pele. Mesmo que no fim das contas seja isso o que acontece, nem chega a ser relevante essa noção da salvação graças à continuidade da atividade responsabilizada pela desagregação familiar. Na medida em que a trama avança, o realizador abdica da dúvida e, assim, acaba sufocando qualquer elemento-surpresa, como ao revelar de modo banal e anticlimático a identidade do bandido que orquestrou o plano inteligente para fazer justiça social. Tanto que, mais à frente, esse “vilão” anuncia suas motivações de modo didático, desobrigando o espectador de pensar.
Nem Tudo é Negociável tem cara de produção feita para ser refilmada em outros países sem tanta necessidade de adaptação geográfica e cultural. Isso porque a trama não carrega qualquer traço especificamente local, quando muito brincando de leve com a figura do político populista e corrupto característico à noção defasada das “repúblicas das bananas” – termo pejorativo utilizado para designar nações, geralmente latino-americanas, instáveis politicamente e submissas a um país rico. A história do negociador que não consegue convencer a própria esposa, mas é um verdadeiro às no auxílio a situações policiais extremas, pode ser transportada praticamente a qualquer realidade com pouquíssimo esforço. Essa falta de identidade pode ser mais creditada a uma posição comercial, adequada aos nossos tempos de escassez de boas ideias, disfarçada de tentativa de realizar algo artisticamente universal. As brincadeiras com a conduta do governante torturado por um homem insatisfeito com sua atuação à frente da nação, bem como as maquinações da inteligência mexicana para garantir que tudo acabe bem, são esticadas até perderem completamente o interesse e a graça. Trata-se de um daqueles filmes que simplesmente passam diante dos olhos, sem qualquer predicado que faça da experiência de assisti-lo algo marcante. Outro sucesso do streaming que tende a ser esquecido rapidamente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Leonardo Ribeiro | 3 |
MÉDIA | 1.5 |
Uma produtos para quem estiver em um absoluto tédio tedioso.